Análise IEDI
Reação com percalços
A indústria voltou a apresentar recuo da produção em agosto último, interrompendo uma sequência de quatro resultados positivos consecutivos. A queda de 0,8% frente a julho, já descontados os efeitos sazonais, não é desprezível e mostra a fragilidade com que a recuperação da indústria ainda está sujeita. Resta saber se este será um recuo isolado, como parece ter sido o caso de março de 2017 (-1,6%) ou se será o início de um período de maior oscilação.
O resultado de agosto não muda, contudo, a tendência de melhora industrial, mas a ocorrência de idas e vindas significa a ausência de uma regularidade de altas e, mais importante ainda, a falta de um movimento de aceleração da produção que um quadro de indubitável recuperação industrial exige.
Acompanhando a indústria geral, dois de seus macrossetores também retornaram ao vermelho. Foi o caso notadamente de bens intermediários, cuja produção caiu 1,0% na série com ajuste, depois de quatro meses seguidos de variação positiva na série com ajuste. Este é um resultado de toda importância já que o dinamismo dos bens intermediários reflete o nível de atividade das relações interindustriais. Quando bens intermediários crescem é porque o sistema industrial como um todo está em operação.
Bens semi e não duráveis, condicionados pela queda acentuada (-5,5%) do setor de alimentos, também tiveram um mês de agosto fraco, implicando um recuo de 0,6% da produção frente a julho, já descontados os efeitos sazonais. As variações na margem abaixo mostram que esse macrossetor vem intercalando meses bons e ruins desde maio.
• Indústria geral: +1,2% em maio; +0,2% em junho; +0,7% em julho e -0,8% em agosto;
• Bens de capital: +4,1%; +1,7% +1,5% e +0,5%, respectivamente;
• Bens intermediários: +0,6%; +0,1%; +0,9% e -1,0%;
• Bens de consumo duráveis: +6,7%; -5,3%; +2,9% e +4,1%;
• Bens de consumo semi e não duráveis: +1,2%; 0%; +1,9% e -0,6%.
Bens de capital, por sua vez, conseguiram se manter no azul, com o que já são cinco meses de crescimento. Há, porém, uma tendência de desaceleração em sua trajetória desde o mês de maio. Agora em agosto a alta foi de apenas 0,5% frente a julho com ajuste, sob influência do recuo de 3,8% em máquinas e equipamentos.
Bens de consumo duráveis registraram a maior alta em agosto (+4,1%) na série com ajuste, depois de também ter tido crescimento em junho (+2,9%). A produção do setor de veículos (+6,2%), que vem conseguindo ampliar suas exportações, foi decisiva neste resultado.
A despeito dos percalços que apresenta, a trajetória da indústria em 2017 vem se distanciando, pouco a pouco, daquela de 2016. Ilustra bem o novo quadro o desempenho acumulado no ano até o mês de agosto. No caso da indústria geral, a alta de 1,5% é um avanço ante o declínio de 6,4% em 2016 como um todo.
Apresentam os melhores desempenhos no acumulado de 2017 os bens de consumo duráveis (+11,1%) e os bens de capital (+4,4%), que caíram muito no ano passado (-14,3% e -10,7%, respectivamente), seguidos por bens intermediários (+0,7% até ago/17 contra -6,3% em 2016) e semi e não duráveis (0% até ago/17 contra -3,2% em 2016).
Entretanto, em grande medida, essa diferença de desempenho entre 2017 e 2016 se deve a fatores de caráter excepcional, cujos efeitos positivos tendem a ser muito concentrados na primeira metade de 2017, fazendo com que sempre haja dúvida sobre a continuidade da reação industrial.
Dentre estes fatores, destaca-se a supersafra agrícola, que estimulou a produção de alguns bens industriais, como no caso de bens de capital agrícolas no início do ano, mas que agora vai perdendo força. Além disso, o bom desempenho das atividades primárias também foram favoráveis por outras razões: ajudou em muito o recuo da inflação, aumentando o poder de compra da população, e deu vida à economia de algumas localidades onde a agropecuária é importante.
Outros fatores de grande valia à produção industrial neste ano foram a liberação dos recursos do FGTS, que funcionou como uma injeção de gasto autônomo na economia, e a ampliação das exportações de manufaturados, muito embora esta esteja fortemente concentrada na cadeia automobilística, restringido sua capacidade de dinamização do parque industrial como um todo. É preciso agora que outros fatores venham substituir todos esses que tendem a se enfraquecer.
