Análise IEDI
Recuperação em um ambiente desfavorável
A Carta IEDI que está sendo divulgada hoje mostra que sinais de um quadro econômico menos adverso continuam se somando na economia brasileira. Contudo, o processo de recuperação será lento, porque as perdas acumuladas na produção, no emprego e na renda real, assim como no faturamento e nos lucros das empresas foram gigantescas, de modo que somente ao longo do tempo poderão ser revertidas.
A razão para isso é a existência de um ambiente macroeconômico ainda pouco favorável ao crescimento econômico, em função do desemprego elevado, do atraso do Banco Central em reduzir os juros diante da expressiva desaceleração inflacionária, do crédito escasso (especialmente às empresas) e ainda muito caro (especialmente para as famílias), da dificuldade da retomada dos investimentos em infraestrutura frente à contração do investimento público, entre vários outros fatores.
O mercado externo tem dado alguma contribuição para o dinamismo, mas é muito menor do que poderia ser, caso o país não tivesse deixado ir tão longe o encarecimento dos custos sistêmicos que tanto retira competitividade externa, sobretudo da indústria. Nesse sentido, o anúncio de suspender a recomposição de alíquota do Reintegra em 2018, sob a necessidade de gerar receita fiscal para o governo, joga contra a ampliação dos esforços exportadores das empresas nacionais.
Um dos aspectos a caracterizar este ambiente são os ritmos ainda muito distintos entre os principais setores da economia. O crescimento da indústria, que já não era expressivo no primeiro trimestre (+1,0% frente ao mesmo período do ano anterior), perdeu força no trimestre seguinte (+0,2%). Em contrapartida, as vendas reais do comercio varejista voltaram a crescer em abril-junho (+2,5% frente ao 2º trim/16), algo que não ocorria desde o final de 2014. Já o setor de serviços continua amargando perdas, porém em ritmo menos acentuado (-3,6%).
Estes movimentos de redução das quedas ou de retorno ao positivo contaram com a ajuda da reação parcial do crédito real às famílias e da exportação de alguns manufaturados, notadamente de veículos, além de outros fatores como a safra agrícola excepcionalmente boa e a liberação de recursos do FGTS. Os efeitos positivos destes últimos não devem se repetir em sua integralidade nos próximos meses. Ao que parece, pelo menos para a indústria, já não se repetiram no segundo trimestre do ano.
A indústria ficou estagnada em junho em comparação com maio, já descontados os efeitos sazonais. Desse modo, se a economia brasileira apresentou resultado positivo neste mês, como sugere o índice IBC-Br do Banco Central (+0,5% ante maio com ajuste), foi devido ao crescimento mais expressivo do varejo (+1,2% no conceito restrito e +2,5% no ampliado) e dos serviços (+1,3%).
O indicador do Banco Central, que funciona como uma proxy do crescimento do PIB, também apontou para uma desaceleração importante na passagem do primeiro para o segundo trimestre do ano. Já descontados os efeitos sazonais, a alta de 1,2% em janeiro-março de 2017, frente aos três meses antecedentes, foi reduzida para apenas 0,25% em abril-junho.
É preciso, agora, que esses processos positivos tenham sequência, de forma a contemplar um número cada vez maior de setores econômicos, o que deve exigir uma melhora mais generalizada do ambiente macroeconômico, compensando a menor contribuição de algumas fontes de dinamismo em operação na primeira metade do ano.