Análise IEDI
Um mês ruim também para o varejo
Não foi só a indústria que teve um resultado ruim em agosto, o comércio varejista também fechou o mês no vermelho. As vendas reais em seu conceito restrito caíram 0,5% frente a julho, descontados os efeitos sazonais e sucedeu um mês também muito fraco, já que em julho as vendas ficaram estáveis.
Deste modo, está claro que no início do segundo semestre de 2017 o varejo vem encontrando dificuldades de manter o padrão de crescimento que marcou o segundo trimestre do ano na série com ajuste sazonal. É possível que isso seja resultado do esgotamento dos efeitos positivos da liberação dos recursos do FGTS. A se ver se o declínio da inflação e redução dos juros dos empréstimos às famílias conseguirão continuar injetando ânimo no comércio.
Quando tomado em seu conceito ampliado, que inclui as vendas de automóveis, autopeças e materiais de construção, o quadro é um pouco melhor, pois as vendas não têm caído. Mas não estão tão bem assim, já que julho (+0,1%) e agosto (+0,1%) foram meses de virtual estabilidade.
Diferentemente da produção industrial, cujo declínio em agosto esteve relativamente concentrado em poucos ramos, o resultado negativo do varejo restrito foi bastante disseminado, atingindo sete dos oito segmentos pesquisados pelo IBGE. As vendas de automóveis e autopeças e materiais de construção cresceram no referido mês. Abaixo, seguem algumas das principais quedas frente a julho, com ajuste sazonal.
• Varejo Restrito: +0,8% em junho, 0% em julho e -0,5% em agosto;
• Supermercados, alimentos, bebidas e fumo: -0,3%, +0,7% e -0,3%, respectivamente;
• Artigos farmacêuticos, médicos e de perfumaria: +1,3%, -0,7% e -0,5%;
• Combustíveis e lubrificantes: +1,4%, -2,1% e -2,9%;
• Tecidos, vestuário e calçados: +5,8%, +0,1% e -3,4%
• Equip. de escritório, informática e comunicação: -2,4%, +3,8% e -6,7%, respectivamente.
Em certos casos, o declínio de agosto parece ser apenas mais um capítulo de uma história recente de acentuada volatilidade dos resultados com ajuste sazonal. É o que ocorre notadamente nas vendas de equipamentos de escritório, informática e comunicação, em que variações positivas e negativas se intercalam nos últimos meses. O mesmo se passa com supermercados, alimentos, bebidas e fumo, mas neste caso as variações são de menor amplitude, próximas de zero.
Em outros casos, porém, a retração foi reincidente. É o que ocorreu na maioria dos segmentos do varejo, como nas vendas de combustíveis e lubrificantes, de artigos farmacêuticos, médicos e perfumaria, de livros, jornais, revistas e papelaria e de outros artigos de uso pessoal e doméstico, que incluem as vendas de lojas de departamento. Em todos eles, tanto em julho como em agosto houve queda na série com ajuste.
Já as vendas reais de tecidos, vestuário e calçados podem ter passado por um movimento de acomodação, já que tinham crescido nos dois meses anteriores. Porém, a quase estabilidade de julho e a queda de agosto não configuram um desempenho muito animador.
Mas felizmente houve quem conseguisse ampliar vendas. Os melhores casos, não apenas pela alta em agosto, mas também por sua trajetória mês após mês e por seu desempenho no acumulado de 2017, foram móveis e eletrodomésticos (+1,7% ante jul/17) e materiais de construção (+1,8%).
Em ambos os casos, as vendas reais vêm crescendo sistematicamente desde maio último, tanto na série com ajuste como em comparação com o mesmo mês do ano anterior. Desse modo, os segmentos de móveis e eletrodomésticos já acumula reação de +8,0% em janeiro-agosto de 2017 ante igual período de 2016 e o de materiais de construção, de +6,5%.
Algo semelhante também marca a evolução de automóveis e autopeças. Ainda que em julho tenha havido um declínio de 0,7% nas vendas reais frente a junho com ajuste, agosto foi capaz de compensá-lo ao crescer 2,8%. Em relação a agosto de 2016, a alta chegou a 13,6%, contribuindo para que a retração no acumulado de 2017 (-0,8%) venha se reduzindo.
Um fator decisivo para os resultados mais favoráveis desses três segmentos tem sido a progressiva normalização das condições de crédito às famílias, com retorno das concessões reais e redução das taxas de empréstimo, associada com uma melhora relativa na confiança dos consumidores em 2017.
