Análise IEDI
A indústria é determinante na melhora do emprego
A situação do emprego no país, depois de ter atingido seu pior momento no primeiro trimestre de 2017, vem dando sinais de melhora. Muito disso se deve ao emprego industrial, cuja dinâmica mudou nos últimos meses. De todo modo, como as boas notícias estão longe de contemplar todos os setores e todos os tipos de ocupação, é preciso reconhecer que os resultados ainda são preliminares e que há muito a avançar.
No trimestre móvel findo em agosto deste ano, a taxa de desocupação chegou a 12,6%, segundo os dados da Pnad divulgados hoje pelo IBGE. Este ainda é um patamar muito elevado, funcionando como uma pedra no caminho da recuperação econômica, mas traz um recuo frente ao patamar de jan-mar/17, quando bateu em 13,7%.
A população ocupada registrou elevação pelo segundo trimestre móvel consecutivo na comparação interanual: +1,0% em jun-ago/17, o que representou 924 mil postos de trabalho a mais relativamente ao mesmo trimestre do ano passado, ajudando a absorver pessoas sem emprego.
A progressão só não foi mais favorável porque, diante dos primeiros sinais de melhora no emprego, muitos daqueles que tinham caído no desalento voltaram a se apresentar no mercado de trabalho à procura de uma colocação. Assim, a população na força de trabalho subiu 2,0% frente a jun-ago/16, o que representa mais 2 milhões de pessoas em busca de emprego. Por essa razão, a despeito da alta da ocupação o número de desocupados continuou em elevação, embora em menor ritmo.
Os dados mostrados a seguir buscam traçar um panorama daqueles tipos de ocupação e setores que vêm contribuindo para um quadro menos adverso. Como veremos, nem todos conseguem ainda apresentar sinais positivos, mas há quem registre certa moderação em suas perdas. Abaixo, as variações interanuais em número de pessoas são ilustrativas desse cenário.
• Ocupação total: -562 mil em abr-jun/17; +190 mil em mai-jul/17 e +924 mil jun-ago/17;
• Ocupação sem carteira: +540 mil; +566 mil e +553 mil, respectivamente;
• Trabalhador por conta própria: -414 mil; -9 mil e +611 mil;
• Ocupação na Indústria: +94 mil; +270 mil e +365 mil;
• Ocupação no comércio: +7 mil; +93 mil e +219 mil, respectivamente.
Do ponto de vista do tipo de ocupação, o trabalho sem carteira vem absorvendo grande número de pessoas desde o início do ano. No último trimestre, jun-ago/17, frente ao mesmo período do ano anterior, foram 553 mil ocupados a mais, um desempenho que marca também os dois trimestres móveis anteriores. A categoria empregador também tem ajudado (+267 mil ante jun-ago/16), mas com certa perda de dinamismo.
Quem tem se destacado, por razões distintas, é o trabalho com carteira assinada, que continua desempregando, mas cada vez menos (-764 mil ante jun-ago/16), e trabalhador por conta própria, que tem mostrado uma reviravolta digna de registro em 2017. Neste último caso, a redução de ocupados que havia atingido 1,1 milhão de pessoas em jan-mar/17 foi revertida com a criação de 611 mil postos em jun-ago/17, ante igual período do ano passado. Dada sua rapidez, essa reversão ainda precisa se provar sustentável.
Já do ponto de vista setorial, uma mudança semelhante no emprego cabe à indústria. No primeiro trimestre de 2017, o setor cortava 342 mil vagas de trabalho frente a igual período do ano anterior, agora no trimestre findo em agosto passa a criar 365 mil vagas. É uma mudança da água para o vinho, sobretudo se lembrarmos que o tamanho da redução do emprego industrial em jun-ago/16 era de nada menos de 1,4 milhão na comparação anual. Este é mais um indício de que a reação da indústria dá mostra de ser um processo em andamento.
