Análise IEDI
No meio do caminho
Um dos principais freios à reativação do consumo no país tem sido, sem dúvida, a crise do emprego, que nos últimos anos se conjugou com uma inflação em forte elevação e uma intensa restrição do crédito, de modo a retirar poder de compra da população.
Neste contexto vimos, especialmente em 2016, um recuo expressivo e persistente da massa de rendimentos reais. O que há de novo agora em 2017 é que a massa vem reagindo e a um ritmo crescente. Este é um dado muito importante porque abre um caminho mais sólido para uma recuperação das vendas do comércio, do faturamento do setor de serviços e da produção de bens de consumo industrializados.
Isso, que faz toda a diferença quanto às perspectivas de crescimento da economia, não exclui outros fatores que também têm contribuído favoravelmente para o reforço do consumo, a exemplo da liberação das contas inativas do FGTS, que injetou recursos da ordem de 0,6% do PIB na economia, e da recente redução da idade mínima para saques das contas PIS/PASEP. Tivessem sido tomadas anteriormente, estas e outras medidas anticíclicas poderiam ter arrefecido a crise do consumo no ano passado.
Outro fator que já está ampliando a capacidade de consumo são as concessões de crédito. Se a política de juros do Banco Central não tivesse sido tão conservadora diante do intenso recuo da inflação, os juros praticados nos empréstimos poderiam estar em patamares mais favoráveis à melhora do poder de compra.
Voltando à massa real de rendimentos que, independentemente dos fatores acima mencionados, constitui a base do mercado interno consumidor, houve um encolhimento de 6% entre o auge atingido no trimestre findo em janeiro de 2015 (R$ 191,8 bilhões) e sua pior marca, em jul-set/16 (R$ 180,4 bilhões). Desde então, cerca de metade disso (3,2%) já foi recuperado. É o que se verifica ao contrastar o dado mais recente, do trimestre findo em julho de 2017 (R$ 186,2 bilhões) com jul-set/16.
Na origem desta melhora recente, está a evolução do rendimento real habitualmente recebido pelos ocupados, alavancado pela desaceleração da inflação. Uma inflação menor tem permitido que os acréscimos nominais dos rendimentos se traduzam em elevação dos rendimentos reais, de +3,0% frente a mai-jul/16.
É o número de ocupados que continua dificultando que o quadro avance mais, como mostram as variações interanuais abaixo. A este respeito, há, porém, uma boa notícia nos dados divulgados hoje pelo IBGE: a população ocupada ao menos parou de cair.
• Massa de rendimentos reais: -0,3% em nov-jan/16; +1,1% em fev-abr/17 e +3,1% em mai-jul/17;
• Rendimentos reais habitualmente recebidos: +1,4%; +2,7% e +3,0%;
• População ocupada total: -1,9%; -1,5% e +0,2%, respectivamente.
Pela primeira vez, desde o trimestre findo em ago/15 – portanto há quase dois anos - a população ocupada não registrou queda na comparação interanual, ficando praticamente estável (+0,2%) no trimestre findo em julho de 2017. Este comportamento ajudou a reduzir a taxa de desocupação para 12,8%.
São as ocupações com um perfil de menor qualidade que têm possibilitado essa evolução do número de ocupados, notadamente aquelas sem carteira assinada ou as classificadas como empregador, em boa medida puxadas por atividades de serviço, como os de alojamento e alimentação e outros serviços não classificados. Vale notar ainda que o emprego industrial também se recupera, criando em mai-jul/17 270 mil postos a mais do que igual período do ano anterior.
De acordo com dados da PNAD Contínua divulgados hoje pelo IBGE, a taxa de desocupação registrada no trimestre compreendido entre maio e julho foi de 12,8%. Tal taxa é 1,2 p.p. maior que a observada no mesmo trimestre do ano passado, de 11,6%. Em relação ao trimestre móvel anterior sem sobreposição (fevereiro de 2017 a abril de 2017), cuja taxa fora de 13,6%, recuo de 0,8 p.p.
O rendimento real médio de todos os trabalhos habitualmente recebidos foi de R$2.106,00, representando redução de 0,2% frente ao trimestre anterior sem sobreposição (R$ 2.111,00) e elevação de 3,0% frente ao mesmo trimestre de referência do ano anterior (R$ 2.045,00). O rendimento real médio do trabalho principal habitualmente recebido também apresentou leve queda frente ao trimestre anterior sem sobreposição (-0,3%) e apresentou crescimento de 2,6% frente ao mesmo trimestre de 2016, chegando a R$2.044,00.
A massa de rendimentos reais de todos os trabalhos habitualmente recebidos alcançou R$ 186,1 bilhões no trimestre encerrado em julho, registrando crescimento de 1,3% frente ao trimestre anterior sem sobreposição (R$183,7 bilhões) e registrando leve alta de 2,3% frente ao mesmo trimestre do ano anterior (R$180,6 bilhões).
No trimestre de referência, a população ocupada foi de 90,7 milhões de pessoas, expansão de 1,6% na comparação com o trimestre anterior sem sobreposição. A variação sobre o mesmo trimestre do ano anterior foi de 0,2%. Nesta última base de comparação, o número de pessoas dentro da força de trabalho aumentou 1,6%, atingindo 104,0 milhões, enquanto o número de desocupados se elevou 12,5%, chegando a 13,3 milhões de pessoas.
Frente ao mesmo trimestre do ano anterior, o número de pessoas ocupadas apresentou crescimento nas posições ocupadas: empregador (10,8%), trabalho privado sem carteira (5,6%), trabalho familiar auxiliar (5,6%) e setor público (1,7%). Para as posições de trabalho privado com carteira (-2,9%) e trabalho doméstico (-1,4%). Para os trabalhadores por conta própria o indicador não apresentou variação.
Na mesma base de comparação, os grupamentos de atividades que apresentaram expansão da ocupação foram: alojamento e alimentação (15,2%), outros serviços (7,3%), transporte, armazenagem e correios (3,1%), indústria (2,3), informação, Comunicação e atividades financeiras, imobiliárias, profissionais e administrativas (1,3%), comércio, reparação de veículos automotores e motocicletas (0,5%) e administração pública, defesa, seguridade, educação, saúde humana e serviços sociais (0,4%). As categorias que registraram retração foram: construção (-8,5%), agricultura, pecuária, produção florestal, pesca e aquicultura (-8,0%) e serviços domésticos (-2,1%).