Análise IEDI
Sem fundamentos para melhora
Influenciado pelo baixo nível da atividade econômica e pela contração do rendimento real das famílias, o desempenho do setor de serviços custa a dar indícios consistentes de melhora ou mesmo de arrefecimento. Em agosto a queda de suas receitas reais atingiu 1,6% frente a julho, compreendendo o pior resultado da série com ajuste sazonal.
O ano de 2016 tem sido de agravamento da crise dos serviços, que se revela desde o início de 2015 para o total do setor. É verdade, porém, que alguns de seus segmentos, como os serviços prestados às famílias e os serviços técnicos profissionais prestados às empresas, entram em recessão muito antes. Entre janeiro e agosto de 2016, o setor de serviços como um todo acumula perdas de 4,7% contra uma queda de 3,6% em 2015 como um todo.
A trajetória mais recente, que será captada nesta Análise por meio da média do trimestre findo em agosto, mostra uma pequena moderação da queda para serviços no período junho-agosto deste ano: -4,0% frente ao mesmo período do ano anterior. Entretanto, é interessante notar que os diferentes segmentos estão seguindo trajetórias distintas.
Em primeiro lugar, vejamos aqueles segmentos que acompanham o comportamento do setor como um todo, ou seja, que depois de uma deterioração adicional em 2016 vis-à-vis 2015 mostram um arrefecimento moderado no último trimestre disponível (jun-ago/16), mas que ainda assim se encontram em uma situação mais grave que a de 2015.
Este é o caso de serviços profissionais, administrativos e complementares, cujo faturamento real caiu 4,3% em 2015, mas que já acumula retração de 6,0% nos oito meses de 2016. Isso ocorre a despeito da moderação no trimestre findo em ago/16, com queda de -4,9%, frente a igual período do na anterior. Esses dados indicam que o começo de 2016 foi muito ruim para esses serviços, mas que a virada do semestre tampouco trouxe melhora substantiva.
Vale, aqui, um comentário sobre um dos componentes desses de serviços profissionais, o subsegmento de serviços técnico profissionais, que incluem profissionais liberais e aqueles serviços de maior qualificação contratados pelas empresas. A entrada no segundo semestre de 2016 foi acompanhada de um agravamento adicional do resultado neste caso. É o que mostra a queda de -13,1% no trimestre findo em ago/16, um patamar próximo ao pior da crise neste subsegmento. No acumulado de 2016, o tombo alcança -10,4%, sendo de -9,7% em 2015.
O segundo segmento a apresentar um comportamento próximo ao setor como um todo foi o de serviços de informação e comunicação, que conseguiu resistir à crise por vários meses em 2015, quando fechou o ano com crescimento zero em seu faturamento real. Em 2016, entrou em recessão, ainda que moderada, acumulando perda de 2,7% nos oito meses do ano, caindo menos no trimestre findo em ago/16 (-1,1%).
Já serviços prestados às famílias, em crise desde 2014, logrou um declínio menos intenso no início de 2016, mas pode estar caminhando para uma nova rodada de deterioração: seu faturamento real, que caiu 5,3% em 2015, atinge -4,1% no acumulado de 2016, embora avance para -4,6% no trimestre findo em ago/16.
O possível “retorno a 2015” dos serviços prestados às famílias é mais evidente para seu subsegmento de serviços de alojamento e alimentação, alvo recorrente das decisões de corte de gasto das famílias em dificuldades financeiras. Seu patamar de queda no trimestre findo em ago/16, de -5,5%, já é praticamente o mesmo daquele de 2015 como um todo (-5,6%).
Agregando-se ao rol de más notícias, o segmento de transportes e correios só dá indícios de piora. Seu faturamento real caiu 6,1% em 2015 e 6,7% no acumulado de janeiro a agosto de 2016, com direito a forte deterioração no trimestre findo em ago/16: -7,2%. Relativiza essa piora a estabilização “no fundo do poço” dos transportes terrestres (-9,8% em 2016 e -9,5% no trimestre findo em ago/16).
O único segmento a dar sinais de uma trajetória de saída da crise é o de outros serviços, cuja diversidade de atividades contempladas é tão grande que dificulta a identificação das causas específicas. Tais serviços reduziram perdas de -9,0% em 2015 para -3,0% no acumulado dos oito meses de 2016, chegando a -1,1% no trimestre findo em ago/16, mostrando nítidos sinais de melhora.
De acordo com dados divulgados pelo IBGE da Pesquisa Mensal de Serviços para o mês de agosto, o volume de serviços prestados recuou 1,6% sobre o mês de julho, para dados com ajuste sazonal. Frente ao mesmo mês do ano anterior, a oscilação negativa foi de 3,9% enquanto que no acumulado do ano, de -4,7%, e na variação dos últimos 12 meses, -5,0%.
Na comparação com o mês de julho, na série com ajuste sazonal, a variação do volume de serviços prestados pelos segmentos de serviços prestados às famílias (-1,6%), outros serviços (-1,2%), serviços profissionais, administrativos e complementares (-0,3%) registraram queda, enquanto serviços de informação e comunicação (0,3%) e transportes, serviços auxiliares aos transportes e correios (0,1%) registaram elevação. A atividade turística, na mesma comparação, teve recuo de 0,8%.
Em relação ao mês de agosto de 2015, todos os segmentos tiveram desempenho negativo, puxados por transportes, serviços auxiliares dos transportes e correio (-9,0%), serviços prestados às famílias (-4,1%), serviços profissionais, administrativos e complementares (-3,7%), serviços de informação e comunicação (-0,2%) e outros serviços (-0,2%). Atividades turísticas registraram queda de 7,9%.
No acumulado do ano, todos os setores mantiveram desempenho negativo. A maior queda observada foi no segmento de serviços auxiliares dos transportes e correios (-6,7%), seguido por serviços profissionais, administrativos e complementares (-6,0%), transporte, serviços prestados às famílias (-4,1%), outros serviços (-3,0%) e serviços de informação e comunicação (-2,8%). Os serviços relacionados a atividades turísticas tiveram retração de 2,7%.
Na variação de 12 meses registrada em agosto, todos os setores registraram queda. O pior desempenho alcançado foi do grupo de transportes, serviços de transportes e correio (-6,8%), seguido por serviços profissionais, administrativos e complementares (-6,6%), outros serviços (-5,7%), serviços prestados às famílias (-4,9%) e serviços de informação e comunicação (-2,5%). Nesta comparação, os serviços de atividades turísticas retraíram 2,4%.
Na análise por unidade federativa, no acumulado do ano, frente ao mesmo período de 2015, as unidades federativas que tiveram variação positiva são Roraima (3,8%), Distrito Federal (2,3%), Tocantins (1,0%). As maiores variações negativas foram registradas nos estados do Amapá (-15,3%), Amazonas (-15,0%), Maranhão (-10,3%), Pernambuco (-9,4%), Sergipe (-9,0%), Paraíba (-8,9%), Bahia (-8,9%) e Espírito Santo (-8,0%).