Análise IEDI
Da crise à recuperação do emprego, segundo a Intensidade Tecnológica
No momento em que o emprego dá sinais positivos, em boa medida porque a indústria não só parou de demitir, mas já voltou a contratar, como mostraram hoje os dados da Pnad/IBGE, é útil avaliar o perfil da redução de postos de trabalho ao longo da crise recente. Identificar quais os setores segundo a intensidade tecnológica (de acordo com as quatro faixas identificadas pela OCDE: alta, média-alta, média-baixa e baixa) tiveram maiores reduções de efetivos e quais segmentos estão agora iniciando a recontratação é o objetivo central do estudo.
O trabalho utiliza duas bases de dados do Ministério do Trabalho e Emprego: a Relação Anual de Informações Sociais (RAIS), que registra o estoque de trabalhadores formais em 31/12 de cada ano, e o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (CAGED), que se refere ao fluxo de criação líquida de vagas dos trabalhadores formais regidos pelo regime CLT até o mês de setembro de 2017.
São levados em conta a evolução do número de postos formais de emprego, pois é este tipo de ocupação que prepondera na indústria. Como se sabe, o emprego com carteira é caracterizado por maior estabilidade, maiores salários e um fluxo de rendimentos mais regular, de modo a ampliar o acesso ao crédito. Com isso, o emprego formal tem muito a contribuir para transformar ganhos de rendimento real em consumo.
A seguir, alguns dos principais resultados obtidos pelo estudo:
• Entre 2013 e 2016, foram perdidos 2,88 milhões de postos de trabalho com carteira assinada em todo o país, segundo a RAIS. Só na indústria de transformação foram fechadas 1,14 milhão de vagas, o que fez o setor o maior responsável pelo recuo total da ocupação formal, com uma contribuição de 40%. As duas outras atividades com as maiores reduções no período foram: construção civil (-907 mil postos ou 31% das perdas totais) e administração pública (-514 mil ou 18% das perdas totais).
• Dentro da indústria de transformação, os setores de maior intensidade tecnológica foram aqueles que registraram maiores quedas. Isso não chega a ser surpreendente dado que foram estes mesmos setores que tiveram maiores recuos de volume de produção nos anos de crise. O declínio do contingente de empregados, segundo a RAIS, entre 2016 e 2013 chegou a 21,6% na faixa de alta tecnologia e a 20,6% no que média-alta tecnologia. Nos casos da média-baixa e baixa tecnologia as taxas foram de 17,8% e 9,6%, respectivamente.
• Em termos absolutos, isto é, em milhares de postos de trabalho formais, o ranking se inverte, dado que os setores de menor intensidade tecnológica são mais intensivos em mão de obra. Assim, os setores classificados como de baixa intensidade tecnológica reduziram 381 mil vagas entre 2013 e 2016, seguidos pelos de média-baixa (-333 mil), média-alta (-302 mil) e alta tecnologia (-85 mil).
• Em 2017, contudo, a indústria voltou a contratar. Segundo o Caged, no acumulado do ano entre janeiro e setembro, o saldo líquido de contratações na indústria de transformação foi de 76,4 mil pessoas. Metade desse aumento deveu-se a vagas geradas nos setores de baixa intensidade tecnológica. Já a faixa de média-baixa respondeu por 29% e a alta intensidade tecnológica, por 18%. No caso da média-alta tecnologia, foram criadas 2,5 mil vagas (3% do saldo total), em grande medida graças ao setor automobilístico (9,6 mil vagas). Outros setores de peso nesta faixa continuam desempregando, como máquinas, aparelhos e materiais elétricos e máquinas e equipamentos.
Caberia ainda ressaltar outra importante conclusão do estudo: são as empresas de menor porte (até 19 funcionários) que têm mostrado dinamismo maior no emprego em 2017. O grupo foi o último a desempregar quando a crise teve início e vem sendo o primeiro a reempregar diante da melhora do quadro geral da economia. E isso a despeito das dificuldades enfrentadas, notadamente no que diz respeito às suas condições de financiamento, ainda muito restritivas.
Nos doze meses encerrados em setembro de 2017, o grupo de empresas de menor porte foi o único a apresentar saldo positivo no emprego em todas as faixas de intensidade tecnológica com exceção da de média-baixa tecnologia. Todos os demais grupos por porte de estabelecimentos e de intensidade tecnológica apresentaram desempenho negativo nesta comparação.
Em suma, os setores de maior elasticidade-renda da demanda na indústria de transformação foram os que realizaram proporcionalmente maior ajuste em seu quadro de funcionários formais ao longo da crise. Os setores de baixa tecnologia, cuja demanda é menos elástica à variação da renda, funcionaram como um colchão amortecedor neste período, ainda que não tenham escapado de registrar redução do emprego (diferentemente do que havia ocorrido em 2009, quando a crise global atingiu o Brasil). Em 2017, a volta das contratações na indústria tem recibo fundamental contribuição das faixas de baixa e média-baixa intensidade tecnológica e, especialmente, dos estabelecimentos de menor porte.