Análise IEDI
Situação bastante distinta
A economia brasileira continua apresentando um processo espetacular de ajustamento externo. Segundo os dados do Mdic divulgados hoje o superávit da balança comercial no terceiro trimestre de 2016 foi de US$ 12,5 bilhões, resultante de exportações de US$ 49,1 bilhões e de importações de US$ 36,6 bilhões. Com isso, o saldo acumulado nos nove meses de 2016 atingiu US$ 36,2 bilhões, montante muito superior àquele acumulado no mesmo período de 2015 (US$ 10,2 bilhões).
Nota-se, contudo, que a consolidação do superávit da balança comercial em 2016 apresenta contornos bastante distintos da situação verificada em 2015. Ainda que a queda das importações permaneça o motor da melhora do saldo, há claros sinais de desaceleração desse movimento. Em contrapartida, as exportações caminham, com alguma volatilidade, para o terreno positivo, sob influência das vendas externas de produtos industrializados.
As variações trimestrais frente ao mesmo período do ano anterior das médias por dia útil mostram bem essas trajetórias. As exportações totais, que tinham queda de dois dígitos desde o último trimestre de 2014, chegando a -19,4% no terceiro trimestre de 2015, reduziram seu patamar de retração para -1,9% no trimestre findo em setembro de 2016.
A evolução das exportações é bastante promissora, especialmente porque vem acompanhada de uma melhora relativa de todos os tipos de produtos. As exportações de básicos continuaram em queda no terceiro trimestre de 2016 (-11,2%), mas esta foi menos intensa do que no ano passado (-22,6% no mesmo trimestre de 2015).
Manufaturados, por sua vez, voltaram a crescer: +3,8% no terceiro trimestre de 2016. Isso ocorre depois de ter atingido níveis intensos de retração no ano passado (-15,4% no trimestre findo em set/15). Já produtos semimanufaturados tiveram alta expressiva neste trimestre, 14,6%, devido sobretudo às vendas externas de açúcar bruto.
No caso das importações, o patamar de queda, que atingiu algo como -30% do terceiro trimestre de 2015 ao primeiro de 2016, regrediu para -12,9% no trimestre findo em setembro de 2016. Esse arrefecimento pode ser mais um sintoma de que o quadro atual da crise econômica não está tão grave quanto o do ano passado, mas também pode estar refletindo a apreciação da taxa de câmbio dos últimos meses, a retirar força de processos de substituição de importações.
Quase todas as categorias de bens importados tiveram menores taxas de declínio de suas médias de importação por dia útil. Nos bens intermediários, a queda retrocedeu de -25,5% para -5,7% do terceiro trimestre de 2015 para o terceiro de 2016, na comparação com o mesmo período do ano anterior. Nos bens de consumo, onde os resultados foram em torno de -30% no último trimestre de 2015 e nos dois primeiros de 2016, a queda foi de -18,3% no terceiro trimestre do presente ano.
A má notícia fica por conta da importação de bens de capital, cuja retração menos pronunciada no segundo trimestre de 2016 (-13,5%) chegou a dar certa esperança de alguma recuperação dos investimentos. Agora no terceiro trimestre, voltou a cair em patamares semelhantes ao final do ano passado: -26,5% frente ao mesmo período do ano passado.
De acordo com dados divulgados pelo MDIC, o saldo da balança comercial brasileira em setembro apresentou superávit de US$ 3,803 bilhões frente a um saldo de US$ 2,946 bilhões no mesmo mês do ano passado. As exportações alcançaram US$ 15,790 bilhões, o que representa uma queda no valor de 2,2% frente ao mesmo mês do ano passado. As importações, por sua vez, somaram US$ 11,987 bilhões, queda de 9,2% em relação a setembro do último ano.
Observa-se que para o acumulado do ano, o saldo comercial apresentou superávit de US$ 36,175 bilhões. No mesmo período de 2015, a balança comercial apresentou superávit de US$ 10,252 bilhões. As exportações, em 2016, apresentaram o valor de US$ 139,361 bilhões, queda de 4,6% frente a 2015. Quanto as importações vemos que estas somaram US$ 103,186 bilhões, recuo de 23,9% sobre igual período de 2015.
