Análise IEDI
Mudança no crédito para as empresas?
Os dados sobre o crédito divulgados hoje pelo Banco Central mostram que as condições de financiamento continuam contribuindo menos do que poderiam para a recuperação da economia. Mas não podemos negar que este quadro, que não chega a ser favorável, já foi muito pior.
Em termos reais, as concessões totais acumuladas no primeiro semestre de 2017 cresceram quase nada, apenas 0,4% frente a igual período de 2016, mas isso está longe do tombo registrado no ano passado, quando a retração atingiu 12,6%.
Como temos enfatizado em análises anteriores, muito dessa evolução de 2017 se deve às concessões de crédito às famílias (+7,5% em jan-jun/17) e não às empresas (-7,9%). O mês de junho, contudo, mostra alguma reação no financiamento corporativo, o que pode vir a ser o início de uma nova etapa.
Dois aspectos são dignos de nota. O primeiro deles é que em junho as concessões em termos reais (já descontada a inflação pelo IPCA) às empresas se aproximaram muito da estabilidade (-0,8% ante jun/16). Isso ocorreu devido ao retorno ao positivo das concessões livres (+3,3%), depois de quase dois anos seguidos de declínio na comparação interanual em termos reais. Este é um fato importante porque o crédito livre é aquele que mais prontamente reage às mudanças do crédito.
O segundo aspecto foi o recuo da inadimplência total das empresas – mas também das famílias – depois de três meses seguidos de elevação. Em junho, retornou para níveis do final do ano passado: 3,6% em jun/17 contra 3,5% em dez/16.
As variações reais frente a igual período do ano anterior abaixo mostram o desempenho setorial do crédito às empresas neste primeiro semestre de 2017. Os dados se referem aos estoques dos empréstimos, que é como o Banco Central divulga esta informação. Por isso, o leitor deve ter em mente que os recuos aqui apresentados refletem quedas muito mais acentuadas das concessões, isto é, dos fluxos de novos empréstimos.
• Indústria Total: -9,6% em 2016 como um todo e -4,2% em jan-jun/2017;
• Serviços Total: -7,7% e -2,6%, respectivamente;
• Agropecuária: -3,5% e -6,2%;
• Outros: -22,3% e -5,2%;
• Total Geral: -8,9% e -3,5%, respectivamente.
Em praticamente todos os grandes setores, a evolução do crédito no primeiro semestre de 2017 não chegou nem perto da dramática situação de 2016, muito embora o sinal negativo tenha se mantido. A contração do financiamento à indústria foi reduzida pela metade. Essa amenização do quadro contemplou sobretudo os segmentos extrativistas (-30,3 em 2016 contra -4,1% em jan-jun/17) e da indústria de transformação (-12,4% contra -5,9%) e em menor medida a construção civil (-9,7% contra -6,7%).
Este movimento foi ainda mais acentuado no caso dos serviços, em especial naqueles de transporte (-16,4% em 2016 contra -1,9% em jan-jun/17) e em outros serviços (-22,3% contra -5,2%). O crédito às empresas do Comércio, por sua vez, teve um desempenho menos marcante, passando de -9,9% para -6,0%.
O único setor a mostrar alguma deterioração nessa primeira metade de 2017 foi a agropecuária, cujo estoque de financiamento declinou 6,2% depois de um resultado de -3,5% em 2016. No extremo oposto esteve um conjunto amplo de atividades que o Banco Central classifica como “outros setores”, para quem a crise do crédito passou por um arrefecimento importante (-5,2% contra -22,3% em 2016).
Resultados Gerais. Os dados de crédito divulgados hoje pelo Banco Central, indicam que o saldo das operações alcançou R$3.078 bilhões em junho, com uma participação de 48,5% sobre o PIB (declínio de 1,6 p.p. frente a junho do ano anterior).
