Análise IEDI
Devagar, quase parando
Desde que a indústria começou a melhorar seu desempenho no começo do ano, o resultado que o setor conseguiu acumular nestes seis meses de 2017 foi muito pouco significativo: apenas 0,5% ante mesmo período de 2016. Em outras palavras, a indústria está devagar, quase parando. A contar pelo desempenho em junho, parou mesmo. A produção ficou estável na passagem de maio a junho, já descontados os efeitos sazonais.
Em relação a igual período do ano anterior, junho de 2017 logrou crescer 0,5%, mas esta foi a menor variação positiva do semestre. A trajetória trimestral deixa claro, por sua vez, que aquilo que já era pouco ficou ainda menor. A alta de 1,0% no primeiro trimestre recuou para apenas 0,2% no segundo na comparação interanual.
Este é um quadro que só justifica alguma comemoração se tomado pelo ângulo do “pior já passou” e mesmo assim, diante da instabilidade política e econômica do país, cabe ter alguma cautela. A recuperação industrial ainda não está consolidada e, por isso, continua sujeita a novas deteriorações. Tanto é que a indústria de transformação continua no vermelho na comparação com 2016 e teve um segundo trimestre (-0,4%) pior que o primeiro (-0,1%).
Como consequência deste debilitado dinamismo a indústria exerce apenas muito parcialmente o grande poder dinamizador que tem sobre a produção e o emprego de outros setores, notadamente a agropecuária e serviços que produzem suas matérias primas e seus insumos.
Dentre os macrossetores da indústria geral, o período abril-junho também implicou resultados mais fracos na maioria dos casos, como mostram as variações frente ao mesmo período do ano anterior abaixo.
• Indústria geral: +1,0% no 1º trim/2017 e +0,2% no 2º trim/2017;
• Bens de capital: +4,8% e +1,2%, respectivamente;
• Bens de consumo duráveis: +11,1% e +9,0%;
• Bens de consumo semi e não duráveis: +0,5% e -2,9%;
• Bens intermediários: -0,3% e +0,2%, respectivamente.
Quem melhor conseguiu manter seu nível de dinamismo foram os bens de consumo duráveis, em boa medida devido à produção de automóveis, cujas exportações contribuíram para taxas equivalentes de crescimento em ambos os trimestres (+17,1% e +17,2%, respectivamente). Eletrodomésticos viram uma expressiva desaceleração (+17,3% e +5,5%) e outros equipamentos de transporte (motocicletas, sobretudo) ampliaram suas perdas (-2,9% e -14,7%).
Bens de capital, por sua vez, mantiveram-se em terreno positivo, mas sofreram desaceleração, decorrente do mais baixo crescimento da produção de bens de capital para a agricultura (+29,4% para +11,7%) e piora daqueles para o setor de energia (-7,7% para -15,3%). Já na produção de bens de capital para a indústria, o quadro continua sendo de declínio, porém menos acentuado (-8,0% para -4,9%).
A má notícia fica por conta de bens de consumo semi e não duráveis, que, depois do desempenho positivo no primeiro trimestre do ano, voltou a apresentar queda. Na origem dessa involução está a desaceleração do crescimento da produção de calçados e vestuário, bem como da contração mais acentuada da indústria de laticínios e carnes, de bebidas e de farmacêuticos.
Caminhou em direção oposta a produção de bens intermediários. O crescimento de 0,2% no segundo trimestre de 2017 foi a primeira variação positiva na comparação interanual depois do quarto trimestre de 2013, perfazendo quase três anos e meio de crise. A melhora se deveu especialmente aos resultados de ramos com tradição exportadora, como celulose (+3,7% e +8,7% no 1º e 2º trim/17), metalurgia básica (+2,8% e +4,5%, respectivamente) e intermediários para veículos (+8,2% e +7,7%).
Em síntese, o que a evolução trimestral de 2017 parece sugerir é que certos fatores dinamizadores da indústria perderam força, como a safra agrícola e a liberação dos recursos do FGTS, concorrendo para a desaceleração da produção de bens de capital agrícola, eletrodomésticos, calçados e vestuário, como ressaltamos acima. Em contraste, a exportação continuou um destacado fator positivo, sobretudo para a indústria automobilística.