No mês, a média diária (medida por dia útil) das exportações foi de US$ 751,9 milhões, 2,2% inferior ao mesmo mês do ano passado, quando atingiu US$ 769,0 milhões. A média diária das importações apresentou variação negativa, de 9,2%, registrando US$ 570,8 milhões, frente a US$ 628,7 milhões do mesmo mês do ano passado. A média diária do saldo comercial no mês foi de US$ 181,1 milhões, 29,1% maior que o do último mês de setembro, de US$ 140,3 milhões.
Exportações por fator agregado. As exportações em setembro atingiram US$ 15,790 bilhões. Deste valor, US$ 6,548 bilhões (-8,6%) corresponderam a exportação de produtos básicos, US$ 2,728 bilhões (19,8%) a produtos semimanufaturados, US$ US$ 6,136 bilhões (-3,1%) a produtos manufaturados.
Em relação ao mês de setembro de 2015, a média diária das exportações teve redução de 2,2%. As principais variações vieram de operações especiais (-0,2%), manufaturados (-3,1%), básicos (-8,6%), semimanufaturados (19,8%).
Destaques exportações. No grupo dos básicos na comparação com setembro de 2015 temos as seguintes variações: soja em grão (-57,6%), fumo em folhas (-50,2%), milho em grão (-15,3%), farelo de soja (-14,1%), carne bovina (-11,0%), algodão em bruto (-3,6%), minério de cobre (71,0%), petróleo em bruto (39,8%), minério de ferro (12,2%), carne de frango (9,8%) e café em grão (0,4%).
Para os manufaturados, os destaques são os seguintes: óxidos/hidróxidos de alumínio (-38,5%), motores p/veículos e partes (-21,3%), polímeros plásticos (-21,0%), autopeças (-20,5%), tubos flexíveis de ferro/aço (-11,0%), motores e geradores elétricos (-2,7%), de suco de laranja não congelado (99,2%), óleos combustíveis (86,8%), açúcar refinado (83,8%), veículos de carga (68,3%), chassis com motor (66,7%), automóveis de passageiros (41,5%), aviões (31,3%), tratores (18,4%), pneumáticos (14,1%), máquinas p/terraplanagem (10,6%) e laminados planos (3,9%).
Para os semimanufaturados, quando comparado com setembro do ano passado, temos as seguintes variações: açúcar em bruto (147,0%), ouro em forma semimanufaturada (76,7%), madeira serrada (49,5%) e óleo de soja em bruto (3,6%).
Importações por categoria de uso. As importações totais em setembro somaram US$ 11,987 bilhões, dos quais US$ 1,224 bilhão (-28,3%) referentes ao grupo de bens de capital, US$ 7,767 bilhões (-2,3%) a bens intermediários, US$ 1,984 bilhão a bens de consumo (-10,1%) e US$ 1,091 bilhão (-23,7%) a combustíveis e lubrificantes.
Na comparação com o mês de setembro de 2015, a média diária de importação caiu -9,2%, com queda em todos os segmentos. A maior variação negativa ficou por conta de bens de capital (28,3%), seguido por combustíveis e lubrificantes (-23,7%), bens de consumo (-10,1%) e bens intermediários (-2,3%).
Destaques importações. Para bens de capital, houve elevação dos seguintes itens: equipamentos de transporte industrial e bens de capital, exceto equipamentos de transporte industrial.
No segmento de bens intermediários decresceram as aquisições de peças e acessórios para bens de capital, peças para equipamentos de transporte, insumos industriais básicos e insumos industriais elaborados.
No segmento bens de consumo, as principais quedas foram observadas nas importações de bens de consumo duráveis e bens de consumo semiduráveis e não duráveis.
No grupo dos combustíveis e lubrificantes, a queda decore da diminuição dos preços de petróleo em bruto, gás natural, coques de hulha, querosenes, óleos lubrificantes, butanos liquefeitos.