Análise IEDI
Sinal positivo no crédito corporativo
Os dados sobre o crédito divulgados hoje pelo Banco Central mostram a interrupção, no mês de agosto, da prolongada e intensa contração do crédito às empresas, que, sem sombra de dúvida, tem sido um dos grandes responsáveis pela profundidade da crise econômica do país.
No mês passado, as concessões de crédito às pessoas jurídicas voltaram a registrar um resultado positivo, tanto em termos nominais como em termos reais, depois de 25 meses consecutivos de queda. Já descontada a inflação medida pelo IPCA, a alta foi de 2,6% frente ao mesmo mês do ano passado, devido exclusivamente às concessões livres, cuja variação chegou a +7,8%. No crédito direcionado – leia-se BNDES – a queda foi de nada menos que 33,8%.
Por ora, esse desempenho não significa o início da reversão de um quadro que pode ser qualificado de dramático. A escassez do crédito às empresas ao longo da crise foi tamanha que o estoque dessas operações recuou mais de 6 pontos percentuais do PIB entre dez/15 e ago/17. É como se tivéssemos regredido 8 anos, já que a relação crédito corporativo/PIB voltou ao nível de junho de 2009 (22,2%).
Mas a magnitude das perdas dos últimos anos não é a única ponderação a ser feita. Outro aspecto a ser considerado é que o crescimento de agosto do crédito às empresas foi muito concentrado em poucas linhas do crédito livre. As concessões de financiamento às exportações tiveram um pico de 412% ante ago/16, seguidas por descontos de duplicatas, cujas concessões avançaram 103% em igual comparação.
Entretanto, outras linhas de peso do crédito livre às empresas, como capital de giro e conta garantida, que juntas representam quase 50% do saldo total dessas operações, continuam em uma trajetória muito negativa, como mostram as variações interanuais abaixo, já descontada a inflação.
• Concessões de crédito livre a empresas: +3,8% em jun/17, -2,6% em jul/17 e +7,8% em ago/17;
• Capital de giro: -7,5%; -17,7% e -16,6%;
• Conta garantida: -18,5%; -16,6% e -16,3%, respectivamente.
Se ainda é cedo para falar em reversão da crise do crédito corporativo, no que tange o financiamento das famílias o quadro parece bem mais consistente. Mês após mês, as concessões crescem em termos reais desde o início do ano, à exceção de fevereiro. Agora em agosto, o resultado foi de 7,4% frente a ago/16 em termos reais. Tanto as operações com recursos livres, como aquelas com recursos direcionados estão no azul.
São, então, as concessões às famílias que vêm puxando o crédito total, em ascensão desde o mês de maio. Agora em agosto, como dito anteriormente, o crédito corporativo também ajudou, produzindo uma expansão real de 5,3% das concessões totais frente a igual período do ano anterior.
Este é um processo que já poderia estar bem mais adiantado se a taxa de juros básica tivesse sido reduzida pelo Banco Central mais rapidamente e de modo mais intenso e se os juros dos empréstimos bancários tivessem acompanhado na mesma velocidade a taxa básica de juros. Em agosto deste ano, enquanto a Selic foi reduzida em praticamente 1/3 desde o início deste ano (passando de 13,75% para 9,25% a.a.), os juros médios cobrados das empresas e das famílias estavam apenas cerca de 13% menor.
O comportamento favorável da inadimplência nos últimos meses vai abrindo lentamente a possibilidade de reduções mais substanciais dos juros dos empréstimos. No caso do crédito às famílias, a inadimplência média cede desde o começo do ano, passando de 6,0% em dez/16 para 5,7% em ago/17. No caso das empresas, o movimento é mais recente, passando de 6,0% em mai/17 para 5,5% em ago/17.
Segundo dados de crédito divulgados hoje pelo Banco Central, o saldo das operações alcançou R$3.047 bilhões em agosto, correspondendo a 47,1% do PIB (declínio de 3,3 p.p. frente a agosto de 2016).
