Análise IEDI
A crise no crédito
Os dados divulgados hoje pelo Banco Central indicaram o aprofundamento da deterioração da situação do crédito no país. As novas concessões vêm apresentando queda persistente, e o que é pior, a situação vem se agravando nos últimos meses.
Em termos nominais, observou-se uma redução de 1,4% na comparação do período entre janeiro e agosto de 2015 sobre o de 2014. Para pessoas jurídicas, a redução foi de 4,7% enquanto que para pessoas físicas houve aumento de 1,5%.
Estes valores nominais correspondem a variações reais altamente negativas: corrigidos pelo IPCA, os dados indicam uma queda das concessões de crédito no acumulado do ano de 9,1%. Para pessoas jurídicas, a variação foi de -12,1% enquanto que para pessoas físicas, de -6,4%.
Nota-se que as concessões de crédito oriundas de recursos direcionado são as principais responsáveis pela queda das novas concessões de crédito no Brasil. Em termos nominais, a retração no acumulado do ano foi de -16,5% no geral (23,1% em termos reais). Para pessoas jurídicas, foi de 20,8% (-27,1% reais) e pessoas físicas, de 11,2% (18,1% reais).
As concessões oriundas de recursos livres apresentaram ritmo de queda menor: no total, em termos nominais, houve expansão de 1,0% (-6,9% em termos reais). Para pessoas jurídicas, a variação foi de -1,6% (-9,3% reais) e pessoas físicas, de 3,2% (-4,8% em termos reais).
O crédito de recursos direcionados, mais especificamente os tomados por pessoas jurídicas, que na história recente do Brasil tem jogado um papel anticíclico, adquire agora uma característica fortemente pró-cíclica.
Diferentemente de 2008, quando o BNDES assumiu um protagonismo fundamental na minimização do impacto da crise financeira global, o banco tem reduzido bruscamente a concessão de novos empréstimos, seja via redução da oferta, seja via redução da demanda, causada pela forte queda do investimento na economia.
Além disso, a redução dos recursos da poupança, que financiam a aquisição de imóveis por pessoas físicas, pode ter atingido o desempenho de novas concessões para este grupo específico. A necessidade de compensar o buraco orçamentário das famílias (por causa da queda do emprego e renda) e a perda de atratividade da caderneta de poupança devido ao aumento da taxa de juros, podem explicar este fato.
O dado positivo que se pode depreender da pesquisa é que o desempenho da economia em geral e do crédito em particular, não levou a um aumento expressivo da inadimplência em termos gerais, que registrou 3,1% em agosto.
Para pessoas jurídicas, a taxa foi de 2,4%, sendo que no mesmo mês do ano passado ela era de 2,0%. Entre pessoas físicas, o indicador encontra-se estagnado em torno de 3,8% desde novembro do ano passado, o que indica a manutenção das condições de pagamento da população.
Assim, pode-se dizer que, havendo uma melhora no clima geral da economia brasileira, o crédito poderá fluir com mais naturalidade, rumo à retomada.
Dados do Banco Central do Brasil divulgados hoje apontaram que a participação do crédito no PIB alcançou 54,6%, 1,7 p.p. superior ao registrado no mesmo mês de 2014. Do saldo total, 28,8% do PIB são referentes a operações junto a pessoas jurídicas e 25,8% a pessoas físicas. No âmbito do Sistema Financeiro Nacional, os recursos livres responderam por 27,9% do PIB, enquanto que os recursos direcionados corresponderam a 26,7%.
A variação real do saldo de crédito da economia (corrigido pelo IPCA), frente ao mesmo mês do ano anterior, apresentou crescimento de 0,1%, composto pela queda de 0,3% do saldo para pessoas jurídicas e expansão de 0,5% para pessoas físicas.
No que diz respeito a natureza dos credores, em relação a agosto do ano passado, o saldo de crédito com instituições públicas cresceu 4,4% e atingiu 30,3% do PIB, enquanto que as instituições financeiras privadas nacionais alcançaram 16,5% (queda de 6,1%) e as instituições privadas estrangeiras, 7,9% (queda de 1,9%).
As novas concessões de crédito, em termos reais, tiveram retração de 12,8% sobre o mesmo mês de 2014 e de 12,1% na comparação do acumulado entre janeiro e agosto de 2014 e 2015. A maior queda veio das operações com recursos direcionados, que retraíram 31,6% frente ao mesmo mês de 2014 e 23,1% no acumulado do ano, enquanto que aqueles originados de recursos livres recuaram 9,5% e 6,9%, respectivamente.
As taxas médias dos contratos de crédito totais permaneceram na sua trajetória de crescimento, atingindo em julho 36,9% a.a. para pessoas físicas e 20,3% a.a. para pessoas jurídicas. As operações feitas no âmbito dos recursos livres registraram taxas de juros médias de 61,2% a.a. para pessoas físicas e 28,5% a.a. a pessoas jurídicas. Os recursos direcionados originaram taxas de juros médias de 9,8% a.a. a pessoas físicas e 10,6% a.a. para pessoas jurídicas.
A inadimplência total teve crescimento em julho, alcançando 3,1%, 0,1 p.p. a mais que em agosto de 2014. Nas operações junto a pessoas físicas, a taxa foi de 1,9% em contratos oriundos de recursos direcionados e 5,5% de recursos livres. O nível para pessoas jurídicas foi de 0,7% de recursos direcionados e de 4,1% de recursos livres.