Segundo dados divulgados pelo IBGE, a produção industrial apontou variação negativa de 0,8% em agosto de 2017 frente ao mês imediatamente anterior (com ajuste sazonal). Na série sem ajuste sazonal, no confronto com igual mês do ano anterior, o total da indústria apontou avanço de 4,0%. Dessa forma, o setor industrial acumulou alta de 1,5% nos primeiros oito meses do ano. No acumulado dos últimos doze meses, a indústria brasileira assinalou recuo de 0,1%.
Categorias de Uso. Entre as categorias de uso, na comparação com o mês imediatamente anterior e já descontados os efeitos sazonais, bens intermediários (-1,0%) e bens de consumo semi e não-duráveis (-0,6%) apontaram as taxas negativas. Por outro lado, assinalaram expansão a produção de bens de consumo duráveis (4,1%) e a de bens de capital (0,5%).
No confronto com igual mês do ano anterior, bens de consumo duráveis (18,5%) e bens de capital (9,1%) registraram os avanços mais acentuados, seguidos por bens de consumo semi e não-duráveis (3,5%) e bens intermediários (2,0%). No segmento de bens de consumo duráveis (18,5%), os destaques ficaram para a produção de automóveis (33,3%), de eletrodomésticos da “linha marrom” (15,1%) e de móveis (6,5%). Em relação aos bens de capital (9,1%), o destaque foi o aumento da produção de bens de capital para equipamentos de transporte (19,8%).
No índice acumulado nos oito primeiros meses de 2017 frente ao mesmo período de 2015, bens de consumo duráveis (11,1%) e bens de capital (4,4%) apresentaram maior dinamismo, impulsionadas, em grande parte, pela ampliação na fabricação de automóveis (18,2%) e eletrodomésticos (10,1%), na primeira; e de bens de capital para equipamentos de transporte (4,1%), para uso misto (16,9%), para construção (30,0%) e agrícola (13,5%), na segunda. O segmento de bens intermediários aumentou 0,7%, enquanto bens de consumo semi e não-duráveis (0,0%) ficou estável.
Setores. Na passagem de julho para agosto houve recuo da atividade industrial em 8 dos 24 ramos pesquisados. Os destaques negativos ficaram por conta dos setores de produtos alimentícios (-5,5%), máquinas e equipamentos (-3,8%), de coque, produtos derivados do petróleo e biocombustíveis (-1,6%) e de indústrias extrativas (-1,1%). Entre os ramos que ampliaram a produção, podemos destacar: veículos automotores, reboques e carrocerias (6,2%) e perfumaria, sabões, produtos de limpeza e de higiene pessoal (5,5%), além de outros impactos positivos importantes foram observados nos setores de metalurgia (1,9%), de produtos do fumo (15,2%) e de produtos farmoquímicos e farmacêuticos (2,1%).
Na comparação com agosto de 2016, a alta da indústria foi determinada pelo avanço na produção de 20 dos 26 setores pesquisados. As maiores variações positivas foram observadas nos ramos produtores de veículos automotores, reboques e carrocerias (28,2%), produtos alimentícios (4,7%), equipamentos de informática, produtos eletrônicos e ópticos (22,1%), indústrias extrativas (2,6%), produtos do fumo (63,0%), produtos de borracha e de material plástico (4,9%), perfumaria, sabões, produtos de limpeza e de higiene pessoal (11,0%), produtos diversos (14,2%) e móveis (12,0%). Entre as atividades que registraram redução podemos destacar: coque, produtos derivados do petróleo e biocombustíveis (-3,7%), outros equipamentos de transporte (-14,3%), máquinas, aparelhos e materiais elétricos (-5,8%) e produtos farmoquímicos e farmacêuticos (-5,8%).
No índice acumulado para os oito meses de 2017, frente a igual período do ano anterior, o setor industrial mostrou alta de 1,5%. Os principais impactos positivos ocorreram nos ramos produtores de veículos automotores, reboques e carrocerias (13,9%) e indústrias extrativas (6,6%). Equipamentos de informática, produtos eletrônicos e ópticos (20,7%), de produtos do fumo (22,4%), de metalurgia (2,4%), de máquinas e equipamentos (2,7%) e de confecção de artigos do vestuário e acessórios (4,9%) também assinalaram crescimento de produção. Entre as onze atividades que apontaram redução na produção, a de coque, produtos derivados do petróleo e biocombustíveis (-6,6%) assinalou a maior contribuição negativa.