Análise IEDI
São Paulo retarda a recuperação da indústria
A virtual estabilidade da indústria brasileira em fevereiro deste ano (+0,1% frente a jan/17, com ajuste) foi decorrente da alta de produção em 9 das 14 localidades pesquisadas pelo IBGE. O nível de disseminação de variações positivas que marcou o resultado frente a fevereiro de 2016, quando a indústria do país voltou a apresentar retração (-0,8%) foi ainda menos (6 de 15 localidades). O placar poderia ter sido melhor, não fossem os fatores macroeconômicos a conter o desempenho de São Paulo.
Dois aspectos chamam atenção nos resultados regionais da indústria neste início de 2017. O primeiro aspecto é que São Paulo vem contribuindo para retardar a recuperação industrial do país. O segundo, é que o crescimento da indústria em vários estados parece estar estreitamente relacionado à evolução de poucos ramos industriais, próximos das atividades extrativas e agropecuárias, mas também da indústria automobilística.
De fato, o desempenho da indústria paulista vem claudicando a partir da segunda metade do ano passado, isso depois de ter sido a grande responsável pela expressiva moderação das perdas do total da indústria brasileira no segundo trimestre de 2016, como mostram os dados logo abaixo. Neste primeiro bimestre de 2017, a indústria de São Paulo quase não saiu do lugar, apresentando retração de -0,1% frente a igual período de 2016, contribuindo muito para alta irrisória do Brasil (+0,3%).
• Brasil: -11,4% no 1º tri/16; -6,4% no 2º tri/16; -5,1% no 3º tri/16; -3,2% no 4º tri/16 e, agora, +0,3% no 1º bi/17 frente a igual período do ano anterior;
• São Paulo: -13,8%; -3,7%; -1,9%; -2,8% e -0,1%, respectivamente;
• Rio de Janeiro: -10,2%; -6,2%; -2,8%; +2,1% e +4,1%;
• Minas Gerais: -12,0%; -5,5%; -3,8%; -3,6% e +4,1%;
• Paraná: -8,7%; -7,6%; -4,1%; -3,1% e +4,1%;
• Santa Catarina: -8,4%; -3,4%; -1,0%; -0,8% e +4,8%
• Amazonas: -21,3%; -11,8%; -7,9%; -1,1% e +6,6%
• Nordeste: -4,3%; -1,4%; -4,2%; -2,0% e -2,6%, respectivamente.
São Paulo não perdeu a direção do movimento geral de amenização da crise, mas esse processo não progrediu no mesmo ritmo depois do segundo trimestre do ano passado. Por se tratar do parque industrial mais diversificado do país, com importante capacidade de exportação de manufaturados e produtor de bens duráveis (para consumo ou investimento), as causas dessa hesitação refletem mais fortemente fatores macroeconômicos, como a desatenção com a taxa de câmbio, que fez com se valorizasse desde o início de 2016, e o atraso na redução dos juros (Selic) diante da convergência das expectativas inflacionárias.
Significa isto dizer que a indústria paulista já poderia, então, estar reparando o estrago sofrido nos últimos anos não fossem esses fatores. Notar que o início da recuperação do terreno perdido com a crise de 2015-2016 já vem ocorrendo em algumas localidades cuja estrutura industrial é mais concentrada em um ou outro ramo industrial.
É o caso, por exemplo, de Espírito Santo, que teve variação positiva de sua produção industrial de 4,8% frente ao 1º bimestre de 2016, Minas Gerais (+4,1%) e Rio de Janeiro (+4,1%), onde a indústria extrativa é importante e vem apresentando resultados bastante positivos. Vale lembrar, contudo, que em boa medida isso se deve a bases de comparação muito baixas, devido ao desastre de Mariana que prejudicou o setor extrativo minero e capixaba no final de 2015 e início de 2016.
O ramo alimentício, provavelmente sob influência positiva das atividades da agropecuária, notadamente da alta na safra de grãos, entre outros fatores, vem ajudando, por sua vez, os resultados em estados como Paraná (+4,1% frente ao 1º bimestre de 2016), Santa Catarina (+4,8%) e Goiás (+4,9%). No caso da indústria paranaense, sua produção já havia retornado ao positivo no último trimestre de 2016 (+3,1%).
Em muitos destes estados, a indústria automobilística também tem ajudado no maior dinamismo dos últimos meses, como em Minas Gerais, Rio de Janeiro e Paraná. No caso do Amazonas, a alta de 6,6% neste primeiro bimestre de 2017 foi alavancada pela produção de outros equipamentos de transporte, que incluem motocicletas, bem como de equipamentos de informática, produtos eletrônicos e ópticos.
