Análise IEDI
Sem crédito às empresas
Os dados divulgados hoje pelo Banco Central mostram que as condições de financiamento da economia permanecem muito precárias. As concessões reais tiveram mais um mês de contração em termos reais (-5,0% frente a abr/16) e os juros dos empréstimos movem-se muito lentamente em direção a patamares menores (30,2% a.a., em termos nominais, para média do total das concessões em abril). Sem crédito, sobretudo em condições compatíveis à realidade dos agentes econômicos, é difícil visualizar uma efetiva trajetória de recuperação do nível de atividade.
Em 2017, embora não tenhamos sinais generalizados de uma reversão desse quadro ainda complicado, a escassez do crédito não tem sido tão drástica como no ano anterior. O ritmo de queda das concessões reais no acumulado do ano ilustra bem esse movimento, já que o desempenho de -1,7% em janeiro-abril é bastante inferior ao de -12,6% para o ano de 2016 como um todo.
Mas a evolução geral encobre resultados muito negativos em alguns segmentos. Um dos aspectos mais preocupantes é que o financiamento às empresas continua bloqueado, como mostram as comparações interanuais logo abaixo.
• Total das concessões reais: -12,6% em 2016 como um todo; -0,5% no primeiro trimestre de 2017 e -5,0% agora em abril último;
• Concessões reais a Pessoas Jurídicas: -14,9%; -9,3% e -12,5%, respectivamente;
• Concessões reais a Pessoas Físicas: -10,5%; +7,0% e +1,6% nas mesmas comparações.
À exceção de pouquíssimos meses (apenas três), as concessões reais às empresas estão em retração desde abril de 2014, isto é, já são praticamente três anos em que têm comprometidas suas condições de financiamento. Além disso, o nível médio dos juros nominais desses empréstimos se manteve acima de 20% ao ano desde meados de 2015, caindo abaixo deste patamar só agora no mês de abril de 2017, mas permanecendo muito próximo dele (19,2% a.a.).
Com juros elevados, crédito em contração e ambiente econômico muito adverso não surpreende que a inadimplência das empresas teime em não ceder. Na verdade, a marca de 3,8% em abril de 2017 é a maior da série histórica do BC, iniciada em março de 2011. Esse aspecto, ao justificar spreads bancários em elevação, retardam ainda mais o repasse da redução da taxa básica de juros (Selic) às taxas dos empréstimos.
Esse contexto do financiamento às empresas contrasta com aquele do crédito às famílias, que nesses primeiros meses de 2017, voltou a crescer em termos reais, puxado principalmente pelo crédito consignado, pelo financiamento de aquisição de veículos e cartão de crédito.
As taxas médias de juros desses empréstimos a pessoas físicas também têm recuado, passando de 42,0% a.a., em dez/16, para 38,7% a.a. em abr/17, em termos nominais, a despeito de certo aumento dos spreads bancários. A inadimplência, por sua vez, se não apresenta declínio, pelo menos vem se mantendo estável, em 4,0% desde o início do ano.
Os dados de crédito divulgados hoje pelo Banco Central indicam que o saldo das operações alcançou R$ 3.072 bilhões em abril, com uma participação de 48,4% sobre o PIB (declínio de 2 p.p. frente ao mês imediatamente anterior). As operações de crédito realizadas a partir de recursos livres e direcionados responderam por 24,0% e 24,4% do PIB, respectivamente.
A carteira de crédito com recursos livres atingiu R$ 1.526 bilhões, queda de 0,6% frente ao mês anterior, em termos nominais. Em relação a abril de 2016, a retração nominal foi de 3,2%. A parcela destas operações realizada junto a pessoas físicas foi de R$ 806 bilhões, registrando diminuição nominal de 0,4% em relação ao mês anterior e expansão de 1,2% frente ao mesmo mês de 2016. Já o valor das operações junto a pessoas jurídicas alcançou R$ 719 bilhões, oscilação negativa de 0,8% frente a março e de 7,8% em relação a abril de 2016.
O estoque de crédito com recursos direcionados atingiu R$ 1.546 bilhões em abril, o que representa, em termos nominais, crescimento de 0,2% frente ao mês anterior e decréscimo de 1,1% na comparação com o mesmo mês de 2016. O saldo referente a pessoas físicas foi de R$ 771 bilhões, apresentando elevação de 0,6% frente a março, enquanto o saldo relativo a pessoas jurídicas foi de R$ 775 bilhões, recuo de 0,3% na mesma base de comparação.
No mês de abril, foram concedidos R$ 244 bilhões em novas operações de crédito, variação negativa de 5,4% frente ao montante de R$ 258 bilhões observado no mesmo mês do ano anterior. Deste volume, R$ 218 bilhões foram originados de recursos livres e R$ 25 bilhões de recursos direcionados, implicando, na mesma base de comparação, em retrações de 5,1% e 8,9%, respectivamente.
Dentre as concessões de crédito às pessoas físicas a partir de recursos livres, destacaram-se as operações de crédito rotativo (R$ 98,6 bilhões), cartão de crédito (R$ 72,8 bilhões), cheque especial (R$ 28,4 bilhões) e crédito não rotativo (R$ 27,8 bilhões). Já junto às empresas, as principais modalidades foram conta garantida (R$ 16,0 bilhões), cheque especial (R$ 15,6 bilhões), desconto de duplicatas (R$ 14,1 bilhões) e capital de giro (R$ 10,9 bilhões).
Nas novas concessões de crédito realizadas com recursos direcionados destacaram-se, para pessoas físicas, as modalidades de financiamento imobiliário (R$ 6,3 bilhões) e crédito rural (R$ 4,9 bilhões). Já para as empresas, as principais modalidades foram BNDES (R$ 5,9 bilhões) e crédito rural (R$ 5,3 bilhões).
Setores. Do saldo total de crédito do sistema financeiro nacional, a carteira de operações para a indústria alcançou R$ 724 bilhões, o que representa uma retração nominal de 0,7% frente a março. No caso da indústria de transformação, a redução do saldo nominal de crédito foi de 1,1% na mesma comparação, atingindo o valor de R$ 393 bilhões. O saldo do setor de serviços foi de R$ 717 bilhões, queda nominal de 0,4% em relação ao mês imediatamente anterior, sendo que comércio e transportes tiveram variações de -1,1% e 1,2% respectivamente. Por fim, o setor agropecuário respondeu por R$ 22 bilhões, valor 1,1% menor, em termos nominais, do que o registrado em março.
Juros e Inadimplência. A taxa média de juros total atingiu 30,2% a.a. em abril. Nas operações originadas a partir de recursos livres, a taxa média foi de 49,1% a.a. (recuo de 3,4 p.p. em relação ao mês anterior), sendo de 68,1% para pessoas físicas e 26,3% para pessoas jurídicas. No âmbito das operações de crédito oriundo de recursos direcionados, a taxa média foi de 9,9% a.a. (diminuição de 6 p.p. frente ao mês anterior), sendo 9,0% para pessoas físicas e 11,0% para pessoas jurídicas.
A inadimplência total de abril ficou estável em relação a março e teve leve alta de 0,3 p.p. em 12 meses, atingindo 3,8%. Nas operações feitas com recursos livres, a taxa de inadimplência registrada foi de 5,9% para pessoas físicas e 5,6% para pessoas jurídicas, enquanto nos contratos feitos com recursos direcionados, a taxa foi de 2,1% para as famílias e 2,2% para empresas.