Análise IEDI
A contribuição da indústria
A taxa de desocupação do país no trimestre findo em abril de 2017 atingiu 13,6%, mantendo-se em um patamar indiscutivelmente elevado, embora tenha apontado um pequeno recuo frente ao resultado do trimestre findo em março (13,7%). Foi a primeira vez que isso ocorre desde início de 2015 e se deveu a uma desaceleração do aumento da desocupação neste último trimestre móvel.
Outros três pontos merecem ser sublinhados nos dados da PNAD divulgados hoje pelo IBGE: o papel importante da indústria no arrefecimento do desemprego, a importância da desaceleração da inflação na recuperação do rendimento real e, por fim, a volta ao positivo da massa de rendimentos.
O primeiro destaque remete a uma diminuição menos acentuada da ocupação. O ano de 2016 foi particularmente ruim na geração de empregos, com quedas que chegaram a 2,6% no trimestre ago-set-out com relação ao mesmo trimestre do ano anterior. Ultimamente esta tendência perdeu força, registrando -1,5% no trimestre findo em abr/17.
Muito desse quadro “menos ruim” se deve ao desempenho de atividades que nunca deixaram de gerar empregos (como alojamento e alimentação) ou de outras que voltaram a empregar (como comunicação, atividades financeiras, imobiliárias e administrativas), mas também tem sido de grande relevância o fato de que a indústria, que um dia já liderou a redução de postos de trabalho, ter reduzido muito o ritmo de corte de seu efetivo.
No trimestre findo em abr/17, o número de ocupados na indústria recuou 220 mil na comparação interanual, enquanto um ano antes, isto é, no trimestre findo em abr/16 o corte de vagas chegou a quase 1,6 milhão de pessoas. A situação poderia estar melhor, não fossem outros setores que entraram em uma fase mais aguda de desemprego – casos de agropecuária e construção – como mostram as variações da ocupação frente a igual período do ano anterior logo abaixo.
• Indústria: -1,1 milhão de ocupados em ago-set-out/16; -896 mil em nov-dez/16-jan/17 e -220 mil em fev-mar-abr/17;
• Adm. Pública, defesa e serviços sociais: +236 mil; -269 mil e -374 mil, respectivamente;
• Construção: -501 mil; -755 mil e -646 mil;
• Agropecuária: -478 mil; -433 mil e -730 mil;
• Comércio e reparação de veículos: -454 mil; -25 mil e -174 mil;
• Info., comunicação, atividades financ., imob. e admin.: -585 mil; +211 mil e +149 mil;
• Alojamento e alimentação: +326 mil; +393 mil; +547 mil, respectivamente.
O segundo ponto a ser sublinhado é que a desaceleração da inflação tem permitido, a partir do último trimestre do ano passado, uma evolução positiva do rendimento real da população, revertendo uma série de resultados negativos que vinha desde meados de 2015.
Frente ao mesmo período do ano anterior, o rendimento real médio de todos os trabalhos habitualmente recebidos no trimestre findo em abr/17 avançou 2,7%, isto é, quase o dobro da alta do trimestre findo em dez/16 (+1,4%) e o melhor resultado dos últimos três anos (+3,4% em fev-mar-abr/14).
Essa dinâmica do rendimento real tem contrabalanceado, ao menos nos primeiros meses de 2017, o declínio da ocupação de maneira a retirar do vermelho a massa de rendimentos. Agora no trimestre findo em abr/17 a alta foi de 1,1% na comparação interanual. Este é o terceiro ponto a ser sublinhado, porque, caso a trajetória positiva da massa vença os solavancos do quadro político-econômico e se mantenha nos próximos meses, poderá representar um estímulo importante ao consumo de bens e serviços.
De acordo com dados da PNAD Contínua divulgados hoje pelo IBGE, a taxa de desocupação registrada no trimestre compreendido entre fevereiro e abril foi de 13,6%. Tal taxa é 2,4 p.p. maior que a observada no mesmo trimestre do ano passado, de 11,2%. Em relação ao trimestre móvel anterior sem sobreposição (novembro de 2016 a janeiro de 2017), cuja taxa fora de 12,6%, houve aumento de 1,0 p.p.
O valor rendimento real médio de todos os trabalhos habitualmente recebidos foi de R$2.107,00, representando expansão de 2,7% frente ao mesmo trimestre de referência do ano anterior (R$2.052,00). A massa de rendimentos reais de todos os trabalhos habitualmente recebidos, por sua vez, alcançou R$183,3 bilhões no trimestre encerrado em abril, elevação de 1,1% frente ao mesmo trimestre de 2016 (R$181,2 bilhões).
No trimestre de referência a população ocupada foi de 89,2 milhões de pessoas, 1,5% a menos que o registrado no mesmo trimestre do ano anterior. Ainda nesta comparação, o número de pessoas dentro da força de trabalho apresentou aumento de 1,2%, atingindo 103,3 milhões; enquanto o número de desocupados se elevou 23,1%, chegando a 14,0 milhões de pessoas.
O número de pessoas ocupadas cresceu nas seguintes categorias na comparação interanual: empregador (10,6%), trabalho privado sem carteira (3,1%) e trabalho familiar auxiliar (1,8%). As demais categorias tiveram retração: trabalho privado com carteira (-3,6%), trabalhador por conta própria (-3,1%), trabalho doméstico (-1,9%) e setor público (-0,6%).
Ainda com base no mesmo período do ano anterior, os grupamentos de atividades que apresentaram maior crescimento da ocupação foram: alojamento e alimentação (12,1%), outros serviços (4,2%), informação, comunicação e atividades financeiras (1,5%) e transporte, armazenagem e correios (0.8%). Os outros grupamentos tiveram diminuições na ocupação das seguintes ordens: construção (-8,7%), agricultura, pecuária, produção florestal, pesca e aquicultura (-7,7%), serviços domésticos (-2,6%), administração pública, defesa, seguridade, educação, saúde e serviços sociais (-2,4%), indústria (-1,9% e comercio, reparação de veículos automotores e motocicletas (-1,0%).