Análise IEDI
Cenário de exaustão
A indústria sofreu, em 2016, o terceiro ano seguido de queda. E foram quedas maiúsculas. Segundo as estatísticas divulgadas hoje pelo IBGE, a produção caiu 6,6% no ano passado, o que representa uma moderação muito tênue frente ao declínio de 8,3% de 2015. Em 2014 o setor caíra 3%. O cenário é de devastação: nesses três anos a produção industrial encolheu nada menos do que 17%.
O que o Brasil está assistindo na indústria nesses últimos anos é um retrocesso sem precedentes. Para se ter uma ideia, o nível de produção de dezembro de 2016 remete àquele de maio de 2004, isto é, retrocedemos mais de 12 anos. Isso relativiza muito o resultado positivo de dezembro de 2,3% frente a novembro na série com ajuste sazonal, bem como a quase estabilidade (-0,1%) em relação a dezembro de 2015.
O desempenho em 2016 poderia ter sido mais favorável se o ritmo de arrefecimento das perdas que vimos na passagem do primeiro para o segundo trimestre tivesse se mantido ao longo de todo o ano. A falta de estímulo à demanda – que poderia ter sido impulsionada pela redução de juros, que só agora vem à tona, ou pela concessão de obras de infraestrutura, que foi sendo sempre adiada, ou ainda pela resistência à valorização da moeda – acabou enfraquecendo esse movimento no segundo semestre e adiou ainda mais a tão aguardada recuperação do setor.
A despeito disto, a trajetória trimestral da produção da indústria em 2016 mostra bem a moderação das taxas de declínio, em parte devido aos níveis extremamente baixos de produção no ano anterior. Ponta a ponta, o setor sai de um ritmo de queda de 11,4% no primeiro trimestre de 2016 para um retrocesso de 3,1% no último trimestre. A seguir seguem os resultados trimestrais, frente ao mesmo período do ano anterior, da indústria geral e de seus macrossetores em 2016.
• Indústria Geral: -11,4% no primeiro trimestre, -6,5% no segundo trimestre, -5,3% no terceiro trimestre e -3,1% no quarto trimestre;
• Bens de Capital: -27,7%, -9,6%, -4,4% e +1,8%, respectivamente;
• Bens de Consumo Duráveis: -27,4%, -17,1%, -12,1% e +0,6%;
• Bens de Consumo Semi e Não-Duráveis: -4,2%, -0,5%, -4,4% e -5,5%;
• Bens Intermediários: -10,2%, -7,2%, -5,0% e -2,9%, respectivamente.
Bens de capital e bens de consumo duráveis que lideraram a crise industrial, porque seu desempenho é mais fortemente afetado pelas expectativas e pelas condições do crédito e dos juros, ainda apresentaram perdas substanciais no acumulado de 2016 (-11,1% e -14,7%, respectivamente), mas suas trajetórias ao longo do ano extrapolaram a etapa de moderação das quedas em direção a um crescimento modesto, porém positivo, no último trimestre.
Em bens de capital, a alta foi maior, chegando a 1,8% frente ao 4º trimestre de 2015, puxada pelo crescimento da produção de bens de capital para a construção (+35,6%), agricultura (+32,0%) e de uso misto (+1,8%) e um menor declínio dos bens de capital para transportes (-2,1%). A má notícia vem do fato de que a produção de bens de capital para a indústria continua em retração expressiva (-14,5%), o que sugere que os investimentos do setor ainda estão bloqueados.
Em bens de consumo duráveis, a evolução de 0,6% no último trimestre se deve muito ao setor automobilístico (+7,0%), que, inclusive, vem conseguindo ampliar bastante suas exportações. Adicionalmente, o setor de eletrodomésticos da linha marrom também voltou a apresentar taxas positivas (+16,0%).
A produção de bens intermediários, por sua vez, por mais que tenha reduzido seu patamar de contração ao longo de 2016 ainda não deixou para trás os resultados negativos (-2,9% no 4º trimestre). Como é um macrossetor que pesa na estrutura industrial do país, por se tratar do núcleo duro do setor, continuou condicionando o desempenho da industrial geral no último trimestre.
O mesmo pode se dizer de bens de consumo semi e não duráveis, mas com o agravante de não apenas ter abortado sua trajetória em direção à recuperação como apresentou no último trimestre (-5,5%) um patamar de queda que se aproxima de seus piores resultados.
Assim, a contar pelas trajetórias de seus macrossetores, a indústria pode voltar a crescer em 2017, mas, por enquanto, não se antevê uma intensa recuperação, pois os motores do crescimento na economia brasileira ainda patinam – o desemprego persiste em evolução, os sinais de recuperação do investimento são tênues e as exportações de manufaturados vêm perdendo dinamismo.