Quem está relativamente fora deste quadro é a região Nordeste, que continua no negativo e, a contar pelo resultado neste primeiro bimestre de 2017 (-2,6% frente a igual período do ano anterior), não aponta para uma melhora. A indústria da região entrou por último na recessão, acompanhou a indústria brasileira na moderação da crise na primeira metade do ano passado, mas retomou o movimento de piora no terceiro trimestre de 2016 e, aparentemente, também neste início de 2017.
Na passagem de janeiro para fevereiro, a partir de dados dessazonalizados, a produção industrial brasileira aumentou em 0,1%. Verificou-se expansão em nove dos 14 locais pesquisados, sendo as de maior intensidade observadas nos estados da Bahia (2,8%), Santa Catarina (2,8%), Rio Grande do Sul (2,2%), Rio de Janeiro (2,2%), Goiás (2,1%), Minas Gerais (2,0%) e Paraná (1,9%). Os resultados negativos mais intensos couberam a Pernambuco (-7,8%), Pará (-4,1%), Espírito Santo (-3,9%), Amazonas (-1,1%) e Ceará (-1,0%).
Frente ao mesmo mês do ano anterior, a retração industrial nacional foi de 0,8%, com 9 dos 15 locais pesquisados registrando variações negativas, os principais sendo: Mato Grosso (-11,0%), Bahia (-4,6%), Pará (-4,2%), Espírito Santo (-3,2%), Ceará (-2,5%), Pernambuco (-2,2%), Região Nordeste (-2,1%) e São Paulo (-1,6%). Regiões que apresentaram crescimento da produção industrial foram Amazonas (5,6%), Santa Catarina (4,1%), Paraná (4,0%), Minas Gerais (3,5%) e Rio de Janeiro (3,4%)
A variação no período janeiro-fevereiro de 2017, em comparação a igual período do ano anterior, apresentou crescimento de 0,3% em termos nacionais, com expansão em dez das 15 regiões pesquisadas. As elevações mais intensas ocorreram no Amazonas (6,6%) e em Pernambuco (6,5%), seguidos por Goiás (4,9%), Espírito Santo (4,8%), Santa Catarina (4,8%), Rio de Janeiro (4,1%), Paraná (4,1%) e Minas Gerais (4,1%). As regiões cuja produção industrial apresentou queda em igual base de comparação foram: Bahia (-10,5%), Região Nordeste (-2,6%), Rio Grande do Sul (-1,8%), Ceará (-1,0%) e São Paulo (-0,1%).
São Paulo. Na comparação com o mês de janeiro, a indústria paulista cresceu 0,2%, a partir de dados dessazonalizados. Frente a fevereiro de 2016, houve queda de 1,6%, devido à retração de 12 das 18 atividades pesquisadas. A queda mais intensa foi verificada nos setores de produtos farmoquímicos e farmacêuticos (-20,4%), pressionado principalmente por medicamentos. Outros resultados negativos couberam a: outros equipamentos de transporte, exceto veículos automotores (-15,7%); produtos alimentícios (-10,2%), cujos principais determinantes foram sucos concentrados de laranja, sorvetes, carnes de bovinos congeladas e rações e outras preparações utilizadas na alimentação de animais; coque, produtos derivados do petróleo e biocombustíveis (-9,7%); sabões, detergentes, produtos de limpeza e de higiene (-9,6%); e Metalurgia (-7,1%). Por outro lado, os impactos positivos mais importantes vieram dos setores de equipamentos de informática, produtos eletrônicos e ópticos (22,6%), máquinas e equipamentos (16,4%), produtos de metal exceto máquinas e equipamentos (8,4%), veículos automotores, reboques e carrocerias (7,1%) e produtos têxteis (6,7%).
Minas Gerais. Frente a janeiro, a produção industrial de Minas Gerais cresceu 2,0% (para dados dessazonalizados). Em comparação a fevereiro de 2016, a variação positiva foi de 3,5%, com seis das 13 atividades pesquisadas apresentado elevação, sendo as mais acentuadas verificadas em máquinas e equipamentos (33,1%), veículos automotores, reboques e carrocerias (29,1%), indústrias extrativas (17,4%), bebidas (5,9%) e produtos têxteis (2,9%). Em relação às três primeiras atividades citadas, as expansões foram explicadas principalmente pela maior fabricação de carregadoras, transportadoras, escavadeiras, partes e peças para máquinas e aparelhos de terraplenagem, tratores, máquinas e equipamentos para o setor de minérios e ar condicionado para veículos; veículos para o transporte de mercadorias, automóveis e peças ou acessórios para o sistema de motor de veículos automotores; e minérios de ferro em bruto ou beneficiados, respectivamente. Em sentido contrário, apresentaram variações negativas os setores de metalurgia (-7,6%), produtos alimentícios (-7,5%), coque, produtos derivados de petróleo e biocombustíveis (-4,9%), celulose, papel e produtos de papel (-4,7%) e produtos de metal exceto máquinas e ferramentas (-4,6%).