De acordo com dados de agosto de 2017 da Pesquisa Mensal do Comércio, divulgados hoje pelo IBGE, o índice de volume de vendas do comércio varejista no Brasil, a partir de dados dessazonalizados, recuou 0,5% em relação a julho. Na comparação com agosto do ano passado, houve aumento de 3,6%. No acumulado do ano e nos últimos 12 meses, os resultados foram de: 0,7% e -1,6%, respectivamente.
O volume de vendas do comércio varejista ampliado, que inclui vendas de veículos, motos, partes e peças e de materiais de construção, apresentou crescimento de 0,1% sobre julho, a partir de dados livres de influências sazonais. Na comparação com agosto de 2016, houve elevação de 7,6%. Já nos resultados do acumulado do ano e nos últimos 12 meses, as variações foram de 1,9% e -1,6%, respectivamente.
A partir de dados dessazonalizados, verificou-se queda em sete das oito atividades que compõem o varejo restrito na comparação frente ao mês imediatamente anterior, as variações são as seguintes: equipamentos e material para escritório, informática e comunicação (-6,7%); tecidos, vestuário e calçados (-3,4%); livros, jornais, revistas e papelaria (-3,1%); combustíveis e lubrificantes (-2,9%); artigos farmacêuticos, médicos, ortopédicos, de perfumaria e cosméticos (-0,5%); outros artigos de uso pessoal e doméstico (-0,4%); hipermercados, supermercados, produtos alimentícios, bebidas e fumo (-0,3%). A única oscilação positiva veio do setor de móveis e eletrodomésticos, com avanço de 1,7%. No comércio varejista ampliado, houve elevações de 2,8% em veículos, motos, partes e peças e de 1,8% em material de construção.
Em relação ao mês de agosto de 2016, com exceção de combustíveis e lubrificantes (-2,9%) e livros, jornais, revistas e papelaria (-4,4%), todos os demais itens que compõem o comércio varejista restrito apresentaram aumentos. As variações foram as seguintes: móveis e eletrodomésticos (16,5%), seguido por hipermercados, supermercados, produtos alimentícios, bebidas e fumo (1,7%), tecidos, vestuário e calçados (9,0%), artigos farmacêuticos, médicos, ortopédicos e de perfumaria (4,4%) e equipamentos e materiais para escritório, informática e comunicação (1,0%). No comércio varejista ampliado, houve incrementos de 12,6% em material de construção e 13,8% em veículos, motos partes e peças.
No acumulado do ano, foram observadas variações positivas em eletrodomésticos (8,6%), tecidos, vestuário e calçados (7,3%), outros artigos de uso pessoal e doméstico (0,6%), artigos farmacêuticos, médicos, ortopédicos e de perfumaria (0,2%). Os demais setores tiveram contrações, sendo as mais intensas em livros, livros, jornais, revistas e papelaria (-3,4%), combustíveis e lubrificantes (-3,1%), equipamentos e materiais para escritório, informática e comunicação (-0,4%), hipermercados, supermercados, produtos alimentícios, bebidas e fumo (-0,2%). No varejo ampliado, o segmento de veículos, motos, partes e peças teve retração de 0,9% e o de materiais de construção, expansão de 6,5%.
Em 12 meses, com exceção de móveis e eletrodomésticos (0,8%) e tecidos, vestuário e calçados (0,3%), todos os demais segmentos seguem com resultados negativos, com destaque para: livros, jornais, revistas e papelaria (-7,3%), combustíveis e lubrificantes (-4,8%), equipamentos e materiais para escritório, informática e comunicação (-2,8%), outros artigos de uso pessoal e doméstico (-1,7%), artigos farmacêuticos, médicos, ortopédicos e de perfumaria (-1,5%) e hipermercados, supermercados, produtos alimentícios, bebidas e fumo (-1,3%). No comércio varejista ampliado, as variações de material de construção e veículos, motos, partes e peças foram de -5,1% e 1,5%, respectivamente.
Houve elevação no volume de vendas no varejo em 21 unidades da federação pesquisadas em relação a agosto de 2016. As maiores foram observadas em Santa Catarina (16,4%); Acre (12,9%); e Rondônia (12,8%). As contrações de maior intensidade foram verificadas em Goiás (-8,1%), Paraíba (-7,8%), Distrito Federal (-4,0%) e Roraima (-3,9%).
Quanto ao varejo ampliado, na mesma base de comparação, 24 unidades federativas registraram aumento do volume comercializado, destacando-se Santa Catarina (18,9%), seguido por Rio Grande do Sul (17,0%); Amazonas (15,8%), Espírito Santo (15,8%).