IEDI na Imprensa - Indústria não virou a página da crise, diz estudo
Valor Econômico
Ana Conceição
Em 2017, primeiro ano do pós-recessão, indicadores financeiros da indústria como lucratividade e endividamento melhoraram, mas ainda não se pode dizer que o setor virou a página da crise. É a conclusão de um estudo feito pelo Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (IEDI).
O trabalho sugere que ainda há obstáculos importantes -- como o custo de capital - para a retomada de um ciclo de investimentos produtivos na economia. Essa retomada "é condição necessária para a saída consistente da recessão", afirma a instituição.
Feito a partir de balanços patrimoniais de resultados e demonstrativos de companhias abertas, o estudo cobre um grupo de 293 empresas - 133 indústrias - de 2010 a 2017, período em que o Produto Interno Bruto (PIB) foi do céu ao inferno. Sobre o setor industrial especificamente, o texto diz que "o período em análise se encerra com indicadores de lucratividade, de endividamento e de cobertura de despesas financeiras abaixo dos recomendáveis [e ainda piores que o período pré-recessão] para que as empresas virem a página da recente crise e voltem a investir. Esse é um condicionante relevante do atual quadro de baixo nível de dinamismo da economia brasileira".
Segundo o IEDI, já em 2014, a indústria apresentava indicadores financeiros em deterioração. Quando a recessão se aprofundou, em 2015, as grandes empresas vinham de um período em que haviam contratado dívidas interna e externa para financiar projetos de investimento e aquisições.
"O primeiro ano de recessão foi devastador para as empresas. Além da retração rápida e muito intensa do nível de atividade, o aumento das taxas de juros do crédito doméstico e a desvalorização do real provocaram um grande crescimento do endividamento e dos custos financeiros", diz o estudo.
A dívida acumulada do conjunto de companhias industriais analisadas atingiu o pico da série em 2015, ou R$ 393 bilhões, acréscimo de quase 30%, ou o equivalente a R$ 85 bilhões em relação a 2014. Em 2016, havia recuado pouco, para R$ 362 bilhões. Os números não incluem a Petrobras e a Vale.
No início do período analisado, 2010, as condições eram confortáveis no setor: a margem de lucro era de 8,5% e o volume de dívida somava R$ 222 bilhões, com uma relação entre endividamento líquido e capital próprio de 62,1%. O lucro operacional correspondia a 2,3 vezes os custos financeiros. O período seguinte alternou anos de médio e baixo crescimento, que contribuiu para afetar esses resultados.
Em 2014, a margem de lucro líquido da indústria caiu para 3%, enquanto a margem operacional recuou de 13,5% para 10%. Esses percentuais cairiam a 1,4% e 8,3% no ano seguinte, respectivamente.
Já o endividamento líquido chegou a 67,1% do capital próprio. Em 2015 e 2016 houve uma piora significativa e esse percentual saltou para 89,7% e 90%, respectivamente. O lucro operacional correspondia em 2014 a apenas 1,4 os custos financeiros, relação que caiu a 0,7 em 2015 e melhorou um pouco, a 0,8 em 2016.
Com o fim da recessão, no quarto trimestre de 2016, e o início de recuperação da economia em 2017, a lucratividade aumentou. Nos setores industriais essa melhora foi quase generalizada, mas mais acentuada para os bens de consumo. Segundo o estudo do IEDI, a redução das despesas financeiras foi o principal determinante da recuperação da margem de lucro líquido, que no agregado da indústria passou de 2,4% em 2016 para 3,7%. A margem bruta aumentou de 22,5% em 2016 para 23,5% em 2017. A combinação de maior lucro operacional, de R$ 67 bilhões em 2017, com uma despesa financeira bruta menor, de R$ 55 bilhões, reduziu a fragilidade financeira da indústria.
A melhora contudo, não foi suficiente para recuperar o investimento de forma mais consistente. "Mesmo com alguns indicadores favoráveis - inflação baixa e juros básicos menores - o crescimento da economia foi baixo e com muitas fragilidades. Na perspectiva do equilíbrio econômico-financeiro das empresas, a melhora foi apenas parcial", diz o estudo, observando que em nenhum ano do período 2011-2017, a rentabilidade dos investimentos superou o custo médio do capital.