A exceção a este quadro é a taxa de juros, em função da decisão do Banco Central de acelerar sua redução. Juros menores podem baratear o crédito, ajudando na desalavancagem dos agentes econômicos, e impulsionar o ânimo dos investidores. É preciso, entretanto, que expectativas favoráveis de longo prazo se recomponham mais amplamente.
Os dados da Pesquisa Industrial Mensal – Produção Física para o mês de dezembro divulgados hoje pelo IBGE indicam alta de 2,3% frente ao mês de novembro, a partir de dados livres de influência sazonal. Em relação ao mesmo mês do ano anterior, houve recuo mínimo de 0,1%. No acumulado do ano, a variação foi de -6,6%.
Categorias de uso. Frente ao mês anterior, para dados sem influência sazonal, o grupo de bens de capital apresentou retração de 3,2% enquanto que a produção de bens de consumo teve variação positiva de 1,8% (variação positiva de 6,5% para bens duráveis e de 4,1% para semi e não duráveis). Bens intermediários apresentaram alta de 1,4% na mesma comparação.
Frente ao mês de dezembro de 2015, a categoria de bens de capital registrou alta de 17,3%, bens intermediários recuou 0,5% e bens de consumo teve queda de 2,2% (expansão de 4,8% para bens duráveis e -3,6% para semi e não duráveis).
No acumulado de 2016, bens de capital registrou retração de 11,1%, bens intermediários -6,3% e bens de consumo, de -5,9%. O subgrupo de bens de consumo duráveis variou -14,7% e semiduráveis e não duráveis, -3,7%.
Setores. De acordo com dados livres de efeitos sazonais, em dezembro, frente ao mês anterior, houve expansão do nível de produção em 16 dos 24 grupos pesquisados.
Os segmentos que apresentaram as maiores altas foram: veículos automotores, reboques e carrocerias (10,8%), perfumaria, sabões, produtos de limpeza e de higiene pessoal (5,5%), de equipamentos de informática, produtos eletrônicos e ópticos (15,2%), de produtos de borracha e de material plástico (8,3%), de confecção de artigos do vestuário e acessórios (10,9%), de indústrias extrativas (1,6%), de produtos alimentícios (0,9%), de artefatos de couro, artigos para viagem e calçados (7,6%), de máquinas e equipamentos (2,4%) e de móveis (9,6%).
Dentre os que apresentaram variação negativa, os principais itens foram: produtos farmoquímicos e farmacêuticos (-11,7%), coque, produtos derivados do petróleo e biocombustíveis (-1,9%) e bebidas (-5,5%).
Na comparação com dezembro de 2015, a produção industrial recuou em 12 dos 26 ramos analisados. Os recuos mais significativos nesta comparação vieram dos segmentos de coque, produtos derivados do petróleo e biocombustíveis (-14,1%), produtos farmoquímicos e farmacêuticos (-27,4%), de produtos alimentícios (-3,1%), de bebidas (-5,8%), de outros equipamentos de transporte (-21,8%), de produtos de minerais não-metálicos (-4,9%) e de impressão e reprodução de gravações (-18,8%).
As principais variações positivas ficaram por conta de: veículos automotores, reboques e carrocerias (19,8%), indústrias extrativas (7,0%), máquinas e equipamentos (12,6%), confecção de artigos do vestuário e acessórios (23,4%) e equipamentos de informática, produtos eletrônicos e ópticos (29,1%).
No ano como um todo de 2016, a queda de 6,6% da indústria foi composta pela variação negativa de 23 dos 26 ramos pesquisados. Dentre os principais recuos, estão: indústrias extrativas (-9,4%), coque, produtos derivados do petróleo e biocombustíveis (-8,5%), veículos automotores, reboques e carrocerias (-11,4%), máquinas e equipamentos (-11,8%), produtos de minerais não-metálicos (-10,9%), outros equipamentos de transporte (-21,7%), metalurgia (-6,6%), produtos de metal (-9,8%), equipamentos de informática, produtos eletrônicos e ópticos (-14,8%), produtos de borracha e de material plástico (-7,1%), máquinas, aparelhos e materiais elétricos (-8,5%), produtos do fumo (-25,6%), produtos farmoquímicos e farmacêuticos (-6,0%), confecção de artigos do vestuário e acessórios (-5,8%) e móveis (-11,0%).
Do lado positivo, foram registradas variações positivas nos setores de produtos alimentícios (0,6%) e celulose, papel e produtos de papel (2,5%).