Análise IEDI
A trajetória da crise em serviços
O setor de serviços sofreu, em junho, mais um mês de queda do faturamento real, -0,5% frente a maio com ajuste sazonal. 2016 vai se mostrando, assim, um ano de aprofundamento da crise do setor. Ainda que haja um movimento geral de certa moderação nesses primeiros meses do ano em relação ao final de 2015, em seus segmentos vemos um leque de tendências que não estão muito bem delineadas.
Antes de tratarmos do desempenho dos seus diferentes segmentos, cabe uma breve retrospectiva da crise do setor. Puxado principalmente pelos serviços prestados às famílias, mas também pelos serviços às empresas, o faturamento real passou a ter uma trajetória de declínio a partir do início de 2015, mas em um ritmo muito aquém da piora da crise na indústria e no comércio varejista. Isso retardou o agravamento do desemprego no país.
Mesmo assim, o ano de 2015 se encerraria com praticamente todos os segmentos de serviços em queda, fazendo com que o faturamento do setor como um todo caísse 5,9% no segundo semestre de 2015. No primeiro semestre de 2016, houve uma moderação de perdas, que recuaram para -4,9%, frente ao mesmo período do ano anterior.
Com essa queda de -4,9%, os serviços permanecem com a menor taxa de retração entre os grandes setores da economia, mas se aproximam da magnitude da crise do varejo (-5,3% de queda nas vendas reais no 1º semestre de 2016). A indústria, como se sabe, a despeito dos sinais de estabilização, continua liderando a recessão da economia brasileira, com um resultado de -9,1% de sua produção real na primeira metade do ano.
A desaceleração da crise do total do setor de serviços no primeiro semestre de 2016 esconde trajetórias distintas de seus grandes segmentos. Uma grande fonte de preocupação vem de serviços prestados às famílias, que tinham reduzido pela metade sua queda na passagem do último trimestre de 2015 (-6,3%) para o primeiro de 2016 (-3,2%), mas voltaram a apresentar piora no segundo trimestre deste ano: -5,8% frente ao mesmo período do ano anterior.
Na mesma situação encontra-se o segmento de transportes e correios, cuja retração de -6,7% no segundo trimestre de 2016 superou os -5,2% do primeiro trimestre. Ao menos, essa piora não se deve ao transporte terrestre, bastante expressivo no segmento e estreitamente relacionado com o nível de atividade da economia. Este subsegmento estabilizou suas perdas (ainda elevadas) em -9,7% nos dois trimestres de 2016.
Quem contribuiu para o agravamento da retração em transportes e correios foram os serviços de transporte aéreo e aquaviário, que só agora entraram em crise. No segundo trimestre do ano, o faturamento real declinou -3,5% (+4,7% no 1º trim. 2016) para o transporte aquaviário e -0,4% (+12,4% no 1º tri. 2016) para o transporte aéreo.
Já o segmento de serviços profissionais, administrativos e complementares (que em boa medida são prestados às empresas) é um exemplo de setor que parece estar estabilizando suas taxas de retração. Estas alcançaram -6,8% e -6,3% em cada um dos dois trimestres do ano. O patamar de queda é desconfortável, não há dúvida, mas é um pouco menor do que aquele do último trimestre de 2015 (-7,6%).
Serviços de informação e comunicação, por sua vez, cujo quadro tinha se agravado bastante no primeiro trimestre do ano (-4,4%), acusou moderação no segundo trimestre, trazendo seu patamar de queda (-2,4%) de volta para aquele do final de 2015 (-2,6%). Todos seus subsegmentos acompanharam esse movimento geral, mas vale notar que um deles, os serviços de tecnologia da informação, conseguiu voltar a crescer no segundo trimestre (+1,4%). Este foi o único caso de taxa positiva no período.
Por fim, o resultado dos serviços de turismo piorou e muito no segundo trimestre, chegando a -4,4%, depois de uma quase estabilidade trimestre anterior (-0,1%). É bem provável que este seja mais um dos efeitos negativos da valorização do câmbio na primeira metade do ano, voltando a estimular as viagens internacionais em detrimento do turismo interno.
De acordo com dados divulgados pelo IBGE da Pesquisa Mensal de Serviços para o mês de junho, o volume de serviços prestados variou -0,5% sobre o mês de maio, para dados com ajuste sazonal. Frente ao mesmo mês do ano anterior, a oscilação negativa foi de -3,4% enquanto que no acumulado do ano, de -4,9%, mesma variação observada nos últimos 12 meses.
Na comparação com o mês de maio, na série com ajuste sazonal, os segmentos de serviços de informação e comunicação e de transportes registraram avanço de 0,2% e 0,1%, respectivamente. Os demais setores apresentaram nível de volume de serviços inferior, na mesma base de comparação: serviços prestados às famílias (-0,5%), serviços profissionais, administrativos e complementares (-0,4%) e outros serviços (-1,5%).
Em relação ao mês de junho de 2015, todos os segmentos tiveram desempenho negativo, puxados por serviços prestados às famílias (-7,5%), serviços profissionais, administrativos e complementares (-5,9%), transportes, serviços auxiliares dos transportes e correios (-3,6%), outros serviços (-2,1%) e serviços de informação e comunicação (-1,6%). A atividade turística retraiu 0,2%.
No acumulado do ano, todos os setores mantiveram desempenho negativo. A maior queda observada foi no segmento de serviços profissionais, administrativos e complementares (-6,5%), transporte, serviços auxiliares dos transportes e correios (-5,9%), serviços prestados às famílias (-4,4%), outros serviços (-3,8%) e serviços de informação e comunicação (-3,4%). Os serviços relacionados a atividades turísticas tiveram retração alcançando de 2,2%.
Na variação de 12 meses registrada em junho, todos os setores registraram queda. O pior desempenho alcançado foi do grupo de outros serviços (-7,4%), seguido por serviços profissionais, administrativos e complementares (-6,6%), transportes, serviços de transportes e correio (-6,4%), serviços prestados às famílias (-5,2%) e serviços de informação e comunicação (-2,4%). Nesta comparação, os serviços de atividades turísticas retraíram 2,1%.
Na análise por unidade federativa, no acumulado do ano, frente ao mesmo período de 2015, as unidades federativas que tiveram variação positiva são Roraima (5,5%), Rondônia (3,8%), Distrito Federal (3,8%), Tocantins (2,6%) e Alagoas (0,9%). As maiores variações negativas foram registradas nos estados do Amapá (-16,2%), Amazonas (-15,2%), Maranhão (-10,8%), Paraíba (-9,5%), Pernambuco (-9,5%), Bahia (-8,6%), Sergipe (-8,4%) e Espírito Santo (-7,1%).