Além da indústria, o comércio também passou por uma mudança de direção importante em 2017: empregou +219 mil pessoas em jun-ago/17 ante igual trimestre de 2016 contra -233 mil ocupados em jan-mar/17. Agora positivos, indústria e comércio entram no rol de setores que absorvem mão de obra, com direito, inclusive, a uma trajetória de aceleração, ao lado de: alojamento e alimentação (+603 mil ocupados ante jun-ago/16), outros serviços (+359 mil), informação, comunicação, atividades financeiras e imobiliárias (+309 mil) e transporte e armazenagem (+174 mil).
Dois segmentos ainda jogam contra a recuperação do emprego: agropecuária, com corte de 626 mil ocupados frente a jun-ago/16, e construção, com variação de -353 mil ocupados na mesma comparação. Porém, ao menos para este último setor tem havido uma trajetória de arrefecimento das quedas já que no primeiro trimestre de 2017 o ritmo do corte de vagas era mais que o dobro (-719 mil ante jan-mar/16).
Com o número de ocupados voltando a crescer, o avanço da massa real de salários, que vem mantendo um ritmo razoável (+2,7% ante jun-ago/16), tem dependido menos da desaceleração da inflação que estava na origem do persistente crescimento do rendimento real (+1,9% ante jun-ago/16) a alavancar a massa na primeira metade de 2017.
De acordo com dados da PNAD Contínua divulgados hoje pelo IBGE, a taxa de desocupação no trimestre compreendido entre junho e agosto foi de 12,6%. Tal taxa é 0,8 p.p. maior que a observada no mesmo trimestre do ano passado, de 11,8%. Em relação ao trimestre móvel anterior sem sobreposição (março a maio de 2017), cuja taxa fora de 13,3%, o indicador recuou 0,7 p.p.
O rendimento real médio de todos os trabalhos habitualmente recebidos foi de R$2.105,00, representando redução de 0,5% frente ao trimestre anterior sem sobreposição (R$ 2.116,00) e elevação de 1,9% frente ao mesmo trimestre de referência do ano anterior (R$ 2.066,00). O rendimento real médio do trabalho principal habitualmente recebido chegou a R$2.044,00, queda de -0,3% frente ao trimestre anterior sem sobreposição e crescimento de 1,6% frente ao mesmo trimestre de 2016.
A massa de rendimentos reais de todos os trabalhos habitualmente recebidos alcançou R$ 186,7 bilhões no trimestre encerrado em agosto, registrando crescimento de 0,9% frente ao trimestre anterior sem sobreposição (R$184,1 bilhões) e alta de 2,7% frente ao mesmo trimestre do ano anterior (R$181,8 bilhões).
No trimestre de referência, a população ocupada foi de 91,1 milhões de pessoas, aumento de 1,5% na comparação com o trimestre anterior sem sobreposição. A variação sobre o mesmo trimestre do ano anterior foi de 1,0%. Nesta última base de comparação, o número de pessoas na força de trabalho teve aumento, frente ao mesmo período do ano anterior, de 2,0% atingindo 104,2 milhões, enquanto o número de desocupados, para a mesma comparação, se elevou 9,1%, chegando a 13,1 milhões de pessoas.
Frente ao mesmo trimestre do ano anterior, o número de pessoas ocupadas apresentou crescimento nas posições ocupadas: trabalho familiar auxiliar (8,1%), empregador (6,8%), trabalho privado sem carteira (5,4%), trabalho por conta própria (2,7%) e setor público (0,9%). Recuaram as posições de trabalho privado com carteira (-2,2%) e trabalho doméstico (-0,2%).
Na mesma base de comparação, houve expansão da ocupação nos grupamentos de atividades: alojamento e alimentação (13,2%), outros serviços (8,6%), transporte, armazenagem e correios (3,9%), indústria (3,2%), informação, comunicação e atividades financeiras, imobiliárias, profissionais e administrativas (3,2%) e comércio, reparação de veículos automotores e motocicletas (1,2%). Registraram retração as categorias: agricultura, pecuária, produção florestal, pesca e aquicultura (-6,8%), construção (-4,9%), administração pública, defesa, seguridade, educação, saúde humana e serviços sociais (-0,6%) e serviços domésticos (-0,6%).