IEDI na Imprensa - Bens de consumo duráveis puxam crescimento da indústria em abril
DCI
Desempenho positivo não foi suficiente para compensar perdas registradas nos primeiros meses do ano. Impacto da greve dos caminhoneiros na produção, porém, deverá ser sentido em maio
Ricardo Casarin
Bens de consumo duráveis puxam desempenho da indústria. Categoria teve maior crescimento no mês de abril, de acordo com levantamento do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgado nesta terça-feira (05).
“Esse resultado reforça uma tendência que já vinha se mostrando desde o início do ano, com os setores automotivo e de eletroeletrônicos puxando o crescimento”, avalia o economista da Pezco, Yan Cattani.
O levantamento aponta crescimento mensal de 0,8% na produção industrial em relação a março. No índice acumulado do ano, o crescimento foi de 4,5%, com importante contribuição de veículos automotores, reboques e carrocerias (25,2%) e equipamentos de informática, produtos eletrônicos e ópticos (27,6%).
Cattani aponta que a indústria automobilística está passando por um ciclo de crescimento, ligado a recomposição do estoque. “A cada três anos ocorre esse crescimento e depois vem uma queda. Estamos quase no ápice desse ciclo. No final do ano passado, começou uma recomposição de estoque, que está abaixo da média histórica. Quando atingir esse patamar, vai diminuir o ritmo da produção”. Já o bom desempenho de eletroeletrônicos decorre em boa parte da demanda da Copa do Mundo. “Isso reflete no varejo e também na indústria.”
O desempenho do quadrimestre na categoria bens de consumo duráveis foi de 21,6% frente ao igual período de 2017. O desempenho de bens de capital também foi expressivo (14%). Já bens de consumo semi e não duráveis (2,8%) e bens intermediários (2,4%) tiveram taxas de crescimento inferiores. “Quase todos os setores vêm crescendo, ou ao menos, apresentando uma desaceleração na queda. Mas vemos um crescimento mais comedido, não se pode dizer que toda cadeia apresenta uma recuperação expressiva”, afirma Cattani. Outros segmentos que registraram desempenho positivo foram produtos alimentícios (4,8%), de metalurgia (8,0%), de máquinas e equipamentos (7,7%), de celulose, papel e produtos de papel (7,1%), de produtos de borracha e de material plástico (5,7%), de produtos farmoquímicos e farmacêuticos (7,3%), de bebidas (4,5%), de produtos de madeira (10,1%), de perfumaria, sabões, produtos de limpeza e de higiene pessoal (7,8%) e de móveis (10%). Resultados negativos foram registrados nos segmentos de coque, produtos derivados do petróleo e biocombustíveis (-4,2%) e indústrias extrativas (-2,0%).
Na análise do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (IEDI) abril foi o primeiro mês de 2018 em que a indústria apresentou “um crescimento digno de nota” e que “o resultado mais significativo em abril decorreu de variações positivas em metade dos 26 ramos industriais acompanhados pelo IBGE, formando um panorama bastante dividido, como tem sido frequente nessa etapa de recuperação industrial”. A análise do IEDI ainda ressalta na comparação anual, o resultado positivo de 8,9% foi turbinado por abril de 2018 ter três dias úteis a mais do que no mesmo período de 2017.
Recuperação insuficiente
O gerente na Coordenação de Indústria do IBGE, André Macedo, avaliou como positiva a reação da indústria, mas não o bastante para recuperar as perdas registradas em meses anteriores. “A alta de abril é importante, mas ainda insuficiente para compensar a queda desde dezembro. Mesmo com resultado, a indústria está 1,3% abaixo do patamar de dezembro de 2017.”
A Pesquisa Industrial Mensal do IBGE mostrou recuo de 2,1% em janeiro, crescimento de 0,1% em fevereiro e nova queda de 0,1% em março. “Afeta o processo e o ritmo de produção, mas ainda não sabemos o tamanho desse reflexo”, declarou Macedo.
Cattani aponta que a paralisação afetou a produção de diversos setores, causando prejuízos. “Atingiu a própria indústria automotiva, de celulose, alimentos, setores que vinham tendo bom desempenho. Mas ainda não conseguimos dimensionar qual foi o impacto.”
Macedo explica que a menor intensidade da demanda doméstica ainda atrapalha a indústria e que a recuperação da produção ainda depende de uma maior absorção de mão-de-obra pelo mercado de trabalho. "Não se pode imaginar um nível maior de produção sem que você tenha um mercado interno caminhando de forma mais vigorosa. A demanda doméstica ainda está muito enfraquecida.”
Cattani avalia que o cenário atual é muito incerto, por conta da instabilidade política e eleições. “Dentro desse contexto, imagina-se um crescimento da produção de 5,1% em 2018. E ano que vem, num cenário ainda mais incerto, avanço de 1% a 2%.”