Análise IEDI
De volta aos “bons tempos”
Os dados da balança comercial brasileira neste primeiro bimestre de 2017 mostram que a história pode se repetir. É como se os “bons tempos” estivessem de volta: os preços das commodities voltaram a subir a partir de outubro do ano passado, alavancando as exportações de produtos básicos, enquanto o real já acumula valorização nominal de mais de 10% entre o início de dezembro de 2016 e o de março de 2017.
Como já sabemos, essa história não termina nada bem e os tempos favoráveis cedo ou tarde acabam em crise econômica. Não que haja algum problema na melhora do desempenho exportador dos setores produtores de commodities. Muito pelo contrário, toda fonte de crescimento econômico, seja ela proveniente deste ou daquele setor da economia, é muito bem-vinda.
A questão é que a política econômica não deveria aceitar que o contexto internacional favorável obstrua através da valorização da moeda as vendas externas dos demais produtos, notadamente dos manufaturados, cuja capacidade de agregação de valor e de disseminação de estímulos para a economia como um todo é grande.
Assim, enquanto as exportações totais acumuladas em janeiro e fevereiro (US$ 30,4 bilhões) cresceram 23,5% em relação ao mesmo período de 2016, a alta das vendas externas de produtos básicos (US$ 14,1 bilhões) chegou a nada menos que 41,6%. O aumento do preço de commodities nos mercados internacionais tem ajudado as exportações de produtos como minério de ferro (+124,5% frente a jan-fev/16), soja em grão (+99,9%) e carne suína (+49,6%), além de petróleo bruto (+182,5%). Não é por outra razão que os embarques para a China cresceram 78,9% no período.
As exportações de semimanufaturados são igualmente potencializadas. No bimestre em questão, sua alta foi de dois dígitos, embora bem abaixo do resultado de básicos: +13,2% frente a igual período de 2016. Neste caso, as maiores contribuições vieram das vendas externas de ferro e aço (+82,3%), óleo de soja em bruto (+52,3%), ferro fundido (+40,7%), açúcar em bruto (+39,0%), ferro-ligas (+25,7%) e madeira serrada (+24,8%).
Já o desempenho dos manufaturados é contido pela apreciação cambial. Com isso, sua alta fica muito aquém dos demais tipos de produtos exportados: apenas 8,0% no bimestre jan-fev/17 contra igual período de 2016.
Vale notar que a melhora dos manufaturados ou é bastante concentrada em bens da cadeia automobilística, como veículos de carga (+59,6%), automóveis de passageiros (+30,1%), pneumáticos (+8,8%) e autopeças (+1,7%), ou está sob influência do preço das commodities, refletindo na alta de vendas de externas de produtos como óleos combustíveis (+356,9%), açúcar refinado (+34,4%) e laminados planos (+20,3%).
As importações totais, por sua vez, voltaram a crescer e acumularam alta de 12,0% no primeiro bimestre de 2017 (US$ 23,1 bilhões). A única categoria de bens que continua em retração é a de bens de capital (-26,6%), sinalizando que os projetos de investimento do país ainda não foram retomados.
O resultado final neste primeiro bimestre do ano foi um superávit de US$ 7,3 bilhões, isto é, bastante superior aos US$ 3,9 bilhões no mesmo período de 2016. Existe outro aspecto a diferenciar os dois períodos além do patamar do saldo. No início de 2016 uma taxa de câmbio mais competitiva dava esperanças de que a indústria nacional poderia recorrer ao comércio exterior para amenizar sua crise. Hoje, não, a menos que a política cambial impeça – o que deveria ter feito há algum tempo – a valorização excessiva da moeda.
De acordo com dados divulgados pelo MDIC, a balança comercial brasileira em fevereiro teve superávit de US$ 4,560 bilhões frente a um saldo de US$ 3,042 milhões no mesmo mês de 2016. As exportações alcançaram US$ 15,472 bilhões, com aumento de 22,4% frente ao mesmo mês do ano passado E as importações somaram US$ 10,912 bilhões, 11,8% maior que o mês de fevereiro do ano anterior.
No mês, o valor da média diária (medida por dia útil) das exportações chegou a US$ 859,6 milhões, 22,4% superior a fevereiro de 2016, quando era de US$ 702,3 milhões. A média diária das importações aumentou 11,8%, registrando US$ 606,2 milhões, frente a US$ 542,2 milhões no mesmo mês do ano passado. A média diária do saldo comercial no mês, de US$ 253,3 milhões, foi 58,2% maior que a de fevereiro de 2016, de US$ 160,1 milhões.
Exportações por fator agregado. As exportações em fevereiro atingiram US$ 15,472 bilhões, sendo de US$ 7,366 bilhões as exportações de produtos básicos (48,3% de variação sobre o mesmo mês do ano anterior), US$ 2,205 bilhões (2,0%) de produtos semimanufaturados e US$ 5,548 bilhões (5,7%) de produtos manufaturados.
Em relação ao mês de fevereiro de 2016, a média diária das exportações registrou expansão de 22,4%. As principais variações vieram de produtos básicos (48,3%), operações especiais (34,7%), manufaturados (5,7%), industrializados (4,6%) e semimanufaturados (2,0%).
Destaques exportações. No grupo dos produtos básicos, na comparação com fevereiro de 2016, os seguintes itens se destacaram: petróleo em bruto (326,6%), minério de ferro (126,2%), soja em grão (107,2%), carne suína (40,0%), carne de frango (35,8%), minério de cobre (14,0%) e café em grão (8,3%).
Para os manufaturados, os destaques foram: óleos combustíveis (480,7%), veículos de carga (38,8%), automóveis de passageiros (31,6%), óxidos/hidróxidos de alumínio (22,8%), polímeros plásticos (12,8%), laminados planos (11,9%), motores e geradores elétricos (11,7%), calçados (10,9%), máquinas p/terraplanagem (10,2%), açúcar refinado (6,6%) e pneumáticos (3,3%).
Para os semimanufaturados, os destaques são: ferro fundido (139,0%), óleo de soja em bruto (109,9%), semimanufaturados de ferro/aço (92,6%), ferro-ligas (25,4%), madeira serrada (19,4%) e açúcar em bruto (3,8%).
Importações por categoria de uso. As importações totais em fevereiro somaram US$ 10,912 bilhões, dos quais US$ 1,021 bilhão (-9,8%) referentes ao grupo de bens de capital, US$ 6,639 bilhões (16,3%) a bens intermediários, US$ 1,672 bilhão a bens de consumo (-4,4%) e US$ 1.577 bilhão (34,9%) a combustíveis e lubrificantes.
Na comparação com o mês de fevereiro de 2016, a média diária de importações cresceu 11,8%. As variações negativas ficaram por conta de bens de capital (-9,8%) e bens de consumo (-4,4%). As variações positivas mais importantes se deram em combustíveis e lubrificantes (34,9%) e bens intermediários (16,3%).
Destaques importações. Para bens de capital, as principais quedas ocorreram em: litorinas, máquinas p/fabricação de celulose, escavadoras, máquinas p/esmagar substâncias minerais, máquinas/aparelhos mecânicos, aparelhos p/liquefação, elevadores de mercadorias, estruturas flutuantes.
Em bens intermediários cresceram as importações de álcool etílico, ureia, naftas p/petroquímica, células solares, partes p/aparelhos receptores p/radiodifusão, partes de turborreaotres e turbopropulsores, adubos e fertilizantes, leite integral em pó, milho em grão, microprocessadores.