Análise IEDI
Comércio exterior e reação econômica
O Brasil vive uma fase ímpar em seu comércio exterior. Há muitos anos não víamos uma expansão substancial de nossas exportações alavancada tanto pelos setores primários como pela indústria de transformação como agora em 2017. Esta é uma evolução mais do que bem-vinda no momento em que a economia começa a reagir.
As exportações da indústria de transformação apresentam, desde o segundo trimestre de 2016, um desempenho positivo na comparação com o mesmo período do ano anterior. No terceiro trimestre de 2017 a alta foi de 9,4% (para US$ 12,6 bilhões). Isso porque nos dois trimestres anteriores tinham atingido +12,4% e +9,0%, respectivamente.
Com isso, a balança comercial industrial, que chegou a ser pesadamente deficitária, se mantém muito próxima do equilíbrio, como em julho-setembro de 2015 (déficit de apenas US$ 818 milhões). Em boa medida, esses resultados se devem ao maior dinamismo da economia mundial, sobretudo, em 2017 – que segundo as projeções do FMI (+3,6%) será o maior desde 2012 – e ao esforço anterior das empresas em contornar a crise doméstica. O fato de a taxa de câmbio real não ter continuado a se apreciar, como ocorreu em 2016, também foi de grande valia.
As exportações industriais têm sido puxadas principalmente pelo segmento de média-alta intensidade tecnológica, que cresce a taxas cada vez maiores desde início de 2016. Agora em 2017 chegou a +16,8% tanto no primeiro como no segundo trimestre, avançando para 23,3% em julho-setembro. Na origem desta evolução está notadamente o ramo de veículos (+29,2% ante 3ºT/16), mas também de produtos químicos exceto farmacêuticos (+15,3%) e máquinas e equipamentos mecânicos (+28,6%).
Na verdade, à exceção da indústria de alta tecnologia, cujo comportamento tem sido mais volátil em 2017 (-5,5% ante 3ºT/16), todas as demais faixas têm mostrado um bom dinamismo. Além da média-alta, que se destaca pela maior taxa de crescimento, também tem sido importante o resultado da indústria de baixa intensidade tecnológica, que representa mais de 40% das exportações de manufaturados. Neste caso, há registro de variações positivas nos três trimestres de 2017: +7,8%; +9,2% e +4,3%, em boa medida devido ao ramo de alimentos, bebidas e tabaco (+11,2%, +8,2% e +4,3%, respectivamente).
Quanto às vendas externas de produtos primários, a melhora do ambiente internacional veio acompanhado de uma retomada dos preços de commodities desde o ano passado. Aliado à supersafra agrícola do início de 2017, esse fator possibilitou a volta ao crescimento dessas exportações em 2017. O ritmo de crescimento é digno de nota: +47,7%; +25,0% e +28,3% em cada um dos trimestres do ano.
Vale observar que estes mesmos fatores a incentivar o desempenho exportador dos setores primários também afetam positivamente alguns ramos da indústria, sobretudo aqueles mais próximos do início das cadeias produtivas. É o caso de alimentos, produtos de metal, derivados de petróleo, entre outros.
No entanto, essa evolução das exportações não é o fato mais novo que pode estar indicando uma mudança de quadro da economia. Isso cabe à reação das importações, que vinham apresentando quedas ininterruptas e cada vez mais profundas desde o início de 2014. Em 2017, o total das importações volta a crescer, condicionado pelas compras externas da indústria de transformação: +13,2%, +2,4% e +9,0% em cada um dos trimestres do ano.
A evolução dos segmentos industriais de alta e média alta intensidade tecnológica são os que melhor podem revelar essa mudança de quadro, já que são mais marcadamente cíclicos, ao estarem sujeitos às alterações das expectativas em relação ao futuro, às condições de crédito e onde é possível postergar a demanda por certo período de tempo.
Desse modo, nas faixas de alta e média alta intensidade tecnológica, as importações em ascensão de ramos de bens de consumo duráveis, como material de escritório e informática, equipamentos de rádio, TV e comunicação, bem como de veículos automotores, podem estar refletindo uma reação do mercado doméstico em 2017, como inclusive também sugerem os dados do comércio varejista.
Abaixo seguem as variações interanuais em cada um dos três trimestres de 2017 para as importações dos ramos industriais de alta e média-alta intensidade tecnológica:
• Indústria de alta e média alta intensidade: +7,2% no 1ºT/17; -5,0% no 2ºT/17 e +5,9% no 3ºT/17;
• Material de escritório e informática: +18,1%; +24,3% e +41,4%, respectivamente;
• Equipamentos de rádio, TV e comunicação: +17,1%; +7,3% e +3,3%;
• Veículos automotores, reboques e semi-reboques: +12,2%; +7,6% e +11,5%;
• Máquinas e equipamentos elétricos: +16,5%; -7,6% e +3,7%;
• Máquinas e equipamentos mecânicos: -1,6%; -32,2% e +3,6%;
• Produtos químicos, exceto farmacêuticos: +13,4%; +7,2% e +13,2%, respectivamente.
Já o comportamento das importações de máquinas e equipamentos, tanto elétricos como mecânicos, abre a possibilidade de estar ocorrendo algum processo de desengavetamento de projetos de investimento. Dados os níveis muito elevados de capacidade ociosa, o que se pode esperar são apenas inversões pontuais e de menor monta, mais associadas à modernização, racionamento de custos ou adequações de outras naturezas de plantas produtivas.
No caso de máquinas e equipamentos mecânicos, o sinal positivo obtido no terceiro trimestre de 2017 ainda é muito recente para ser tomado como uma mudança de trajetória, mas não pode passar despercebido, já que por 14 trimestres seguidos essas importações só registraram declínio. No caso dos elétricos, por sua vez, alguma reação já despontava no final de 2016, tendo sido interrompida no segundo trimestre de 2017, mas retomada no trimestre seguinte. Ou seja, há alguma volatilidade, mas as altas predominam.
Outra evolução importante é a dos produtos químicos (exceto farmacêuticos), cujas importações apresentam um comportamento muito vinculado ao crescimento do PIB, por se tratar de um destacado ramo da indústria de bens intermediários. O crescimento das compras internas destes produtos tem sido persistente ao longo de 2017, marcando uma clara ruptura com a trajetória descendente vista em 2015 e 2016.