Análise IEDI
Desaceleração generalizada
Na primeira metade de 2017, a indústria conseguiu parar de cair, como mostraram os dados do IBGE divulgados na semana passada. Variações positivas até voltaram a marcar a trajetória do setor, mas o dinamismo é muito fraco e ainda há riscos de que não melhore tão cedo. Neste contexto, merece atenção a desaleceração ocorrida entre o primeiro e o segundo trimestre do ano.
No acumulado de janeiro-junho de 2017, a produção da indústria nacional registrou alta de apenas 0,5% e isso devido mais o primeiro trimestre (+1,0%) do que ao segundo (+0,2%). Junho especificamente foi um mês sem crescimento quando comparado com maio e já descontados os efeitos sazonais.
Os dados regionais divulgados hoje mostram que a estabilidade da indústria na passagem de maio para junho, na série com ajuste, contou com resultados positivos na maioria das localidades pesquisadas pelo IBGE (9 das 14). Aqui, o fato mais importante é que São Paulo, o maior e mais diversificado parque industrial do país, cresceu sistematicamente nos três últimos meses (+1,1%, +2,5% e +0,8% entre abril e junho). Já as demais localidades ainda apresentam, em geral, trajetórias pouco consistentes, intercalando resultados positivos e negativos.
As altas também foram generalizadas no acumulado do primeiro semestre de 2017 frente a igual período do ano anterior. Neste caso, 10 das 15 localidades pesquisadas apresentaram crescimento. O quadro é, assim, radicalmente distinto daquele do final de 2016 quando eram muito raros os exemplos de localidades com crescimento da produção industrial.
A maior parte das grandes regiões industriais do país já voltaram a crescer em 2017, como Rio de Janeiro (+3,6%), Minas Gerais (+2,3%) e Rio Grande do Sul (+1,9%). São Paulo, todavia, ainda não voltou ao terreno positivo, mas se aproximou muito disso. Sua produção, que chegou a cair 5,4% em 2016, recuou para apenas 0,1% no acumulado janeiro-junho ante mesmo período do ano anterior.
Se a morosidade da reação da indústria paulista ainda preocupa, porque restringe o desempenho da indústria nacional, ela não é o único aspecto desfavorável da trajetória recente. Não é um bom sinal que a desaceleração da indústria total do primeiro para o segundo trimestre de 2017 também tenha sido generalizada em termos regionais, atingindo 11 das 15 localidades, como pode ser visto abaixo.
• Brasil: +1,0% no 1º trim/17 e +0,2% no 2º trim/17;
• São Paulo: +0,4% e -0,4%, respectivamente;
• Rio Grande do Sul: +2,0% e +1,7%;
• Minas Gerais: +3,8% e +1,1%
• Rio de Janeiro: +5,6% e +1,8%
• Nordeste: -2,1% e -2,5%, respectivamente.
Essa perda de dinamismo no segundo trimestre evidencia a fraqueza da macroeconomia do país, a despeito de alguns fatores positivos em operação, como o aumento das concessões de crédito às famílias, redução dos juros, desaceleração da inflação e maiores exportações de alguns bens industriais. Outros fatores que ajudaram o ritmo de produção no primeiro trimestre parecem ter perdido força, como o estímulo ao consumo da liberação de recursos do FGTS e uma safra agrícola excepcionalmente boa.
Dentre os piores casos, isto é, as localidades que tinham conseguido crescer no primeiro trimestre, mas voltaram ao negativo em abril-junho, estão algumas das mais importantes como São Paulo, devido ao desempenho de um conjunto amplo de setores, a exemplo de máquinas e aparelhos elétricos, farmacêuticos e farmoquímicos, produtos de metal, outros produtos químicos, vestuário e bebidas. Também voltaram a cair Pará, Mato Grosso, Goiás e Pernambuco.
Outros estados perderam dinamismo mas conseguiram manter algum crescimento no segundo trimestre, como Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, Rio de Janeiro e Minas Gerais, isto é, estados de peso na indústria nacional, com uma estrutura relativamente diversificada.
A região Nordeste, por sua vez, teve retração nos dois primeiros trimestres de 2017, em ritmos bastante semelhantes (-2,1% e -2,5%, respectivamente), devido aos estados da Bahia (-8,3% e -6,5%) e Pernambuco (+5,4% e -4,8%). Ceará conseguiu reverter no segundo trimestre (+2,1%) o declínio registrado em janeiro-março (-0,9%).
Fogem da regra de piora no segundo trimestre algumas poucas localidades. Além do Ceará, como dito acima, estão nessa lista o Amazonas (+1,0% e +2,3%) e o Espírito Santo (+4,0% e +4,9%).
Na passagem de maio para junho, a partir de dados dessazonalizados, a produção industrial brasileira apresentou variação nula (0,0%). Dentre os 14 locais pesquisados, nove registraram expansão, sendo as mais intensas nos estados do Rio de Janeiro (3,1%), Amazonas (2,8%), Pernambuco (1,7%) e Minas Gerais (1,6%). Em sentido contrário, entre os locais que apresentaram variações negativas destacam-se: Bahia (-10,0%) e a Região Nordeste (-4,0%) seguidos por Rio Grande do Sul (-1,1%), Pará (-0,4%) e Santa Catarina (-0,1%).