A carteira de crédito com recursos livres atingiu R$1.532 bilhões. Assim, houve queda de -2,4% frente ao mesmo mês do ano anterior, em termos nominais. A parcela destas operações realizada junto a pessoas físicas foi de R$818 bilhões registrando, na mesma base de comparação, incremento nominal de 2,4%. Já o valor das operações junto a pessoas jurídicas alcançou R$713 bilhões, variação negativa de 7,3% também na comparação frente a junho de 2016.
O estoque de crédito com recursos direcionados atingiu R$1.547 bilhões em junho, o que representa, em termos nominais, retração de 0,9% frente ao mesmo mês do ano anterior. O saldo referente a pessoas físicas foi de R$777 bilhões, apresentando, na mesma base de comparação, elevação de 6,5%, enquanto o saldo relativo a pessoas jurídicas foi de R$769 bilhões, recuo de 7,4%.
No mês de junho, foram concedidos R$293,8 bilhões em novas operações de crédito, variação positiva de 3,8% frente ao montante de R$283,1 bilhões observado no mesmo mês do ano anterior. Deste volume, R$261,0 bilhões foram originados de recursos livres e R$32,8 bilhões de recursos direcionados, implicando, na mesma base de comparação, em um aumento de 6,3% para recursos livres e queda de 13,0% para recursos direcionados.
Dentre as concessões de crédito às pessoas físicas a partir de recursos livres, destacaram-se as operações de crédito rotativo (R$ 107,0 bilhões), cartão de crédito (R$80,0 bilhões), crédito não rotativo (R$35,0 bilhões) e cheque especial (R$30,6 bilhões). Já junto às empresas, as principais modalidades foram desconto de duplicatas (R$23,5 bilhões), capital de giro (R$16,1 bilhões), cheque especial (16,5 bilhões) e conta garantida (R$15,9 bilhões).
Nas novas concessões de crédito realizadas com recursos direcionados destacaram-se, para pessoas físicas, as modalidades de financiamento imobiliário (R$8,5 bilhões) e crédito rural (R$8,0 bilhões). Já para as empresas, as principais modalidades foram crédito rural (R$8,5 bilhões) e BNDES (R$4,1 bilhões).
Setores. Considerando o saldo total de crédito do sistema financeiro nacional, a carteira de operações para indústria alcançou R$ 712,4 bilhões, o que representa uma retração nominal de 9,3 frente a junho de 2016. No caso da indústria de transformação, a redução do saldo nominal de crédito foi de 11,4% na mesma comparação, atingindo o valor de R$ 384,5 bilhões. O saldo do setor de serviços foi de R$ 716,5 bilhões, queda nominal de 5,3% em relação ao ano anterior, sendo que comércio e transportes tiveram variações de -7,8% e -11,2% respectivamente. Por fim, o setor agropecuário respondeu por R$22,6 bilhões, valor 4,2% menor, em termos nominais, do que o registrado em junho de 2016.
Juros e Inadimplência. A taxa média de juros nominal atingiu 28,8% a.a. em junho, 3,7 p.p. inferior do que a registrada em igual mês do ano anterior. Nas operações originadas a partir de recursos livres, a taxa média foi de 46,1% a.a. (recuo de 6,5 p.p. em relação a junho de 2016), sendo de 63,3% para pessoas físicas e de 24,8% para pessoas jurídicas. No âmbito das operações de crédito oriundo de recursos direcionados, a taxa média foi de 10,2% a.a. (diminuição de 1,3 p.p. na mesma base de comparação), sendo 9,2% para pessoas físicas e 11,7% para pessoas jurídicas.
A inadimplência total de junho aumentou 0,2 p.p. frente ao ano anterior, atingindo 3,7%. Nas operações feitas com recursos livres, a taxa de inadimplência registrada foi de 5,6% e nas operações direcionadas de 1,9%. A inadimplência de pessoas físicas em junho foi de 3,9% e a de pessoas jurídicas de 3,6%.