Segundo dados divulgados pelo IBGE, a produção industrial de junho registrou estabilidade frente a maio na série livre de influências sazonais, após dois meses consecutivos de altas. Na comparação com junho de 2016, a indústria assinalou variação positiva de 0,5%. Assim, a indústria acumulou acréscimo de 0,5% no primeiro semestre do ano, em comparação com o mesmo período de 2016. O indicador acumulado dos últimos doze meses frente a igual período imediatamente anterior apresentou variação negativa de 1,9%.
Categorias de Uso. Entre as categorias de uso, na comparação com o mês imediatamente anterior, bens de consumo duráveis registrou a queda mais acentuada do mês (6%), seguido do setor produtor de bens de consumo semi e não-duráveis (-0,5%). Por outro lado, os segmentos de bens de capital (0,3%) e de bens intermediários (0,1%) assinalaram os resultados positivos em junho de 2017.
No confronto com junho de 2016, o setor produtor de bens de consumo duráveis assinalou o maior crescimento entre as categorias de uso (5%). Os segmentos de bens intermediários (0,9%) e de bens de capital (0,3%) também mostraram resultados positivos nesse mês. O setor produtor de bens de consumo semi e não-duráveis apontou a única taxa negativa (-1,8%).
No acumulado do ano, os bens de consumo duráveis (10%) e bens de capital (2,9%) mostraram maior dinamismo, impulsionados pela ampliação na fabricação de automóveis (17,1%) e eletrodomésticos (11,2%), na primeira; e de bens de capital agrícola (19,6%), para construção (23,8%) e para uso misto (11,5%), na segunda. Em sentido contrário, os setores produtores de bens de consumo semi e não-duráveis (-1,2%) e de bens intermediários (-0,1%) assinalaram taxas negativas.
Setores. A estabilidade da produção industrial entre maio e junho foi resultado do recuo de 12 dos 24 ramos pesquisados, com destaque para veículos automotores, reboques e carrocerias (-3,9%), produtos farmoquímicos e farmacêuticos (-9,2%), coque, produtos derivados do petróleo e biocombustíveis (-1,7%), equipamentos de informática, produtos eletrônicos e ópticos (-4,9%), outros equipamentos de transporte (-6,8%) e produtos de metal (-2,0%). Entre os nove ramos que ampliaram a produção nesse mês, o desempenho de maior importância para a média global foi assinalado por produtos alimentícios (4,5%), seguido por pelas indústrias extrativas (1,3%), máquinas e equipamentos (2,0%) e bebidas (1,7%).
Na comparação com junho de 2016, a produção industrial mostrou expansão de 0,5%, influenciada pelo aumento da produção de 13 dos 26 ramos pesquisados. Vale citar que junho de 2017 (21 dias) teve um dia útil a menos o que igual mês do ano anterior (22). Entre as atividades, os destaques positivos ficaram para produtos alimentícios (7,2%), indústrias extrativas (4,5%), veículos automotores, reboques e carrocerias (6,6%), máquinas e equipamentos (5,8%), produtos do fumo (30,0%), equipamentos de informática, produtos eletrônicos e ópticos (10,9%) e celulose, papel e produtos de papel (5,1%). Por outro lado, as principais influências no total da indústria foram registradas por coque, produtos derivados do petróleo e biocombustíveis (-5,3%), produtos farmoquímicos e farmacêuticos (-18,7%), outros produtos químicos (-6,5%), outros equipamentos de transporte (-22,4%), impressão e reprodução de gravações (-33,1%), máquinas, aparelhos e materiais elétricos (-10,7%) e produtos de minerais não-metálicos (-4,6%).
No índice acumulado para o fechamento do primeiro semestre de 2017, frente a igual período do ano anterior, o setor industrial mostrou avanço de 0,5%, com alta de 13 dos 26 ramos. O principal impacto positivo foi observado em veículos automotores, reboques e carrocerias (11,7%) e indústrias extrativas (6,0%). Outras contribuições positivas relevantes sobre o total nacional vieram de equipamentos de informática, produtos eletrônicos e ópticos (18,6%), metalurgia (3,6%), confecção de artigos do vestuário e acessórios (5,1%) e máquinas e equipamentos (2,4%). Já entre as atividades que apontaram redução na produção, destacaram-se: coque, produtos derivados do petróleo e biocombustíveis (-7,6%), produtos alimentícios (-2,2%), máquinas, aparelhos e materiais elétricos (-7,4%), produtos farmoquímicos e farmacêuticos (-6,8%), outros equipamentos de transporte (-11,6%), produtos de minerais não-metálicos (-3,9%) e impressão e reprodução de gravações (-14,2%).