Análise IEDI
Reação para poucos
Enquanto a indústria e o varejo vão consolidando seus processos de recuperação, embora em um ritmo ainda fraco, o setor de serviços não tem tido o mesmo sucesso em virar a página da crise. À exceção de alguns poucos segmentos, como veremos a frente, os dados divulgados hoje pelo IBGE não mostram melhora. No máximo, o que os serviços conseguiram em 2017 foi parar de aprofundar suas perdas.
A segunda metade do ano começou no negativo. O faturamento real do total do setor encolheu 0,8% na comparação com junho, já descontados os efeitos sazonais, interrompendo uma sequência de três altas sucessivas. Frente a julho de 2016, o resultado foi de -3,2%, um patamar de declínio mais acentuado do que nos dois meses anteriores.
Diante dessas trajetórias, a queda no acumulado dos sete meses de 2017 chegou a 4%. Ou seja, o quadro geral não fica muito longe daquele de 2016, quando a perda de faturamento real dos serviços chegou a -5,0% no ano como um todo.
Apenas um ou talvez dois segmentos dos serviços se salvam desse quadro geral. A recuperação parece mais consistente no caso dos serviços prestados às famílias, cujo faturamento vem crescendo há três meses na comparação interanual, como pode ser visto abaixo, e a quatro meses na série com ajuste sazonal (+0,2%, +0,8%, +1,1% e +0,9% entre abril e julho). Neste último caso, verifica-se ainda uma certa aceleração.
• Serviços total: -1,9% em mai/17, -3,0% em jun/17 e -3,2% em jul/17.
• Serviços prestados às famílias: +1,6%, +4,1% e +1,5%, respectivamente;
• Serviços de info. e comunicação: -2,8%, -2,7% e -4,1%, respectivamente.
• Serviços profissionais, adm. e complementares: -5,4%, -6,6% e -7,8%;
• Serviços de transporte e correios: +4,4%, +2,1% e +3,0%;
• Outros serviços: -6,2%, -9,2% e -11,6%.
Os dados mostram que o desempenho dos serviços prestados às famílias no acumulado do ano aproxima-se cada vez mais do terreno positivo. Por ora, contudo, o acumulado até julho registra queda de 1,5%, mas este é um patamar sensivelmente diferente do resultado de -4,4% de 2016 como um todo. O principal responsável por este comportamento, por sua vez, tem sido o componente de serviços de alojamento e alimentação (-0,7% no acumulado até jul/17).
Outro segmento onde há sinais de recuperação é o de transportes e correios. São três meses de crescimento na comparação interanual, enquanto no acumulado de janeiro a julho de 2017 já se encontra em uma virtual estabilidade (-0,2% ante igual acumulado de 2016). Na série com ajuste sazonal, a trajetória também seria positiva (+0,6%, 0% e +1,0% entre abril e junho), não fosse a retração de julho (-0,9% ante jun/17).
As principais contribuições positivas em transportes e correios vem de serviços de armazenagem, auxiliares e correios e transporte aquaviário, ambos com alta expressiva no acumulado do ano (+6,0% e +9,6%, respectivamente). O segmento de transporte terrestre, a despeito de uma trajetória menos consistente, vem reduzindo de forma importante suas perdas (-2,0% no acumulado jan-jul/17 contra -10,4% em 2016 como um todo).
Como cabe notar, o melhor desempenho desses dois segmentos - serviços prestados às famílias e transportes e correios – responde, de um lado, à melhora da renda pessoal em função da baixa inflação vivida pelo país nos últimos meses, o que reforça o orçamento familiar; de outro, acompanha o maior nível de atividade e o boom agrícola, o que amplia a demanda por serviços de transporte e armazenagem.
Em compensação, praticamente todos os demais segmentos de serviços não tem apresentado sinais claros de reação; alguns, inclusive, estão em uma situação pior em 2017 do que em 2016, como os serviços profissionais, adm., e complementares (-8,5% em jan-jul/17 contra -5,6% em 2016) e o segmento de outros serviços (-10,3% contra -2,8%), que inclui um conjunto amplo de atividades (imobiliárias, financeiras, de assistência técnica etc). As atividades turísticas também não estão reagindo (-6,2% contra -2,6%).
Em todos estes casos, as trajetórias constituídas pelos resultados mês após mês tampouco são muito promissoras. Isso também se aplica aos serviços de informação e comunicação, que embora tenham registrado certa moderação no acumulado de 2017 (-2,0% contra -3,3% em 2016 como um todo), possui trajetórias marcadas predominantemente por quedas, tanto na série com ajuste como na comparação interanual. Não fossem algumas altas pontuais no começo do ano, 2017 poderia estar tão ruim quanto 2016.
De acordo com dados da Pesquisa Mensal de Serviços divulgados pelo IBGE para o mês de julho, o volume (ou o faturamento real) de serviços prestados apresentou redução de 0,8% na comparação com o mês de junho, para dados com ajuste sazonal. Frente ao mesmo mês do ano anterior, houve queda de 3,2%. No acumulado do ano a variação foi de -4,0%, já para os 12 meses a queda foi de -4,6%.
Na comparação com o mês imediatamente anterior, na série dessazonalizada, o volume de serviços prestados aumentou somente em serviços prestados às famílias (0,9%), todos os demais tiveram reduções, puxados por outros serviços (-2,8%), serviços profissionais, administrativos e complementares (-2,0%), transportes, serviços auxiliares dos transportes e correio (-0,9%) e serviços de informação e comunicação (-0,8%). O agregado especial das atividades turísticas caiu 2,1%.
Na comparação com o mesmo mês do ano anterior, houve recuo em todos os segmentos exceto transportes, serviços auxiliares dos transportes e correio (3,0%) e de serviços prestados às famílias (1,5%). Os demais segmentos tiveram variações negativas das seguintes ordens: outros serviços (-11,6%), serviços profissionais, administrativos e complementares (-7,8%) e serviços de informação e comunicação (-4,1%). O segmento de atividades turísticas registrou queda de 5,0%.
No acumulado do ano, todos os setores mantiveram desempenho negativo. A maior contração foi observada no segmento de outros serviços (-10,3%), seguido por serviços profissionais, administrativos e complementares (-8,5%), serviços de informação e comunicação (-2,0%), serviços prestados às famílias (-1,5%), e transportes, serviços auxiliares dos transportes e correio (-0,2%). O volume de serviços relacionados a atividades turísticas caiu 6,2%.
Na variação acumulada em 12 meses, também houve retrações generalizadas, nas seguintes intensidades: -6,7% em serviços profissionais, administrativos e complementares, -6,7% em outros serviços, -4,2% em transportes, serviços de transportes e correio, -2,9% em serviços prestados às famílias e -2,6% em serviços de informação e comunicação. Na mesma base de comparação, os serviços de atividades turísticas recuaram 5,0%.
Na análise por unidade federativa, as maiores oscilações negativas em julho frente ao mesmo mês do ano anterior ocorreram nos seguintes Estados: Rondônia (-17,0%), Tocantins (-14,7%), Distrito Federal (-14,7%), Maranhão (-11,6%), Rio de Janeiro (-10,7%), Pará (-9,9%). Variações positivas foram observadas no Paraná (7,1%), Amazonas (5,6%) e Mato Grosso (5,3%).