Análise IEDI
Reação ainda restrita
Em 2017, o setor de serviços vem conseguindo ampliar seu faturamento real mês após mês já descontados os efeitos sazonais. O ritmo foi extremamente lento no início do ano, aproximando-se mais da estabilidade do que de uma recuperação. Após um recuo considerável em março, as altas passaram a ser mais substanciais, chegando a +1,3% em junho frente a maio.
Os resultados, como veremos, exigem alguma cautela, pois sugerem uma reação restrita, no sentido de que pode ser oriunda de causas que amanhã podem não se renovar, tais como um movimento acelerado de redução da inflação e uma safra agrícola excepcionalmente boa no início do ano.
Com isso, no segundo trimestre de 2017, o setor voltou ao terreno positivo quando descontados os efeitos sazonais. Até então, já somavam nove trimestres consecutivos de resultados negativos. A alta recente foi de 0,3% ante o primeiro trimestre e poderá vir a ser o início de uma nova etapa. Por ora, entretanto, sua magnitude não chega a empolgar e foi suficiente apenas para compensar o declínio do primeiro trimestre do ano (-0,3% ante o 4º trim/16).
Enquanto as variações positivas já pontuam vários meses e alguns segmentos na série com ajuste sazonal, elas são mais escassas na comparação interanual, a despeito de bases muito baixas. No acumulado do primeiro semestre, frente igual período do ano anterior, o declínio do faturamento real foi de 4,1%, significando um arrefecimento moderado frente à queda de 5,0% em 2016 como um todo.
Se o comércio varejista já se desponta em uma trajetória de recuperação, com crescimento de 2,5% no segundo trimestre de 2017 (em seu conceito restrito), o estágio no setor de serviços ainda é de redução de perdas. O desempenho trimestral frente a igual período do ano anterior mostra mais claramente esse processo:
• Total Serviços: -6,0% no 4º trim/16; -4,7% no 1º trim/17 e -3,6% no 2º trim/17;
• Serviços prestados às famílias: -4,5%; -4,6% e +0,7%, respectivamente;
• Serviços de transporte, seus auxiliares e correios: -9,5%; -3,2% e +1,6%;
• Serviços profissionais, adm. e complementares: -4,7%; -9,4% e -7,8%;
• Serviços de informação e comunicação: -4,7%; -0,6% e -2,8%;
• Outros serviços: -1,3%; -9,5% e -10,6%, respectivamente.
A moderação da crise nos serviços é algo que está longe de ser ensejado por todos os seus segmentos. O destaque cabe a dois deles: serviços prestados às famílias e serviços de transporte, seus auxiliares e correios, que voltaram a crescer no segundo trimestre do ano.
No caso dos serviços prestados às famílias, o dinamismo dos dois últimos meses não foi desprezível: +1,6% e +4,1% em maio e junho ante mesmos meses do ano anterior. O estímulo maior tem vindo de seu componente serviços de alojamento e alimentação (+1,7% ante 2º trim/16), mais sujeito à rápida desinflação, que tem se dado com certa ênfase nos preços de alimentos.
Já no caso dos serviços de transporte e correios, os serviços de armazenagem, auxiliares de transporte e correios, com maior aderência à safra e ao volume das exportações é o componente que mais cresceu (+7,7%). Transportes terrestres, por sua vez, ficou quase estável (-0,2%).
Os serviços profissionais, administrativos e complementares mostraram algum arrefecimento em suas perdas, mas o patamar de queda continua elevado e superior àquele de 2016. Isso se deve aos serviços de melhor qualidade, isto é, aos serviços técnico-profissionais, cujo faturamento continua em queda livre (-15,3% ante 2º trim/16).
Em sentido oposto aos anteriores, dificultando uma reação mais substancial do setor de serviços como um todo, estão os segmentos de serviços de informação e comunicação e, principalmente, o de outros serviços, para quem o segundo trimestre de 2017 trouxe uma piora do quadro. Algo semelhante também ocorre nas atividades turísticas, que apresentaram quedas moderadas em 2015 e 2016, mas agora em 2017, sofreram forte deterioração: -7,4% e -5,4% nos dois trimestres do ano.
De acordo com dados da Pesquisa Mensal de Serviços divulgados pelo IBGE para o mês de junho, o volume de serviços prestados apresentou crescimento de 1,3% na comparação com o mês de maio, para dados com ajuste sazonal. Frente ao mesmo mês do ano anterior houve elevação de 3,0%. No acumulado do ano a variação foi de -4,1%, já para os 12 meses a queda foi de -4,7%.
Na comparação com o mês imediatamente anterior, na série dessazonalizada, o volume de serviços prestados aumentou em serviços prestados às famílias e transportes, serviços auxiliares dos transportes e correio, ambos com 1,0%, serviços profissionais, administrativos e complementares (0,8%) e outros serviços (0,7%). A única variação negativa veio dos segmentos de serviços de informação e comunicação (-0,2%). O agregado especial das atividades turísticas teve crescimento de 5,3%.
Na comparação com o mesmo mês do ano anterior, houve recuo em todos os segmentos exceto serviços prestados às famílias (4,1%) e transportes, serviços auxiliares de transportes e correio (2,1%). Os demais segmentos tiveram variações das seguintes ordens: outros serviços (-8,9%), serviços profissionais, administrativos e complementares (-6,6%) e serviços de informação e comunicação (-2,9%). O segmento de atividades turísticas registrou queda de 5,2%.
No acumulado do ano, todos os setores mantiveram desempenho negativo. A maior contração foi observada no segmento de outros serviços (-10,1%), seguido por serviços profissionais, administrativos e complementares (-8,6%), serviços prestados às famílias (-2,1%), serviços de informação e comunicação (-1,7%) e transportes, serviços auxiliares dos transportes e correio (-0,8%). O volume de serviços relacionados a atividades turísticas caiu 6,4%.
Na variação acumulada em 12 meses, também houve retrações generalizadas, nas seguintes intensidades: -6,4% em serviços profissionais, administrativos e complementares; -5,2% em transportes, serviços de transportes e correio; -5,8% em outros serviços; -3,2% em serviços prestados às famílias e -2,4% em serviços de informação e comunicação. Na mesma base de comparação, os serviços de atividades turísticas recuaram 4,6%.
Na análise por unidade federativa, as maiores oscilações negativas em junho frente ao mesmo mês do ano anterior ocorreram nos seguintes Estados: Rondônia (-20,4%), Amapá (-18,5%), Roraima (-17,0%), Distrito Federal (-12,5%), Sergipe (-11,0%) e Rio de Janeiro (-10,0%). As únicas variações positivas foram observadas no Mato Grosso (9,3%), Paraná (7,8%), Rio Grande do Norte (2,7%) e São Paulo (1,9%). O estado do Espírito Santo (0,0%) permaneceu estável.