Frente ao mesmo mês do ano anterior, houve elevação de 0,5% da indústria nacional, com oito dos 15 locais pesquisados registrando oscilações no mesmo sentido. O principal aumento foi verificado no estado do Espírito Santo (10,0%) seguido por Ceará (4,3%), São Paulo (3,0%), Minas Gerais (2,9%) e Rio Grande do Sul (2,1%). As regiões que apresentaram quedas mais relevantes foram Bahia (-10,9%), Região Nordeste (-5,1%), Pernambuco (-2,9%), Pará (-2,1%), Santa Catarina (-0,9%) e Rio de Janeiro (-0,1%).
O período janeiro-junho de 2017, em comparação a igual período do ano anterior, apresentou crescimento de 0,5% em termos nacionais, com expansão na produção de dez das 15 regiões pesquisadas. O principal avanço ocorreu no Espírito Santo (4,5%), seguido por Rio de Janeiro (3,6%), Santa Catarina (3,3%), Paraná (2,5%) e Minas Gerais (2,3%). Em sentido oposto, as regiões que tiveram retrações em igual base de comparação foram: Região Nordeste (-2,3%), Mato Grosso (-1,4%), Pará (-0,2%) e São Paulo (-0,1%).
No acumulado em 12 meses houve recuo de 1,9% na indústria brasileira, com 11 das 15 regiões pesquisadas variando em mesma direção. Os resultados negativos de maior intensidade foram observados em: Bahia (-8,7%), Mato Grosso (-6,5%), Espírito Santo (-6,1%), Região Nordeste (-2,5%) e Goiás (-2,3%). Os Estados do Pará (4,1%), Rio de Janeiro (1,8%), Santa Catarina (1,1%) e Paraná (0,8%) tiveram crescimento.
São Paulo. Na comparação com o mês de maio, a produção da indústria paulista apresentou elevação de 0,8%, a partir de dados dessazonalizados. Frente a junho de 2016, houve importante aumento de 3,0%. O resultado se deve ao incremento na produção de nove das 18 atividades pesquisadas. O setor com resultado positivo mais expressivo foi o de produtos alimentícios (18,7%), puxado principalmente pela maior produção de açúcar cristal e VHP. Outras atividades com oscilações positivas importantes foram: veículos automotores, reboques e carrocerias (14,5%), cujas principais influências couberam ao aumento na produção de automóveis, caminhão-trator para reboques e semirreboques e caminhões; máquinas e equipamentos (11,1%), devido ao aumento de máquinas para trabalhar matéria-prima para fabricar pasta de celulose, partes e peças para máquinas para colheita, elevadores para o transporte de pessoas, carregadoras transportadoras, rolamentos de esferas, agulhas e cilindros e válvulas, torneiras e registros; e de equipamentos de informática, produtos eletrônicos e ópticos (15,0%) dada a elevação de aparelhos de comutação para telefonia, telefones celulares, indicadores de velocidade e tacômetros e transmissores ou receptores de telefonia celular. Por outro lado, os impactos negativos mais relevantes vieram dos setores de coque, produtos derivados do petróleo e biocombustíveis (-10,4%), pressionado, sobretudo, pela menor produção de óleo diesel e gasolina automotiva; produtos farmoquímicos e farmacêuticos (-18,8%), pressionado pela menor fabricação de medicamentos, de outros produtos químicos (-7,9%) de herbicidas, etileno, tintas e vernizes dissolvidos em meio não aquoso e fungicidas para uso na agricultura e de produtos de metal (-12,2%) impactado por construções pré-fabricadas de metal, caldeiras geradoras de vapor, recipientes de ferro e aço para transporte ou armazenagem de gases comprimidos ou liquefeitos e cartuchos, balas e suas partes.
Rio Grande do Sul. Frente a maio, a produção industrial gaúcha recuou 1,1% (para dados dessazonalizados), após ter apresentado crescimento de 2,5% no mês anterior. Na comparação com junho de 2016, houve expansão de 2,1%, com sete das 14 atividades pesquisadas apresentando elevação, sendo as principais: produtos de fumo (45,8%) impulsionado pela maior fabricação de fumo processado e cigarros; e de coque, produtos derivados de petróleo e biocombustíveis (58,7%) por conta da gasolina automotiva e óleo diesel. Os setores com os maiores recuos foram setores de artefatos de couro, artigos para viagem e calçados (-11,3%) e de produtos alimentícios (-4,5%), pressionados, sobretudo, pela menor fabricação de calçados femininos de couro e de material sintético, couros e peles de bovinos e tênis de material têxtil para o primeiro; e de queijos, leite esterilizado e produtos embutidos ou de salamaria e outras preparações de carnes de suínos, para o segundo.