Análise IEDI
A piora está do lado das empresas
Em 2016, o ritmo de contração do crédito se acelerou, retirando dinamismo da economia. Com crédito em retração, dificilmente uma economia deixa de entrar em recessão. Segundo os dados divulgados hoje pelo Banco Central, setembro foi mais um mês de recuo como proporção do PIB, que chegou a 50,8% depois de ter atingido o pico de 54,5% em dezembro do ano passado.
Na origem dessa evolução está o tombo das concessões – vale dizer, novos créditos concedidos pelo sistema bancário – que resistem a dar sinais de melhora. Isso fica claro na sucessão de quedas das concessões reais nos três trimestres de 2016, em relação ao mesmo período do ano passado: -8,8%, -7,7% e -8,9%, respectivamente. Ou seja, se o crédito ficou muito apertado em 2015, nos três primeiros trimestres do corrente ano continuou assim.
Quem tem sido atingido com mais gravidade são as empresas, embora as famílias tampouco tenham passado ilesas. Aqui novamente, as variações frente a igual período de 2015 ilustram bem a situação:
• No primeiro trimestre de 2016, as concessões reais às famílias caíram -5,7% e às empresas, -12,5%.
• No segundo trimestre, enquanto houve arrefecimento da contração das concessões reais às famílias para -2,1%, às empresas a queda chegou a -13,9%.
• No terceiro trimestre, as famílias puderam ao menos contar com certa estabilização do ritmo de retração, que ficou em -2,4%, já as empresas tiveram de suportar concessões de crédito ainda menores, de -16,4% em termos reais.
Do lado corporativo, o menor volume de crédito decorre, em parte, do ajustamento das próprias empresas, que se esforçam para reduzir seu endividamento ou evitam ao máximo assumir novas dívidas, dada a conjuntura econômica recessiva e as taxas de juros elevadas do crédito. O problema disso é que, assim, sacrificam investimentos e retiram demanda da economia.
Além disso, há um receio dos bancos em relação à elevação da inadimplência, que os leva a restringir a aprovação de novos financiamentos. Mas, apesar de seus esforços, à medida que a crise econômica perdura, os bancos acabam tendo que lidar, de fato, com níveis crescentes de inadimplência. No caso das empresas, a inadimplência subiu de 2,6% no final de 2015 para 3,3% em set/16.
Do lado das famílias, ao menos a situação parou de piorar, tendo como um de seus determinantes a estabilização da inadimplência, em torno de 4,2% desde o final do ano passado. Ainda com relação ao crédito às pessoas físicas, o arrefecimento da queda das concessões reais tem sido influenciado por algumas modalidades importantes, tais como:
• Aquisição de veículos, cujas concessões reais nos três trimestres de 2016 foram: -20,4%, -14,5% e -7,8%, respectivamente.
• Crédito pessoal, cujas quedas refluíram de -14,8% no primeiro trimestre de 2016 para --8,0% e -9,8% no segundo e terceiro trimestres, devido sobretudo ao crédito consignado que, por ser mais barato, auxilia na reestruturação da dívida das famílias.
Resultados Gerais
Os dados de crédito, divulgados hoje pelo Banco Central, indicaram que o saldo das operações alcançou R$3.110 bilhões em setembro, que corresponde a uma participação no PIB de 50,8%. As operações de crédito realizadas a partir de recursos livres responderam por 25,4% do PIB e a parcela com recursos direcionados, por 25,7% do PIB.
A carteira de crédito com recursos livres atingiu R$1.547 bilhões, o que representou uma retração de 0,2% frente ao mês anterior, em termos nominais. Em relação ao mesmo mês do ano anterior, a retração nominal foi de 3,9%. O valor destas operações realizadas junto a pessoas físicas correspondeu a R$801 bilhões, elevação nominal de 0,4% frente ao mesmo mês do ano anterior. Já o valor das operações junto a pessoas jurídicas alcançou R$746 bilhões, uma diminuição de 8,2% frente a setembro de 2015.
O estoque de crédito com recursos direcionados atingiu em agosto R$ 1.563 bilhões, o que representou, em termos nominais, retração de 0,2% frente ao mês anterior e expansão de 0,6% frente a setembro de 2015. O saldo referente a pessoas físicas foi de R$740 bilhões (aumento nominal de 7,4% sobre o mesmo mês do ano anterior), enquanto que, para pessoas jurídicas, foi de R$823 bilhões (4,8% menor do que o mês de setembro de 2015).
No mês de setembro foram concedidos R$ 274,9 bilhões em novas operações de crédito, frente a R$ 304,7 bilhões no mesmo mês do ano passado, uma variação real negativa de 9,8%. Deste volume, R$ 246,9 bilhões foram originados de recursos livres (redução de 7,0% frente ao mesmo mês do ano anterior).
Dentre as concessões de crédito às pessoas físicas a partir de recursos livres, destacaram-se as operações de cartão de crédito (R$ 87,5 bilhões), cheque especial (R$ 29,8bilhões) e crédito pessoal (R$ 14,2 bilhões). Junto às empresas, as principais modalidades foram cheque especial (R$ 18,1 bilhões), conta garantida (R$ 18,4 bilhões), capital de giro (R$ 16,4 bilhões) e desconto de duplicatas (R$ 12,2 bilhões).
Quanto às concessões com recursos direcionados, a variação real foi de -28,6% frente a setembro de 2015, atingindo R$ 28,0 bilhões.
Nas novas concessões de crédito realizadas com recursos direcionados destacaram-se, para pessoas físicas, as modalidades de crédito rural (R$ 5,6 bilhões) e financiamento imobiliário (R$ 5,7 bilhões). Para as empresas, as principais modalidades foram crédito rural (R$ 5,7 bilhões), BNDES (R$ 6,1 bilhões) e financiamentos imobiliários (R$ 1,6 bilhões).
Setores
Do saldo total de crédito do sistema financeiro nacional, a carteira de operações para indústria alcançou R$ 768,3 bilhões, o que representa uma retração nominal de 6,5% frente a setembro de 2015. No caso da indústria de transformação, a redução do saldo nominal de crédito foi de 9,1% nesta mesma comparação, atingindo o valor de R$ 425,4 bilhões. O setor agropecuário respondeu por R$23,6 bilhões do montante, valor 5,8% menor, em termos nominais, do que o registrado em setembro de 2015. O saldo do setor de serviços foi de R$ 743,1 bilhões, redução nominal de 5,5% em relação ao mesmo mês do ano anterior.
Juros e Inadimplência
A taxa média de juros total atingiu 33,0% a.a. em setembro. Nas operações originadas a partir de recursos livres, a taxa média foi de 53,4% a.a. (avanço de 7,2 p.p. em relação a setembro de 2015): 73,3% para pessoas físicas e 29,8% para pessoas jurídicas. Já no âmbito das operações de crédito oriundo de recursos direcionados, a taxa média foi de 11,1 % a.a. (aumento de 1,3 p.p. frente ao mesmo mês do ano passado): média de 10,4% para pessoas físicas e 12,0% para pessoas jurídicas.
A inadimplência total de setembro fica estável em 3,7%, um aumento de 0,6 p.p. em relação a setembro passado. Nas operações feitas com recursos livres, a taxa de inadimplência média registrada foi de 5,9%: 6,2% para pessoas físicas e 5,5% para pessoas jurídicas. Para os contratos feitos com recursos direcionados, a taxa média foi de 1,6 (variação de 0,1 p.p. frente ao mês anterior) %: 2,0% para as famílias e 1,3% para empresas.