Análise IEDI
Moderação da queda muito limitada
Em setembro, o volume de vendas do comércio varejista voltou a incorrer em nova contração na série com ajuste sazonal. Segundo os dados divulgados hoje pelo IBGE, a queda foi de 1% frente a agosto, totalizando, com isso, resultados negativos por três meses seguidos. Fica patente que o quadro do varejo não é animador. Em seu conceito ampliado, que leva em conta as vendas de automóveis, autopeças e materiais de construção, a queda foi de apenas 0,1% em setembro, mas em contrapartida já são sete meses seguidos de contração.
Com relação ao mesmo mês do ano anterior, os resultados de setembro foram de -5,9% no conceito restrito e de -8,6% no conceito ampliado, o que mostra que em 2016 o varejo continua apresentando quedas muito acentuadas. No acumulado do ano e em 12 meses até setembro, o desempenho varejista foi de -6,5% e -6,6% no conceito restrito, respectivamente, e de -9,2% e -10,0% no conceito ampliado.
Nesse estágio, em que falta pouco para o final do ano, já é possível prever que 2016 será pior para o varejo do que foi em 2015, quando houve declínio de 4,3% no conceito restrito e de 8,6% no conceito ampliado. Para o corrente ano, as variações trimestrais ilustram bem a trajetória das vendas reais do setor varejista: -7,0%; -6,9% e -5,7% no comércio restrito e -9,4%; -9,2% e -9,0% no comércio ampliado, para cada um dos trimestres deste ano sempre frente ao mesmo período do ano anterior.
O que se pode concluir dessas variações é que se houve alguma moderação das quedas no terceiro trimestre de 2016, isto se deu de uma forma muito limitada e envolveu apenas o comércio restrito, muito em função das vendas de alimentos e bebidas. No conceito ampliado, dado a magnitude das quedas, não se pode nem mesmo falar em moderação.
Dentre os setores do comércio, não existem sinais consistentes de moderação em quase metade deles, como em combustíveis; tecidos, vestuário e calçados; outros artigos de uso pessoal e automóveis e autopeças. Todos estes encontram-se presos em patamares muito elevados de queda, geralmente superando dois dígitos.
Vejamos abaixo os dados trimestrais de alguns setores selecionados:
• Veículos, motos e autopeças: -13,5% no primeiro trimestre, -14,0% no segundo
trimestre e -16,3% no terceiro trimestre de 2016, sempre frente a igual
período de 2015
• Tecidos, vestuário e calçados: -13,3%, -9,2% e -11,7%
• Móveis e eletrodomésticos: -17,0%, -12,1% e -11,1%
• Equipamentos e materiais para escritório, informática e comunicação: -16,7%,
-15,7% e -11,4%
• Outros artigos de uso pessoal e doméstico: -12,8%, -11,7% e -10,4%
• Hiper e supermercado, alimentos, bebidas e fumo: -2,8%, -4,0% e -1,9%
Mesmo naqueles setores onde há alguns sinais de moderação, eles aparecem muito recentemente e não são capazes de evitar que as vendas caiam de forma acentuada. É o caso de móveis e eletrodomésticos, materiais de escritório, equipamentos de informática e de comunicação e materiais de construção. Todos com quedas que superaram -10%, inclusive no terceiro trimestre.
Já os volumes de vendas de livros, jornais e papelaria e de artigos farmacêuticos, médicos e de perfumaria e cosméticos estão claramente piorando cada vez mais. É preciso levar em conta, contudo, que no último caso, as vendas resistiram bem à crise econômica, tendo quedas sucessivas só a partir de abril de 2016.
O único setor que pode estar passando por uma moderação mais pronunciada é o de supermercados, alimentos, bebidas e fumo, muito provavelmente em função do arrefecimento da inflação nos últimos meses. Ainda assim, é muito recente a redução do patamar de queda no terceiro trimestre, que veio após um segundo trimestre particularmente ruim para as vendas desse setor.
O volume de vendas do comércio varejista brasileiro, de acordo com o IBGE, recuou 1,0% com relação ao mês imediatamente anterior, na série com ajuste sazonal. Frente ao mesmo mês do ano anterior, as vendas no varejo registraram queda de 5,9%, a 18ª taxa negativa consecutiva nesta comparação. No ano, as vendas até setembro foram 6,5% menores que as realizadas no mesmo período do ano passado. No acumulado dos 12 meses frente a igual período imediatamente anterior, a variação do volume de vendas foi de -6,6%.
Setores. Na passagem de agosto para setembro, seis das oito atividades do varejo restrito apresentaram variações negativas: hipermercados, supermercados, produtos alimentícios, bebidas e fumo (-1,4%), móveis e eletrodomésticos (-2,1%), livros, jornais, revistas e papelaria (-2,0%), tecidos, vestuário e calçados (-0,7%), combustíveis e lubrificantes (-0,5%) e outros artigos de uso pessoal e doméstico (-0,3%). Artigos farmacêuticos, médicos, ortopédicos, de perfumaria e cosméticos (1,0%) foi o único setor a registrar alta, enquanto equipamentos e material para escritório, informática e comunicação ficou estável (0,0%). No comércio varejista ampliado, veículos, motos, partes e peças assinalou alta de 2,9% enquanto material de construção recuou 3,1%.
Na comparação com mesmo mês do ano anterior, todas as atividades registraram variações negativas: hipermercados, supermercados, produtos alimentícios, bebidas e fumo (-2,6%), móveis e eletrodomésticos (-13,4%), combustíveis e lubrificantes e outros artigos de uso pessoal e doméstico, ambos com recuo de 9,0%; tecidos, vestuário e calçados (-10,3%); artigos farmacêuticos, médicos, ortopédicos, de perfumaria e cosméticos (-3,7%); equipamentos e material para escritório, informática e comunicação (-11,9%) e livros, jornais, revistas e papelaria (-18,0%). No comércio varejista ampliado, as duas atividades registraram queda: veículos, motos, partes e peças (-14,4%) e material de construção (-10,8%).
No acumulado de 2016 até seu nono mês houve recuo generalizado em comparação ao mesmo período de 2015. Dentre os setores, podemos destacar: livros, jornais, revistas e papelaria (-16,9%), equipamentos e material para escritório, informática e comunicação (-14,7%), móveis e eletrodomésticos (-13,6%), outros artigos de uso pessoal e doméstico (-11,7%), tecidos, vestuário e calçados (-11,3%) e combustíveis e lubrificantes (-9,7%). No varejo ampliado, por sua vez, a queda de 9,2% deveu-se ao recuo de veículos, motos, partes e peças (-14,6%) e material de construção (-12,0%).
Regiões. Na comparação com o mês anterior com ajuste sazonal, observou-se decréscimo no volume de vendas em 19 das 27 unidades da federação. As maiores taxas de variação negativas ocorreram no Mato Grosso (-5,6%) e Tocantins (-3,6%). Por outro lado, entre os estados com variação positiva nesta comparação, destacaram-se: Amapá (1,7%) e Piauí (1,3%).
Em comparação com setembro de 2015, os resultados foram negativos para todos os estados, exceto Roraima (9,1%). As maiores quedas, em termos de magnitude, foram observadas no Amapá (-15,9%); Pará (-15,7%) e Rondônia (-15,2%). Quanto à participação na composição da taxa, destacaram-se São Paulo (-5,5%) e Rio de Janeiro (-7,2%).