Análise IEDI
Perde-se uma oportunidade
No início do segundo semestre, o total das concessões reais de crédito voltou a repetir um desempenho positivo, tal como havia ocorrido nos dois meses anteriores. Em julho, a alta foi de 2,8% frente a igual mês do ano anterior, descontada a inflação medida pelo IPCA. No acumulado de janeiro a julho, o resultado é modesto, porém positivo (+0,7%). Esta indicação favorável deve-se, contudo, exclusivamente ao crédito às famílias.
De fato, vai ficando cada vez mais clara a consolidação de uma trajetória de crescimento das concessões de crédito às pessoas físicas. Em termos reais, o mês de julho apontou avanço de 10,9% ante jul/16. O que parece haver, então, é um quadro novo neste segmento do crédito. O tombo de 10,5% em 2016 como um todo cedeu espaço para um crescimento de 8,0% no acumulado de janeiro a julho de 2017, sempre em termos reais.
Não é por acaso que os sinais de recuperação econômica, tanto no comércio varejista como na indústria, são mais visíveis em setores de bens duráveis e semiduráveis. Como, em grande medida, o consumo desses bens exige algum tipo de financiamento, a recomposição, mesmo que parcial, das condições de crédito às famílias tem a capacidade de ajudar a destravar sua demanda que há um bom tempo vinha sendo adiada.
Enquanto os dados mais recentes têm autorizado uma conclusão mais otimista em relação ao crédito às famílias, no caso das empresas ainda há razões para preocupações. É bem verdade que a situação não chega a ser tão trágica como a do ano passado, mas a contração do crédito corporativo em 2017 permanece intensa e se sobrepõe a quedas anteriores, como mostram abaixo as variações reais frente a igual período do ano anterior.
• Concessões a pessoas jurídicas: -5,2% em 2015; -14,9% em 2016 e -7,8% em jan-jul/2017;
• Concessões a pessoas físicas: -2,4%; -10,5% e +8,0%;
• Concessões totais: -3,7%; -12,6% e +0,7%, respectivamente.
Em julho de 2017, as concessões totais às empresas recuaram 7,3% frente a junho de 2016, quando corrigidas pela inflação. Nos primeiros sete meses do ano, o desempenho não fica muito longe: -7,8%. Se este patamar de queda é sensivelmente inferior ao de 2016 como um todo (-14,9%), permanece superior ao de 2015 (-5,2%).
Quem tem possibilitado esse arrefecimento da crise do crédito corporativo tem sido aquelas operações livremente pactuadas entre credores e tomadores, isto é, o chamado crédito livre: -6,1% no acumulado de 2017 contra -12,8% em 2016, frente ao mesmo período do ano anterior e já descontada a inflação.
O crédito direcionado às empresas, que em tese há melhores condições de apresentar um comportamento anticíclico, ainda está em queda livre. A contração real em 2017 chega a 21,6%, quase no mesmo ritmo de 2016 (-27,9%). Além do segmento imobiliário, cujas concessões reais caíram 54,2% até jul/17, muito da crise do crédito direcionado se deve ao encolhimento das operações de BNDES, da ordem de 22,5% em termos reais em 2017, depois de nada menos que -40,5% em 2016.
Em se tratando de um país com enormes carências de investimento, como no setor de infraestrutura, e com um banco de desenvolvimento com recursos ociosos, não é razoável que não haja um programa de incentivo à retomada das inversões.
A crise poderia ser amenizada de houvesse um plano desta natureza, os sintomas de recuperação seriam acelerados, abrindo caminho para a tão sonhada retomada do emprego, da renda e da arrecadação fiscal. Perde-se, então, uma valiosa oportunidade.
Os dados de crédito divulgados hoje pelo Banco Central indicam que o saldo das operações alcançou R$3.062 bilhões em julho, com uma participação de 47,8% sobre o PIB (declínio de 2,9 p.p. frente a julho do ano anterior).
