Análise IEDI
Sem refúgio
Na passagem de 2016 para 2017, a taxa de desocupação manteve-se em sua trajetória de franca elevação, atingindo 12,6% no trimestre findo em janeiro último. Os motores desse processo continuam sendo a redução de postos de trabalho devido à crise econômica, bem como o aumento de pessoas em busca de emprego, condicionado pelas estratégias de equilíbrio orçamentário das famílias que levam ao mercado de trabalho um número maior de seus integrantes.
O contingente de desempregados no país chegou a 12,9 milhões de pessoas, representando um adicional de 3,3 milhões frente ao mesmo período do ano anterior. Destes, cerca de 1,7 milhão decorreu do fechamento de postos de trabalho. Os demais compreendem 1,5 milhão de novos demandantes de trabalho, um número que vinha se reduzindo desde meados de 2016 e, assim, ajudando a desacelerar a alta da taxa de desemprego. Pois bem, no trimestre findo em jan/17 voltou a crescer mais intensamente.
O pior aspecto da dinâmica atual do mercado de trabalho no país tem sido a persistente redução dos empregos com carteira assinada, que, como sabemos, em muito está relacionada com a crise industrial. O fechamento de vagas na indústria (-896 mil frente ao trim. findo em jan/16) continua sendo um destacado fator da adversidade no mercado de trabalho, mas cada vez mais outros setores vêm ganhando importância, tais como a construção civil (-755 mil) e a administração pública, defesa e serviços sociais (-269 mil).
Aqueles tipos de ocupação que ao longo de 2015 e 2016 compensavam, mesmo que apenas parcialmente, a retração do emprego com carteira, funcionando como verdadeiros refúgios, perderam recentemente esta capacidade e também entraram no negativo. É o caso do trabalho por conta própria e do trabalho doméstico, como pode ser visto abaixo.
• Trabalho com carteira assinada: -1.396 mil em mai-jun-jul/16, -1.323 em ago-set-out/16 e -1.302 em nov-dez/16-jan/17 frente a igual período do ano anterior;
• Trabalho sem carteira: +95 mil, +165 mil e +626 mil respectivamente;
• Trabalho doméstico: +127 mil, -11 mil e -176 mil;
• Setor público: -242 mil, -115 mil e -199 mil;
• Empregador: -184 mil, +85 mil e +333 mil;
• Trabalho por conta própria: +527 mil, -725 mil e -902 mil, respectivamente.
Em contrapartida, o trabalho sem carteira assinada, que voltou a crescer em meados do ano passado, tem ocupado cada vez mais pessoas, o que pode vir a ser, caso continue nesta toada, o início de um caminho que leve à reversão do quadro no trabalho formal. Em outros termos, certas empresas podem ter decidido inicialmente contratar de maneira informal para, só depois de terem uma confiança maior no andamento da economia, registrarem seus novos funcionários.
Diante de dados tão adversos, os últimos resultados da PNAD Contínua trouxeram uma informação alentadora. Trata-se da evolução da massa salarial, que no trimestre findo em janeiro de 2017 apresentou umas das menores taxas de retração da massa real de rendimentos médios habitualmente recebidos, desde que ela começou a cair em meados de 2015. A queda foi de -1,1% frente ao mesmo período do ano anterior.
A despeito do desemprego em alta, o rendimento médio real voltou a crescer (+0,4% frente ao trim. findo em jan/16), em boa medida devido à desaceleração da inflação. Mesmo que muito pequeno, este resultado representa uma quebra do padrão visto em 2016, quando só houve variações negativas, e traz um bom sinal para os segmentos do comércio e de serviços, cujas vendas têm como base a renda das famílias.
De acordo com dados da PNAD Contínua divulgados hoje pelo IBGE, a taxa de desocupação registrou 12,6% no trimestre de novembro de 2016 a janeiro de 2017, 3,1 p.p. maior que a taxa observada no mesmo trimestre do ano passado, de 9,5%. No trimestre móvel anterior sem sobreposição (agosto a outubro), a taxa observada foi de 11,8%.
O rendimento real médio de todos os trabalhos habitualmente recebidos foi de R$ 2.056,00, o que representou aumento de 0,8% frente ao trimestre anterior sem sobreposição e de 0,4% frente ao mesmo trimestre de referência do ano anterior.
A massa de rendimentos reais de todos os trabalhos habitualmente recebidos por mês alcançou R$ 180,2 bilhões, variação positiva de 0,7% frente ao trimestre anterior sem sobreposição e de -1,1% sobre o mesmo trimestre de 2015.
No trimestre de referência, a população ocupada foi de 89,9 milhões de pessoas, 0,03% a mais do que o registrado no trimestre anterior sem sobreposição. A variação sobre o mesmo trimestre de 2016 foi de -1,9%. Na mesma comparação, o número de pessoas dentro da força de trabalho teve aumento de 1,5% atingindo 102,8 milhões de pessoas, enquanto que o número de desocupados aumentou 34,3%, o equivalente a 12,9 milhões de pessoas.
Frente ao mesmo trimestre de 2016, o número de pessoas ocupadas apresentou crescimento nas categorias empregador (8,6%) e trabalho privado sem carteira (6,4%). As demais tiveram retração: setor público (-1,8%), trabalhador doméstico (-2,8%), trabalho privado com carteira (-3,7%), trabalhador por conta própria (-3,9%) e trabalho familiar auxiliar (-5,5%).
Dentre os setores da economia que apresentaram maior aumento da ocupação na comparação com o trimestre compreendido entre novembro de 2015 e janeiro de 2016, estão: alojamento e alimentação (8,7%), outros serviços (3,6%), transporte, armazenagem e correios (2,5%) e informação, comunicação e atividades financeiras (2,2%). Dentre os setores que tiveram retração da população ocupada, estão: comércio, reparação de veículos automotores e motores (-0,1%), administração pública, defesa e seguridade, educação, saúde humana e serviços sociais (-1,7%), serviços domésticos (-3,5%), agricultura, produção florestal, pesca e aquicultura (-4,6%), indústria (-7,4%) e construção (-9,6%).