IEDI na Imprensa - Indústria tem alívio temporário em junho
O Globo
Setor registra alta de 13,1%, compensando tombo de 11% em maio, reflexo da greve dos caminhoneiros. Analistas, no entanto, alertam que recuperação é lenta e que cenário eleitoral pode afetar resultado no 2º semestre. Projeções são de queda para julho
Editorial Econômico
Os impactos diretos da greve dos caminhoneiros são coisa do passado para a maior parte da indústria brasileira, mas o alívio deve ser temporário. Segundo dados divulgados ontem pelo IBGE, a produção no setor registrou alta de 13,1% em junho, compensando o tombo de 11% em maio, reflexo da paralisação. Analistas, contudo, alertam que, apesar do resultado positivo — o crescimento foi o maior da série histórica, iniciada em 2002 —, o ritmo ainda é de recuperação lenta, com as incertezas de período eleitoral no radar. Para julho, as projeções já são de queda.
Na média, a indústria fechou o mês com ritmo de produção 0,7% acima do nível pré-greve. Dos 26 segmentos que compõem a pesquisa, 22 tiveram alta frente a maio. Além disso, 15 deles voltaram ao patamar de abril, antes da paralisação. Em relação a junho do ano passado, houve alta de 3,5%.
O principal destaque de junho foi a alta de 47,1% da fabricação de automóveis, recuperando o tombo de 30,1% em maio. O desempenho é o melhor desde janeiro de 2009, quando o segmento se recuperou das perdas durante a crise financeira global e disparou 54,9%. Além da normalização do abastecimento de peças com o fim da paralisação, os juros menores ajudam a explicar o resultado.
A indústria de bebidas também foi bem, com avanço de 33,6%. O destaque negativo ficou por conta da queda de 10,7% no segmento de equipamentos de transporte.
PERDA DE FÔLEGO
Considerando as chamadas grandes categorias econômicas, todas tiveram números recordes, inclusive a de bens de capital, importante indicador de investimentos.
André Macedo, gerente da coordenação de Indústria do IBGE, responsável pela pesquisa, destaca, no entanto, que o setor ainda está 13,7% abaixo do pico de produção, alcançadoemmaiode2011.Naavaliação de Rodrigo Nishida, economista da LCA Consultores, o efeito direto da greve nos níveis de produção pode ter sido superado, mas o impacto sobre a confiança não.
— Não é um sinal de que a partir de agora a indústria vai deslanchar. O efeito líquido da greve dos caminhoneiros ainda é negativo, tivemos uma perda de confiança que deve impactar nos próximos meses — destaca Nishida, que projeta crescimento de 3% para a indústria neste ano.
Rafael Cagnin, economista do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (IEDI), observa que há uma perda de fôlego quando analisados dados de longo prazo. No segundo trimestre, em relação a igual período de 2017, a produção cresceu só 1,7%, umadesaceleraçãoemrelação aos índices anteriores: no primeiro trimestre, a alta havia sido de 3%. O ritmo preocupa, diz Cagnin, porque a economia deve passar por turbulências no segundo semestre:
— Teremos um evento eleitoral, que pode vir acompanhado de volatilidade do câmbio e impacto sobre a confiança. Teria sido importante um dinamismo mais forte.
Para julho, já há projeções de queda. O Itaú Unibanco prevê recuo de 1,5%, enquanto a LCA projeta retração de 1,3%, na comparação com junho.