Análise IEDI
Um trimestre adverso
Para o primeiro trimestre deste ano, havia quem esperasse um sinal de melhora no quadro do emprego, vindo principalmente do trabalho formal, mas essa expectativa não se confirmou, segundo os dados divulgados hoje pelo IBGE. A taxa de desemprego subiu para 13,7% e o número de desocupados chegou a 14,2 milhões, em grande medida devido à redução de postos de trabalho com carteira assinada.
Houve sim um sinal positivo vindo não do emprego, mas do rendimento real, que, frente ao primeiro trimestre de 2016, cresceu 2,5% quando considerados todos os rendimentos habitualmente recebidos. Isso se deve à desaceleração da inflação e é importante porque permite alguma manutenção do padrão de gasto da população a despeito da situação muito dura no emprego.
A massa de rendimentos, que é a base para o consumo de bens e serviços, continua praticamente estagnada (+0,7% frente ao 1º trim/2016) porque o desemprego segue em alta. No trimestre findo em março último, foram 3,1 milhões a mais de desocupados e a principal causa desse avanço foi a contração da ocupação, que veio em uma intensidade das mais elevadas (-1,7 milhão). O contingente de pessoas em busca de trabalho também voltou a se acelerar, aumentando em 1,4 milhão, de forma a impulsionar a taxa de desocupação.
Em seguida, buscamos identificar o perfil desse novo episódio de retração do emprego, isto é, quais posições e setores mais têm contribuído para isso. Abaixo, estão alguns destaques sobre da evolução dos diferentes tipos de ocupação no primeiro trimestre de 2017, quando comparado com igual período do ano anterior.
• Com queda expressiva: trabalho com carteira assinada (-1,2 milhão de ocupados) e trabalho por conta própria (-1,1 milhão).
• Em alta moderada: trabalho sem carteira assinada (+461 mil ocupados) e empregadores (+403 mil).
Mas a mudança mais importante no perfil da ocupação se deu no corte setorial. Pela primeira vez depois de meados de 2015, a indústria não lidera a redução de vagas, funcionando como o principal motor da desocupação do país.
No primeiro trimestre de 2017, o número de ocupados no setor industrial recuou 342 mil frente a igual período do ano anterior. O resultado do emprego industrial permanece negativo, mas a intensidade da queda é quase 1/5 do que já foi há exatamente um ano (-1,5 milhão no 1º trim/2016 contra igual período do ano anterior).
Dois setores ultrapassaram a indústria no número de redução de ocupados: agropecuária, cujo declínio de 758 mil significa uma deterioração expressiva diante da sua evolução na segunda metade de 2016 (em torno de -420 mil em ambos os trimestres), e o setor da construção, com queda de 719 mil ocupados.
Outros dois setores são dignos de nota devido à piora sofrida no primeiro trimestre deste ano. É o caso do comércio e reparação de veículos, cujo número de ocupados caiu 233 mil frente a igual período do ano anterior, depois de ter encerrado 2016 com uma queda bem abaixo desta marca (-75 mil no último trimestre). É o caso também do emprego na administração pública, defesa e serviços sociais, que entrou no negativo apenas no quarto trimestre de 2016 (-109 mil), mas avança rapidamente (-295 mil no 1º trim/2017).
De acordo com os dados da PNAD Contínua, divulgados hoje pelo IBGE, a taxa de desocupação alcançou o mais alto nível já registrado pela pesquisa (que teve início em 2012) ao atingir 13,7% no trimestre de janeiro a março de 2017. Tal percentual é 2,8 p.p. maior que a taxa observada no mesmo trimestre do ano passado, de 10,9%, e 1,7 p.p. superior à do trimestre móvel anterior sem sobreposição (outubro a dezembro de 2016), de 12,0%.
O rendimento real médio de todos os trabalhos habitualmente recebidos foi de R$ 2.110,00, representando aumento de 2,2% frente ao trimestre anterior sem sobreposição (R$ 2.064,00) e de 2,5% frente ao mesmo trimestre de referência do ano anterior (R$ 2.059,00).
A massa de rendimentos reais de todos os trabalhos habitualmente recebidos alcançou R$ 182,9 bilhões no trimestre encerrado em março, crescendo apenas 0,7% tanto frente ao trimestre anterior sem sobreposição (R$ 181,8 bilhões) como frente ao mesmo trimestre de 2016 (R$ 181,7 bilhões).
No trimestre de referência, a população ocupada era de 88,9 milhões de pessoas, 1,5% a menos que o registrado no trimestre anterior sem sobreposição. A variação sobre o mesmo trimestre de 2016 foi de -1,9%. Nesta última base de comparação, o número de pessoas dentro da força de trabalho subiu 1,4%, atingindo 103,1 milhões, enquanto o número de desocupados expandiu 27,8%, chegando a 14,2 milhões de pessoas.
Frente ao mesmo trimestre do ano anterior, o número de pessoas ocupadas apresentou crescimento nas categorias empregador (10,8%), trabalho privado sem carteira (4,7%) e trabalhador familiar auxiliar (0,5%). As demais categorias tiveram retração: trabalhador por conta própria (-4,6%), trabalho privado com carteira (-3,5%), trabalho doméstico (-2,6%) e setor público (-0,9%).
Na mesma base de comparação, os grupamentos de atividades que apresentaram aumento da ocupação foram: alojamento e alimentação (11,0%), informação, comunicação e atividades financeiras, imobiliárias, profissionais e administrativas (2,5%), outros serviços (2,0%) e transporte, armazenagem e correios (0,3%).
Os outros grupamentos registraram retrações na ocupação das seguintes ordens: construção (-9,5%), agricultura, pecuária, produção florestal, pesca e aquicultura (-8,0%), indústria (-2,9%), serviços domésticos (-2,9%), administração pública, defesa, seguridade, educação, saúde e serviços sociais (-1,9%) e comércio e reparação de veículos (-1,3%).