Análise IEDI
Crescimento disseminado na indústria por intensidade tecnológica
A indústria vem tentando, desde o início deste ano, engatar uma recuperação das perdas acumuladas nos últimos três anos (2014-2016). Este processo, porém, ainda é muito lento, como temos visto nas Análises do IEDI. Na primeira metade de 2017, o setor voltou a apresentar taxas positivas de crescimento, sobretudo devido ao seu ramo extrativista. A indústria de transformação, por sua vez, embora vinha registrando quedas menos intensas, só retornou ao azul no terceiro trimestre do ano.
Em relação a igual período do ano anterior, o resultado da indústria de transformação em julho-setembro de 2017 chegou a 3,1%. Em função desta alta, seu desempenho no acumulado dos nove meses do ano deixou de ser negativo, variando +0,9%. Esta Análise identifica os responsáveis por essa trajetória, agrupando os diferentes setores da indústria de transformação por faixas de intensidade tecnológica, segundo metodologia da OCDE.
No acumulado do ano até setembro, o dinamismo industrial se mostrou disseminado, atingindo três dos quatro grupos por intensidade tecnológica. O crescimento mais robusto coube à indústria de média-alta intensidade tecnológica (+4,1%), seguida pelas indústrias de alta (+1,7%) e baixa tecnologia (+1,3%). O único grupo a permanecer no vermelho foi o de média-baixa (-2,3%).
Ao que tudo indica, na recuperação industrial os últimos serão os primeiros. Isso porque as melhores performances em 2017 vêm daqueles setores que sofreram as maiores perdas ao longo da crise recente: alta e média-alta tecnologia. Os mercados desses grupos têm uma evolução muito dependente de expectativas em relação ao futuro e das condições de juros e financiamento da economia, pois reúnem setores produtores de bens de capital e de bens de consumo duráveis.
No desempenho do terceiro trimestre, como mostram as variações interanuais abaixo, o crescimento da indústria de transformação também foi acompanhado pela maioria dos grupos por intensidade tecnológica. A exceção continuou sendo a indústria de média-baixa tecnologia.
• Indústria de Transformação: -0,1% no 1ºT/2017; -0,5% no 2ºT/2017 e +3,1% no 3ºT/2017;
• Industria de Alta Tecnologia: +3,4%; +0,6% e +1,3%, respectivamente;
• Indústria de Média-Alta Tecnologia: +3,8%; +2,0% e +6,4%;
• Indústria de Média-Baixa Tecnologia: -4,1%; -2,5% e -0,5%;
• Indústria de Baixa Tecnologia: +0,1%; -0,6% e +4,0%.
Em termos dos setores que compõem os grupos por intensidade tecnológica, a disseminação do crescimento também melhorou no terceiro trimestre de 2017. O número daqueles com alta dobrou em relação ao último trimestre de 2016, passando de 5 para 10 dos 16 setores considerados. Este é um dado bastante favorável, muito embora seja importante reconhecer que o dinamismo industrial recente tem tido contribuição fundamental do setor automobilístico.
Justamente em função da maior produção de veículos, o grupo de média-alta tecnologia foi o que mais cresceu em julho-setembro de 2017 frente a igual período do ano passado. A alta chegou a 6,4%, alavancada pelo significativo avanço de 20,6% em veículos, reboques e semi-reboques. Em seguida, veio o setor de máquinas e equipamentos mecânicos (+3,8%). Em ambos, temos boas evoluções: no primeiro caso já são quatro trimestres consecutivos de crescimento e no segundo caso, três trimestres.
A média-alta só não teve um dinamismo maior porque o setor de máquinas e equipamentos elétricos – que congrega bens de capital para investimentos de maior porte, que seguem bloqueados – encontra dificuldades para se recuperar. A queda foi de 5,3% ante o 3ºT/2016. Produtos químicos, exceto farmacêuticos, por sua vez, ficaram virtualmente estagnados (-0,1%).
A indústria de baixa tecnologia foi a responsável pelo segundo melhor desempenho do terceiro trimestre (+4,0%). Ainda que tenha mantido o comportamento volátil dos últimos períodos, esta alta foi a mais intensa desde meados de 2013 e foi acompanhada por todos os setores que compõem o grupo.
Os destaques na baixa tecnologia ficaram por conta de alimentos, bedidas e tabaco (+4,4% ante 3ºT/2016) e outros manufaturados não classificados (+5,3%), que reúnem um conjunto diversificado de produtos. Vale notar também que têxteis, couros e calçados vem perdendo dinamismo desde o início de 2017, mas as variações continuam positivas (+2,4% ante 3ºT/2016).
Em crescimento, mas com um fôlego menor também é o padrão recente do grupo de alta intensidade tecnológica como um todo. Seu resultado, que havia chegado a +3,4% no 1ºT/2017, recuou para +1,3% no 3ºT/2017. Por sorte, isso se deve apenas a um de seus setores, à indústria farmacêutica, que não só não se recupera, como tem ampliado suas perdas. Agora em julho-setembro caiu 8,8%.
Todos os demais setores da alta tecnologia registraram crescimento e em patamares bastante expressivos, como convém enfatizar: equipamentos de rádio, TV e comunicação com +23,7% frente ao 3ºT/2016, material de escritório e informática com +17,0% e instrumentos médicos de ótica e de precisão com +14,6%. Em todos estes casos, já são pelo menos três trimestres de aumento da produção.
Por fim, a média-baixa se manteve em retração, mas ao que parece é possível que este quadro se reverta no futuro próximo. Isso porque o resultado trimestral vem caminhando progressivamente para a estabilidade, chegando a -0,5% ante 3ºT/2016. Esta é uma trajetória compartilhada por dois de seus setores que também apresentaram queda no terceiro trimestre de 2017: minerais não metálicos (-0,5%) e derivados de petróleo (-1,2%).
A exceção na média-baixa foram os produtos metálicos, que ensaiaram uma recuperação por dois trimestres seguidos (+0,8% no 1ºT/2017 e +2,4% no 2ºT/2017), mas sucumbiram novamente em julho-setembro (-1,1%). Em contrapartida, produtos de borracha e plástico vem crescendo ao longo de 2017, atingindo +3,7% no terceiro trimestre. Este foi o único componente com resultado positivo no grupo de média-baixa.