Análise IEDI
Mudança de perfil na reação da massa de rendimentos
Os dados divulgados hoje pelo IBGE mostraram que pela sétima vez consecutiva a taxa de desocupação declinou, atingindo 12,2% no trimestre móvel findo em outubro de 2017. O patamar ainda é elevado e é mais alto do que seu correspondente de um ano antes (11,8%), porém bem menor do que os índices superiores a 13% que vigoraram até meados deste ano. O que é mais relevante nesse ponto é que o movimento está na direção correta.
Mas, além deste aspecto, o destaque indiscutível da pesquisa é a alta de 4,2% da massa de rendimentos reais frente ao trimestre findo em outubro de 2016. Como a massa de rendimentos é a base do consumo corrente da população, se este ritmo de crescimento se sustentar, tornam-se bastante favoráveis as perspectivas de uma reação do consumo das famílias, beneficiando não apenas o varejo e o setor de serviços, mas também todas as atividades voltadas para o mercado interno da indústria e da agricultura.
Não é de hoje que a massa de rendimentos vem apresentando variações positivas em termos reais. Deste o começo do ano tem sido assim, mas existem duas mudanças importantes no quadro. A primeira delas é justamente em relação ao patamar de crescimento. No trimestre móvel findo em fevereiro de 2017, o resultado positivo significava praticamente uma estabilidade: +0,7% ante mesmo período do ano anterior. Em outubro, como vimos, o dinamismo é seis vezes maior (+4,2%).
Talvez a principal mudança, contudo, foi a origem desse crescimento. No início, era apenas o rendimento real que puxava a massa, devido sobretudo à rápida desaceleração inflacionária. Cabe lembrar, que o rendimento real de todos os trabalhos habitualmente recebidos, que subiu 2,5% em outubro último, voltou ao azul já no último trimestre de 2016.
Mais recentemente, a expansão do número de ocupados passou também a contribuir para o avanço da massa de rendimentos. Em alta apenas na segunda metade do ano, a ocupação tem tido resultados cada vez melhores na comparação interanual, atingindo +1,8% no trimestre findo em outubro.
Este resultado significou um adicional de 1,6 milhão de pessoas com trabalho em relação a um ano atrás. Como temos notado em outras Análises, o perfil do emprego gerado nesse período não é dos melhores, já que está muito concentrado no trabalho sem carteira assinada (+615 mil) e principalmente no trabalho por conta própria (+1,2 milhão), onde estão contabilizados os chamados “bicos”.
Como mostram abaixo as variações interanuais em milhares de pessoas, o emprego com carteira assinada ainda não registra nenhuma reação, ainda que venha se contraindo menos do que nos períodos anteriores.
• Total de ocupados: +924 mil em jun-ago/17; +1,4 milhão em jul-set/17 e +1,6 milhão em ago-out/17;
• Trabalho com carteira assinada: -764 mil; -810 mil e -738 mil;
• Trabalho sem carteira assinada: +553 mil; +641 mil e +615 mil;
• Trabalho por conta própria: +611 mil; +1,0 milhão e +1,2 milhão, respectivamente.
Do ponto de vista setorial, a criação de empregos vem se disseminando desde o final do ano passado. No último trimestre de 2016, apenas 4 atividades registravam aumento do número de ocupados, sendo que em duas delas (transporte e armazenagem e alojamento e alimentação) nunca viram queda do emprego mesmo nos piores momentos da crise. Agora no trimestre findo em outubro de 2017, 7 das 10 atividades acompanhadas pelo IBGE acusaram expansão.
O destaque positivo coube ao setor de informação, comunicação, atividades financeiras, imobiliárias, profissionais e administrativas, cujo emprego aumentou 5,6% frente a ago-out/2016, implicando um adicional de 540 mil vagas. Outros resultados bastante favoráveis vieram de alojamento e alimentação (+10,4% ou +494 mil postos), comércio e reparação de veículos (+2,3% ou +392 mil postos) e outros serviços (+6,2% ou +269 mil postos).
O emprego industrial, que vem se recuperando desde o trimestre findo em junho de 2017, teve aumento de 2,5% frente a ago-out/2016, o que significou +290 mil vagas em relação a um ano atrás. A indústria que já foi um motor poderoso de destruição de emprego, contribui, agora, na criação de vagas.
À medida que a reativação do emprego industrial ganhe mais vigor é de se esperar que isso se reflita também na recuperação do trabalho de melhor qualidade, isto é, aquele com carteira assinada, dado que é este tipo de ocupação que caracteriza o emprego na indústria.
De acordo com dados da PNAD Contínua divulgados hoje pelo IBGE, a taxa de desocupação registrada no trimestre compreendido entre agosto e outubro foi de 12,2%. Tal taxa é 0,4 p.p. maior que a observada no mesmo trimestre do ano passado, de 11,8%.
O rendimento real médio de todos os trabalhos habitualmente recebidos foi de R$2.127,00, representando elevação de 2,5% frente ao mesmo trimestre de referência do ano anterior (R$2.076,00). Já a massa de rendimentos reais de todos os trabalhos habitualmente recebidos alcançou R$189,8 bilhões no trimestre encerrado em outubro, registrando alta de 4,2% frente ao mesmo trimestre do ano anterior (R$182,1 bilhões).
No trimestre de referência, a população ocupada foi de 91,5 milhões de pessoas, expansão de 1,6% na comparação com o mesmo trimestre do ano anterior. Ainda nessa última base de comparação, o número de pessoas dentro da força de trabalho teve aumento de 2,3%, atingindo 104,3 milhões, enquanto o número de desocupados se elevou 5,8%, chegando a 12,7 milhões de pessoas.
Frente ao mesmo trimestre do ano anterior, os grupamentos de atividades que apresentaram as maiores expansões da ocupação foram: alojamento e alimentação (10,4%), outros serviços (6,2%), informação, comunicação e atividades financeiras, imobiliárias, profissionais e administrativas (5,6%), indústria geral (2,5%), comércio, reparação de veículos automotores e motocicletas (2,3%). A categoria que registrou a mais expressiva retração foi agricultura, pecuária, produção florestal, pesca e aquicultura (-4,7%).