Análise IEDI
Reação em vários segmentos
As vendas reais do comércio varejista, em seu conceito restrito, registraram alta de 1,9% em abril deste ano frente ao mesmo mês de 2016, o que é uma novidade em seu percurso recente, já que nos 24 meses anteriores só houve queda. Na série com ajuste, a alta foi de 1% frente a março. Tomado em seu conceito ampliado, que inclui as vendas de automóveis e material de construção, o varejo não apresentou um quadro muito distinto: quase estabilidade frente a abril de 2016 (-0,4%) e crescimento na margem (+1,5%).
À medida que o ano avança, vai se formando um quadro para o comércio varejista segundo o qual este, se não voltou indubitavelmente a crescer, ao menos conseguiu estancar a fase tão adversa que vivenciou ao longo de 2015 e 2016. Ilustra esta nova etapa a comparação do resultado de 2016 como um todo com o do acumulado em 2017 até abril: -6,3% contra -1,6%, respectivamente (-8,7% e -1,8% no conceito ampliado). Vale enfatizar, contudo, que tal processo de melhora se iniciou há pouco e por isso continua muito sujeito a impactos negativos vindos, sobretudo, do contexto político.
Com uma inflação menor, alguma melhora nas concessões de crédito a pessoas físicas e fatores extras, como a liberação dos recursos de contas inativas do FGTS, as famílias vêm conseguindo recompor, em doses moderadas, alguns gastos de consumo que a restrição da renda e o desemprego – ou o medo dele – acabaram reprimindo nos dois últimos anos.
Como veremos a seguir, uma fase “menos ruim” do varejo é algo que marca a evolução de muitos segmentos importantes, embora em graus bastante diferentes, o que é típico de fases iniciais de recuperação. Enquanto alguns já voltaram a registrar resultados positivos, mais de um mês seguido em certos casos, outros ainda estão reduzindo perdas e se aproximam da estabilidade.
As vendas de supermercados, alimentos, bebidas e fumo, um dos segmentos de maior peso no varejo, cresceram tanto na série com ajuste sazonal (+0,9% frente a mar/17) como na comparação interanual (+3,5%), depois de dois meses de declínio de intensidade não desprezível. Em tais resultados, contudo, há que se considerar o fato de que a Páscoa – uma época relevante para as vendas desse segmento – não ocorreu em meses equivalentes de 2017 (abril) e 2016 (março).
Mas este efeito calendário não explica o bom resultado em abril de outros segmentos, nem a existência de trajetórias favoráveis em alguns deles, como sugerem as variações frente ao mês anterior com ajuste sazonal apresentadas abaixo.
• Varejo restrito: -0,4% em fev/17; -1,2% em mar/17 e +1,0% em abr/17;
• Supermercado, alimentos, bebidas e fumo: -1,7%; -4,3% e +0,9%;
• Tecidos, vestuário e calçados: +1,2%; -0,6% e +3,5%;
• Móveis e eletrodomésticos: +2,0%; +6,5% e -2,8%;
• Equip. e mat. de escritório, informática e comunicação: -2,1%; +2,2% e +10,2%;
• Outros artigos de uso pessoal e doméstico: -1,6%; +1,5% e +0,1%, respectivamente.
Dentre aqueles cuja evolução tem se destacado positivamente estão tecidos, vestuário e calçados e móveis e eletrodomésticos. Neste último caso, o declínio de abril não muda o fato de que as altas têm preponderado desde outubro do ano passado na série com ajuste sazonal. Com isso, no acumulado dos quatro primeiros meses de 2017, estes dois segmentos do varejo já voltaram a crescer: +6,3% e +2,2%, respectivamente.
Também em alta no acumulado do ano estão as vendas reais de material de construção (+2,9%), mas aqui a trajetória recente tem sido marcada por maior oscilação nos resultados, seja na série com ajuste, seja na comparação interanual. O mesmo tem ocorrido no segmento de veículos e autopeças, mas neste caso o acumulado do ano continua negativo (-8,8%).
Outros dois segmentos vêm acompanhando este quadro menos adverso no varejo: equipamentos e materiais para escritório, informática e comunicação, de um lado, e outros artigos de uso pessoal e doméstico, de outro. Ambos cresceram em abril último, na margem e na comparação interanual, conseguindo reduzir acentuadamente suas perdas. O resultado no acumulado até abril de 2017 foi -7,7% no primeiro caso (contra -12,3% em 2016 como um todo) e -3,1% no segundo caso (contra -9,5% em 2016).