A carteira de crédito com recursos livres atingiu R$1.521 bilhões, queda de -2,1% frente ao mesmo mês do ano anterior em termos nominais. A parcela destas operações realizada junto a pessoas físicas foi de R$822 bilhões registrando, na mesma base de comparação, incremento nominal de 2,9%. Já o valor das operações junto a pessoas jurídicas alcançou R$699 bilhões, variação negativa de 7,5% também na comparação frente a julho de 2016.
O estoque de crédito com recursos direcionados atingiu R$1.541 bilhões em julho, o que representa, em termos nominais, retração de 1,3% frente ao mesmo mês do ano anterior. O saldo referente a pessoas físicas foi de R$776 bilhões, elevação de 6,0% na mesma base de comparação, enquanto o saldo relativo a pessoas jurídicas foi de R$765 bilhões, recuo de 7,9%.
No mês de julho foram concedidos R$256,8 bilhões em novas operações de crédito, variação positiva de 2,8% frente ao montante de R$249,8 bilhões observado no mesmo mês do ano anterior. Deste volume, R$233,5 bilhões foram originados de recursos livres e R$23,2 bilhões de recursos direcionados, implicando, na mesma base de comparação, em um aumento de 5,5% para recursos livres e queda de 18,3% para recursos direcionados.
Dentre as concessões de crédito às pessoas físicas a partir de recursos livres, destacaram-se as operações de crédito rotativo (R$ 108,6 bilhões), cartão de crédito (R$82,7 bilhões), crédito não rotativo (R$32,1 bilhões) e cheque especial (R$29,4 bilhões). Já junto às empresas, as principais modalidades foram desconto de duplicatas (R$17,2 bilhões), cheque especial (R$15,8 bilhões), conta garantida (R$15,5 bilhões) e capital de giro (R$10,7 bilhões).
Nas novas concessões de crédito realizadas com recursos direcionados sobressaíram-se, para pessoas físicas, as modalidades de financiamento imobiliário (R$7,7 bilhões) e crédito rural (R$4,7 bilhões). Já para as empresas, as principais modalidades foram BNDES (R$4,7 bilhões) e crédito rural (R$2,6 bilhões).
Setores. Considerando o saldo total de crédito do sistema financeiro nacional, a carteira de operações para indústria alcançou R$707,1 bilhões, o que representa uma retração nominal de 9,5% frente a julho de 2016. No caso da indústria de transformação, a redução do saldo nominal de crédito foi de 11,8% na mesma comparação, atingindo o valor de R$381,1 bilhões. O saldo do setor de serviços foi de R$705,4 bilhões, queda nominal de 5,5% em relação ao ano anterior, sendo que comércio e transportes tiveram variações de -8,9% e -11,7%, respectivamente. Por fim, o setor agropecuário respondeu por R$22,7 bilhões, valor 5,0% menor, em termos nominais, do que o registrado em julho de 2016.
Juros e Inadimplência. A taxa média de juros nominal atingiu 29,0% a.a. em julho, 4,0 p.p. inferior do que a registrada em igual mês do ano anterior. Nas operações originadas a partir de recursos livres, a taxa média foi de 46,6% a.a. (recuo de 6,0 p.p. em relação a julho de 2016), sendo de 63,8% para pessoas físicas e de 25,3% para pessoas jurídicas. No âmbito das operações de crédito oriundo de recursos direcionados, a taxa média foi de 10,2% a.a. (diminuição de 1,3 p.p. na mesma base de comparação), sendo 9,0% para pessoas físicas e 11,8% para pessoas jurídicas.
A inadimplência total de junho aumentou 0,2 p.p. frente ao ano anterior, atingindo 3,8%. Nas operações feitas com recursos livres, a taxa de inadimplência registrada foi de 5,6% e nas operações direcionadas de 2,0%. A inadimplência de pessoas físicas em julho foi de 3,9% e a de pessoas jurídicas de 3,6%.