Análise IEDI
Uma pausa no ajustamento das empresas em 2017
A Carta IEDI a ser divulgada nesta sexta-feira, dia 22 de setembro, apresenta as principais tendências da situação econômico-financeira das empresas de capital aberto na primeira metade de 2017. Foram analisadas as informações contábeis de mais de trezentas empresas não financeiras de diferentes setores econômicos.
Em síntese, o período de maio a junho não trouxe boas notícias. O quadro de recuperação da lucratividade, estabilização do nível de endividamento e alívio nas despesas financeiras que vigorou no primeiro trimestre do ano não se sustentou no segundo trimestre. Neste período, houve retração da margem de lucro líquida e aumento do grau de endividamento das empresas, em um contexto de significativa deterioração do resultado financeiro líquido.
Ou seja, a desaceleração da economia na passagem do primeiro para o segundo trimestre de 2017, como mostraram os dados do PIB (de +1,0% para +0,2%, com ajuste sazonal), não ocorreu sem consequências negativas sobre o quadro econômico-financeiro das empresas.
Além da perda de dinamismo entre maio e junho, outros fatores contribuíram para essa piora relativa da situação patrimonial das empresas – sobretudo a volatilidade e depreciação da taxa de câmbio – ou ajudaram pouco, como o repasse muito lento para os juros cobrados nos empréstimos da queda da taxa básica de juros (Selic), promovida pelo Banco Central. Cabe ressaltar ainda que além de caro o crédito para as empresas continua muito escasso.
Para a maior parte das empresas, o lucro operacional, que havia apresentado uma tímida recuperação no primeiro trimestre, bastante concentrada em setores ligados às commodities, voltou a cair no segundo trimestre de 2017. A margem operacional para o total da amostra de empresas recuou de 16,1% para 14,7% no período.
Já o lucro líquido, em função da expansão das despesas financeiras líquidas, registrou retração ainda mais expressiva, condicionando, para o total das empresas da amostra, um declínio da margem líquida de 7,0% no primeiro trimestre de 2017 para 4,3% no agregado da primeira metade do ano.
Outro indicador a apontar um movimento descendente foram as receitas financeiras brutas. Dentre os fatores explicativos, encontram-se menores rendimentos das aplicações financeiras e, no caso das grandes empresas, a redução também dos juros dos empréstimos realizados a outras empresas, além de descontos a fornecedores e mesmo variações monetárias referentes aos ganhos/perdas com a taxa de câmbio.
A evolução desfavorável dos indicadores para o total da amostra de empresas também se verifica se considerarmos apenas aquelas do setor industrial.
Na indústria (exceto Petrobras e Vale), o lucro operacional permaneceu praticamente estagnado no segundo trimestre de 2017, fazendo com que a margem operacional da primeira metade (8,6%) do ano ficasse no mesmo patamar daquela do mesmo período de 2016 (8,5%). Em outros termos, não se viu avanços do lado operacional.
Para a margem líquida de lucro, o segundo trimestre de 2017 representou uma piora ainda mais substancial, levando o resultado de 4,9% janeiro a março para 3,0% no primeiro semestre do ano como um todo. Este patamar é inferior, inclusive, à do primeiro semestre de 2016 (3,7%).
O grau de endividamento líquido, por sua vez, apresentou elevação em maio-junho. Com isso, a marca de 93,1% no primeiro trimestre de 2017 avançou para 96,6% no total dos seis primeiros meses de 2017. Este movimento foi acompanhado de elevação das despesas financeiras.
O indicador que mede a capacidade das empresas de honrar tais despesas (Ebtida/despesa financeira), embora tenha permanecido acima de 1 (o que implica plenas condições de cobrir essas despesas), recuou, no caso da indústria (exceto Petrobras e Vale), de 1,2 no primeiro trimestre de 2017 para 1,1 no total da primeira metade do ano.