A carteira de crédito com recursos livres atingiu R$1.527 bilhões, com queda de -1,5% frente ao mesmo mês do ano anterior, em termos nominais. As operações realizadas junto a pessoas físicas somou R$828 bilhões registrando, na mesma base de comparação, incremento nominal de 3,1%. Já o valor das operações junto a pessoas jurídicas permaneceu em R$699 bilhões, variação negativa de 6,4% também na comparação frente a agosto do ano passado.
O estoque de crédito com recursos direcionados somou R$1.520 bilhões em agosto, o que representa, em termos nominais, retração de 2,9% frente ao mesmo mês do ano anterior. O saldo referente a pessoas físicas foi de R$782 bilhões, apresentando, na mesma base de comparação, elevação de 6,2%, enquanto o saldo relativo a pessoas jurídicas foi de R$738 bilhões, recuo de 10,9%.
No mês de agosto, foram concedidos R$281,0 bilhões em novas operações de crédito, variação positiva de 5,0% frente ao montante de R$267,6 bilhões do mesmo mês do ano anterior. Deste volume, R$253,9 bilhões foram originados de recursos livres e R$27,1 bilhões de recursos direcionados, implicando, na mesma base de comparação, em aumento de 7,0% para recursos livres e queda de 10,0% para recursos direcionados.
Dentre as concessões de crédito às pessoas físicas a partir de recursos livres, destacaram-se as operações de crédito rotativo (R$ 109,2 bilhões), cartão de crédito (R$81,8 bilhões), crédito não rotativo (R$34,9 bilhões) e cheque especial (R$30,7 bilhões). Nas concessões junto às empresas, as principais modalidades foram desconto de duplicatas (R$20,1 bilhões), cheque especial (R$16,6 bilhões), conta garantida (R$15,7 bilhões) e capital de giro (R$11,5 bilhões).
Nas novas concessões de crédito realizadas com recursos direcionados destacaram-se, para pessoas físicas, as modalidades de financiamento imobiliário (R$8,0 bilhões) e crédito rural (R$7,9 bilhões). Já para as empresas, as principais modalidades foram BNDES (R$3,6 bilhões) e crédito rural (R$3,8 bilhões).
Setores. Considerando o saldo total de crédito do sistema financeiro nacional, a carteira de operações para a indústria alcançou R$699,2 bilhões, com retração nominal de 10,0% frente a agosto de 2016. No caso da indústria de transformação, a redução do saldo nominal de crédito foi de 12,3% na mesma comparação, atingindo o valor de R$379,1 bilhões. O saldo do setor de serviços no valor de R$685,2 bilhões teve queda nominal de 7,5% em relação ao ano anterior, sendo que comércio e transportes tiveram variações de -11,9% e -12,2%, respectivamente. Por fim, o setor agropecuário respondeu por R$23,0 bilhões, valor 2,8% menor, em termos nominais, do que o registrado em agosto de 2016.
Juros e Inadimplência. A taxa média de juros nominal chegou a 28,5% a.a. em agosto, 4,5 p.p. inferior do que a registrada em igual mês do ano anterior. Nas operações originadas a partir de recursos livres, a taxa média foi de 45,6% a.a. (recuo de 7,5 p.p. em relação a agosto de 2016), sendo de 62,3% para pessoas físicas e de 24,4% para pessoas jurídicas. No âmbito das operações de crédito oriundo de recursos direcionados, a taxa média foi de 10,0% a.a. (diminuição de 1,2 p.p. na mesma base de comparação), sendo 8,5% para pessoas físicas e 12,2% para pessoas jurídicas.
A inadimplência total de agosto permaneceu estável frente ao mesmo mês do ano anterior, 3,7%. Nas operações com recursos livres, a taxa de inadimplência registrada foi de 5,6% e nas operações direcionadas de 1,8%. A inadimplência de pessoas físicas em agosto foi de 4,0% e a de pessoas jurídicas de 3,4%.