Análise IEDI
Alta concentração
Nos primeiros seis meses de 2017, o Brasil acumulou um saldo de balança comercial de US$ 36,2 bilhões, o que representa quase 80% do saldo total do ano passado (US$ 47,7 bilhões). Diferentemente de 2016, quando a melhora do saldo era resultado da expressiva contração das importações, este resultado na primeira metade de 2017 se deve ao nosso bom desempenho exportador (+19,3% ante o primeiro semestre de 2016), muito superior ao crescimento das importações (+7,3%).
Dito de outra maneira, não é apenas a magnitude do saldo que melhorou, mas também as suas causas. Mas há um aspecto não tão favorável em nosso comércio exterior em 2017, pois o avanço das exportações está, em grande medida, concentrado em alguns poucos segmentos.
Em primeiro lugar, cabe notar que, graças ao aumento dos preços das commodities, são os produtos básicos os grandes responsáveis (64%) pelo aumento de US$ 17,4 bilhões das exportações totais no primeiro semestre de 2017 contra igual período do ano anterior. As contribuições dos manufaturados (20%) e semimanufaturados (13%), por sua vez, foram bem menores.
Além disso, também é alta a concentração do avanço das exportações em cada um desses segmentos. Somente nove grupos de produtos explicam toda a melhora das vendas externas do país. Os dados abaixo mostram as contribuições dos principais produtos exportados pelo Brasil em cada um dos segmentos na melhora obtida em relação ao primeiro semestre do ano passado:
• Básicos (+ US$ 11,3 bilhões): petróleo bruto (46%); minério de ferro (41%) e soja em grão (25%);
• Semimanufaturados (+ US$ 2,3 bilhões): açúcar bruto (52%), ferro/aço (35%) e celulose (13%);
• Manufaturados (+ US$ 3,5 bilhões): veículos de passeio e de carga (49%); açúcar refinado (11%) e laminados planos (9%).
Em manufaturados, ainda que a contribuição da indústria automobilística tenha sido preponderante, o aumento das vendas externas se mostrou relativamente menos concentrado, incluindo produtos como calçados (+17,1% frente ao 1ºSem/16), máquinas p/terraplanagem (+32,0%), óxidos/hidróxidos de alumínio (+13,1%), autopeças (+12,5%), pneumáticos (+9,9%) e bombas e compressores (+4,1%), entre outros produtos.
Já do lado das importações, chama atenção a contração nos primeiros seis meses do corrente ano em patamares ainda muito elevados de bens de capital (-27,7% frente ao 1º Sem/16), cujo impacto nas importações totais tem sido compensado pelo aumento das importações de bens de consumo (+5,3%) e de combustíveis e lubrificantes (+30,1%).
Com isso, são as compras externas de bens intermediários que vêm explicando o resultado positivo das importações totais. Frente ao primeiro semestre de 2016, seu crescimento chegou a 13%, alavancado sobretudo pelo aumento das importações de insumos industriais (+16,5%), que reflete o atual quadro de menor adversidade da indústria.
De acordo com os dados divulgados pelo MDIC, em junho a balança comercial brasileira apresentou superávit de US$7,195 bilhões. A elevação foi de 81,3% frente ao mesmo mês do ano anterior, em que o saldo positivo fora de US$3,971 bilhões.
As exportações alcançaram US$19,788 bilhões, o que representa um incremento de 18,2% em relação a junho do ano passado, enquanto as importações atingiram US$12,593 bilhões, retraão de -1,4% na mesma base de comparação.
No mês, a média diária das exportações somou US$942,3 milhões, uma expansão de 23,8% frente a junho de 2016. Já a média diárias das importações foi de US$599,7 milhões, variação de 3,3% na mesma base de comparação.
Exportações por fator agregado. A exportação de produtos básicos foi de US$9,591 bilhões no mês, variação de 22,6% em relação a junho de 2016. Nesta mesma comparação, os produtos semimanufaturados somaram US$2,990 bilhões e os manufaturados US$6,752 bilhões, com oscilações de 22,3% e 10,8%, respectivamente.
Levando em conta as médias diárias das exportações, na comparação com igual mês de 2016 houve aumento de: 28,5% para produtos básicos, 28,2% para semimanufaturados, 24,2% para operações especiais e 16,1% para manufaturados.
Destaques exportações. Na comparação com junho de 2016, considerando o grupo dos produtos básicos, os destaques positivos foram: milho em grãos, com US$91,0 milhões e expansão de 2.175%; petróleo em bruto, com crescimento de 114,1% para US$2,0 bilhões; minério de ferro (incremento de 32,2%, com US$1,4 bilhão); carne suína (+31,2%, para US$142,0 milhões); fumo em folhas (+22,8%, para 213,0 milhões) e soja em grão (elevação de 18,2%, chegando a US$3,4 bilhões).
Para os semimanufaturados, na mesma base de comparação, os aumentos mais relevantes foram: 75,6% em ferro fundido (para US$57,0 milhões), 46,4% em açúcar em bruto (para US$1,1 bilhão), 45,1% em celulose (para US$620 milhões) e 36,1% em semimanufaturados de ferro/aço (para US$312,0 milhões).
Também na comparação com junho de 2016, a elevação dos embarques de produtos manufaturados teve como principais oscilações positivas: tubos flexíveis de ferro/aço (+86,6%, para US$156 milhões), torneiras/válvulas (+82,7%, para US$100,0 milhões), máquinas para terraplanagem (+76,3%, para US$ 184 milhões), tratores (+74,3%, para US$ 126 milhões), automóveis de passageiros (+69,5%, para US$ 584 milhões), laminados planos (+60,7%, para US$ 206 milhões) e veículos de carga (+54,5%, para US$ 292 milhões).
Importações por categoria de uso. Dos US$12,593 bilhões importados em junho, US$1,261 bilhão foram referentes ao grupo de bens de capital, US$7,873 bilhões a bens intermediários, US$1,816 bilhão a bens de consumo e US$1,641 bilhão a combustíveis e lubrificantes. Os segmentos acima tiveram variações de -52,7%, 8,4%, 2,7% e 55,1% frente ao mesmo período do ano anterior, respectivamente.
As oscilações dos diferentes segmentos levando em consideração as médias diárias foram as seguintes: combustíveis e lubrificantes (62,5%), bens intermediários (13,6%), bens de consumo (7,6%) e bens de capital (-60,5%).
Destaques importações. No segmento combustíveis e lubrificantes, o crescimento ocorreu principalmente devido ao aumento nas entradas de óleo diesel, gasolina, carvão, gás natural, querosene de aviação e coque de hulha.
Dentre os bens intermediários, as principais elevações couberam às compras de nafta para petroquímica, álcool etílico, partes para aparelhos receptores, adubos e fertilizantes, cloreto de potássio, superfosfatos, partes de aparelhos de telefonia e memórias digitais montadas.
No que se refere aos bens de consumo, as principais altas foram observadas em produtos imunológicos, medicamentos, automóveis, frações de sangue, imunoglobina, uísques, cobertores/mantas e produtos de beleza.
Por fim, dentre os bens de capital, as quedas mais significativas foram as dos seguintes itens: fornos não elétricos, fornos industriais, aparelhos para depurar gases, elevadores para transportar mercadorias, trocadores de calor, quadros de energia e transformadores.