De acordo com dados de abril de 2017 da Pesquisa Mensal do Comércio divulgados hoje pelo IBGE, o índice de volume de vendas do comércio varejista no Brasil, a partir de dados dessazonalizados, registrou elevação de 1,0% em relação a março. Na comparação com abril do ano passado, houve aumento de 1,9%. No acumulado do ano e nos últimos 12 meses, os resultados seguem em contração: -1,6% e -4,6%, respectivamente.
O volume de vendas do comércio varejista ampliado, que inclui vendas de veículos, motos, partes e peças e de materiais de construção, apresentou crescimento de 1,5% sobre março, a partir de dados livres de influências sazonais. Na comparação com abril de 2016, houve queda de 0,4%. Já nos resultados do acumulado do ano e nos últimos 12 meses, as variações foram de -1,8% e -6,3%, respectivamente.
A partir de dados dessazonalizados, verificou-se alta nos seguintes itens em abril frente ao mês imediatamente anterior: equipamento e material para escritório, informática e comunicação (10,2%); tecidos, vestuário e calçados (3,5%); hipermercados, supermercados, produtos alimentícios, bebidas e fumo (0,9%); e outros artigos de uso pessoal e doméstico (0,1%). As atividades que apresentaram oscilações negativas foram: livros, jornais, revistas e papelaria (-4,1%); móveis e eletrodomésticos (-2,8%); combustíveis e lubrificantes (-0,8%); e artigos farmacêuticos, médicos, ortopédicos e de perfumaria (-0,4%). No comércio varejista ampliado, houve retração em materiais de construção (-1,9%) e em veículos, motos, partes e peças (-0,3%).
Em relação ao mês de abril de 2016, quatro itens que integram o comércio varejista restrito tiveram aumentos: tecidos, vestuário e calçados (10,8%); equipamento e material para escritório, informática e comunicação (4,5%); hipermercados, supermercados, produtos alimentícios, bebidas e fumo (3,5%); e outros artigos de uso pessoal e doméstico (3,4%). Quedas foram verificadas em: combustíveis e lubrificantes (-4,2%); livros, jornais, revistas e papelaria (3,2%); artigos farmacêuticos, médicos, ortopédicos e de perfumaria (3,2%); e móveis e eletrodomésticos (-0,1%). No comércio varejista ampliado, se registraram recuos de -12,0% em veículos, motos partes e peças e de -1,3% em materiais de construção.
No acumulado do ano, o comércio de tecidos, vestuário e calçados (6,3%) e de móveis e eletrodomésticos (2,2%) tiveram incrementos. Os demais setores tiveram contrações, sendo as mais intensas em equipamento e material para escritório, informática e comunicação (-7,2%), combustíveis e lubrificantes (-5,2%) e livros, jornais, revistas e papelaria (-4,8%). No comercio varejista ampliado, veículos, motos, partes e peças teve alta de 8,8% e materiais de construção teve expansão de 2,9%.
Em 12 meses, todos os segmentos seguem com resultados negativos, com destaque para: livros, jornais, revistas e papelaria (-12,2%), equipamentos e materiais para escritório, informática e comunicação (-9,4%), combustíveis e lubrificantes (-7,8%), móveis e eletrodomésticos (-7,1%) e outros artigos de uso pessoal e doméstico (-6,7%). No comércio varejista ampliado, as variações de material de construção e veículos, motos, partes e peças foram de -5,2% e -12,6%, respectivamente.
Houve elevação no volume de vendas no varejo em 13 unidades da federação pesquisadas em relação a abril de 2016. As maiores foram observadas em Santa Catarina (24,5%), Amazonas (9,9%), Alagoas (6,6%), Pernambuco (6,1%) e Rio Grande do Sul (5,9%). As contrações de maior intensidade foram verificadas em Goiás (-10,3%), Roraima (-9,5%), Piauí (-8,3%), Distrito Federal (-7,9%), Ceará (-7,6%) e Sergipe (-7,5%).
Quanto ao varejo ampliado, na mesma base de comparação, 17 unidades federativas tiveram diminuição do volume comercializado, sendo as maiores observadas em Rondônia (-11,0%), Goiás (-10,5%) e Piauí (-9,8%).