Análise IEDI
O preço do investimento: a posição do Brasil
O IEDI tem sublinhado já há algum tempo o desafio e a premência de se fortalecer a formação bruta de capital fixo (FBCF) no Brasil sob o risco do quadro econômico se deteriorar. A deterioração de fato ocorreu nos últimos anos, tornando-se aguda em 2105 com o retrocesso da situação política e sob os efeitos do conturbado ajuste fiscal e da política monetária contracionista. Segundo os últimos dados disponíveis, para o primeiro semestre deste ano, a FBCF acumula queda de 9,8%.
O crescimento econômico puxado pelo investimento possibilita a expansão com menor pressão sobre os preços em geral. Uma expansão impulsionada por esta forma também tende a favorecer mais a indústria. Em contrapartida, quando o protagonismo vem do consumo das famílias, parte maior da demanda é em serviços Daí a atenção com o dinamismo da FBCF, o que requer o tratamento de dois pontos.
Um reside na atratividade que a economia oferece para as inversões empresariais. No Brasil dos últimos tempos, o leque de oportunidades de investimento se estreitou e as avaliações empresariais sobre novos projetos se tonaram menos atraentes em decorrência de uma crescente perda de confiança no desempenho futuro da economia. Recuperar a confiança empresarial pressupõe a superação de vários entraves da economia como os que foram acima relacionados como determinantes do aprofundamento da situação econômica.
O ponto seguinte se refere ao preço de investir contraposto ao de outros países. Na economia global, a decisão sobre onde operar exige colocar na ponta do lápis o custo de se instalar e atuar em distintas localidades. Ressalve-se que um custo maior de investir pode expressar qualidade superior dos bens de capital e instalações, o que se converte em maior produtividade ou diferenciação de produto, sendo um caso positivo de elevação de preço da inversão.
Este último ponto – o do custo de investimento – foi objeto de um estudo do IEDI a partir das Penn World Tables, versão 8.1 (PWT8.1) divulgadas em abril último com dados até 2011. Estas trazem o preço da inversão (FBCF mais variação de estoques) no Brasil e em outros países medido em termos do preço do PIB dos EUA (preço do PIB dos EUA igual a 1 em 2005).
Os dados permitem as seguintes conclusões:
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Em 1985 o preço do investimento do Brasil, equivalente a 0,28 do preço do PIB dos EUA, era um dos menores dentre amplo leque de países selecionados (era o quadragésimo terceiro entre 50 países), ficando só um pouco à frente da China e África do Sul;
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Em 2000, o preço do investimento do Brasil estava em 0,47, ocupando o 37º lugar entre 54 países. O indicador era maior do que o da China, Índia e Rússia e África do Sul, mas inferior ao de todos os integrantes do G7, bem como dos países da Europa Ocidental e Setentrional e outros em desenvolvimento;
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Em 2011, o preço da inversão atingiu 1,27, patamar só superado por sete países (Suíça, Noruega, Austrália, Honduras, Suécia, Costa Rica, Japão). Assim, os países dos BRICS e a quase totalidade dos demais países emergentes, além de muitos países industrializados como EUA, Canadá e boa parte da Europa, incluindo os integrantes europeus do G7, ficaram mais baratos para investir do que o Brasil.
Por mais que o Brasil tenha em seu mercado interno um reduto relevante para a atratividade de investimentos estrangeiros e domésticos, passar no espaço de duas décadas e meia de uma das economias mais atraentes em ternos de custo de investir para uma das economias de maior preço da inversão, é fator que por si só o coloca em desvantagem para atrair capitais e integrar cadeias de produção globais.
Ter uma política para reduzir o custo de investir e baratear os bens de capital seria importante componente de uma política de longo prazo com vistas a assegurar maiores níveis de inversão na economia e maior crescimento industrial.