Análise IEDI
Para onde caminham a ciência e a inovação tecnológica
A Carta IEDI a ser divulgada hoje sintetiza as principais tendências dos sistemas de Ciência, Tecnologia e Inovação (C,T&I) identificadas pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) em seu relatório bienal Science, Technology and Innovation Outlook, divulgado no final de 2016.
De acordo com o estudo, o envelhecimento da população, a mudança climática, os desafios na área de saúde e a crescente digitalização, entre outros fatores, devem moldar as agendas futuras de pesquisa e desenvolvimento (P&D) e o escopo e a escala da demanda futura de inovação. O rápido desenvolvimento econômico das economias emergentes, ao lado das atividades transfronteiriças das multinacionais e da fragmentação adicional das cadeias globais de valor, deverá, igualmente, favorecer uma ampla distribuição das atividades de C,T&I em todo o planeta.
De um lado, a concorrência global por talentos e recursos será provavelmente intensificada, bem como a produção e a difusão de novos conhecimentos. De outro lado, entretanto, as atividades de C,T&I poderão se defrontar com fortes restrições financeiras em razão de um possível crescimento insuficiente das economias desenvolvidas e emergentes, o que poderá comprometer o papel dessas atividades no enfrentamento de desafios futuros.
O relatório destaca que os desenvolvimentos futuros em C,T&I têm potencial para oferecer soluções aos desafios enfrentados pelas sociedades. Avanços tecnológicos em diferentes áreas podem contribuir, por exemplo, para o aprofundamento adicional da globalização, para o crescimento da renda, para a redução das emissões de gás carbônico, para melhoria das condições de saúde e elevação da expectativa de vida.
No que se refere ao futuro tecnológico, foram mapeadas as tendências de desenvolvimento de dez tecnologias emergentes: internet das coisas; análise de big data; inteligência artificial; neurotecnologias; nano e microssatélites; nanotecnologias; manufatura aditiva (impressão 3D); tecnologias avançadas de estocagem de energia; biologia sintética; blockchain. Estas aparecem como as tecnologias promissoras e com maior potencial disruptivo, impactando inúmeros campos de aplicação, muitos deles ainda não previstos.
De acordo com OCDE, o suporte governamental ao desenvolvimento tecnológico vem se intensificando desde a crise global de 2008, na esteira das inquietudes em relação às perdas de capacidade industrial e à crescente concorrência das economias emergentes. Tal suporte consiste em uma atualização “para cima” do antigo enfoque da política industrial de “escolha de vencedores” (picking winners), com os governos apoiando tecnologias gerais de modo a não prejudicar a concorrência e não violar as regras relativas ao suporte estatal dos tratados internacionais.
As políticas públicas em prol do desenvolvimento tecnológico serão cada vez mais condicionadas pelos desafios, uma vez que os governos procuram reorientar as mudanças tecnológicas das suas trajetórias de evolução (path-dependence) em direção às tecnologias mais benéficas social e ambientalmente e estimular o investimento privado nessas linhas. É o caso das inovações verdes, cuja promoção estará ainda mais no centro da ação de governos de muitos países por meio de diversos instrumentos, como financiamento de P&D, incentivos fiscais, encomendas de inovações, padronização e regulamentação.
A OCDE ressalta ainda que as tecnologias de ponta não são isentas de riscos e de incertezas e suscitam inúmeras questões éticas e legais, que precisam ser avaliadas logo no início da pesquisa e desenvolvimento. Por exemplo, os desenvolvimentos em robótica e em inteligência artificial geram preocupação sobre os empregos futuros, enquanto a internet das coisas e análise de big data colocam desafios à segurança e à privacidade.
Por isso, tais riscos e incertezas requerem uma governança antecipatória da mudança tecnológica, que inclui avaliação dos benefícios e custos e uma ativa formatação dos caminhos futuros desenvolvimento e exploração.
Sem uma ampla difusão das inovações e da aquisição de conhecimento e habilidades, alerta a OCDE, os avanços tecnológicos poderão exacerbar as desigualdades econômicas e sociais. Os governos terão que enfrentar o desafio de administrar as rendas de inovação, mediante a política de concorrência, e de requalificar a mão-de-obra, através da educação.