IEDI na Imprensa - Varejo teve o pior fevereiro em 3 anos e voltou a deixar o mercado em alerta
DCI
A queda de 0,2% nas vendas no segundo mês do ano, ante janeiro, comprova que a retomada da economia continua ocorrendo em passos mais lentos que o previsto inicialmente pelo mercado
Paula Cristina
A queda de 0,2% nas vendas do varejo restrito na passagem de janeiro para fevereiro deste ano acentuou o fato de que a retomada da economia se dará em passos muito lentos. Com os resultados fracos dos supermercados e postos de combustível, o mercado estima que 2018 ainda será marcado por forte oscilação no comportamento do consumidor.
“O mercado de trabalho está por trás desse movimento lento e gradual de vendas. É menos gente consumindo", disse a gerente da pesquisa no IBGE, Isabella Nunes, acrescentando ainda que o período de férias e pagamentos de impostos também pressiona o consumidor no segundo mês do ano.
De acordo com a Pesquisa Mensal de Comércio (PMC), realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) a queda de 0,2% se dá na análise descontada a inflação, e foi menor que o previsto pelo mercado, em que a estimativa era de um avanço de até 1,2% no mês.
Na comparação com fevereiro de 2017, com ajuste sazonal, as vendas do varejo tiveram alta de 1,3% em fevereiro de 2018. "A recuperação está mais lenta e gradual desde o início do segundo semestre do ano passado", diz.
Com o resultado, a Confederação Nacional do Comércio (CNC) revisou a estimativa de crescimento do setor para o ano, reduzindo o avanço previsto de 5,2% para 5%.
Montanha russa
Para os economistas do IEDI os resultados verificados em fevereiro comprovam que a retomada da economia não será tão rápida quanto o previsto inicialmente. “Se fevereiro não foi um bom mês para a indústria, para o comércio varejista foi ainda mais desfavorável. As vendas recuaram frente a janeiro e tiveram um resultado excepcionalmente fraco em relação ao mesmo mês do ano passado”, dizia o relatório do instituto sobre o setor.
“Este é mais um dado a corroborar que recuperação da economia segue em marcha muito lenta”, completava.
Segundo o professor de macro economia e mestre em relações de consumo, Rodolfo Gardezani, o movimento verificado no mês evidencia a fragilidade do consumo no Brasil e tende a aumentas com a aproximação das eleições gerais de outubro. “Por mais que a economia tente reagir, basta um sinal de alerta para que o consumo se contraia”, comenta ele, lembrando que a oscilação será ainda mais intensa conforme se aproximem as eleições gerais de outubro.
Um mês para esquecer?
Apesar de ter sido a maior contração para fevereiro em três anos, o resultado geral do comércio restrito esconde alguns resultados positivos.
De acordo com o balanço do IBGE, o segmento que envolve as farmácias, drogarias e venda ligadas ao setor de saúde cresceram 1,6% de um mês para outro, resultado que se somou ao melhor resultado do segmento de equipamentos e materiais para escritório, informatica e comunicação, que avançou 2,7% na margem.
“O problema em fevereiro se deu porque os setores que mais pesam para o indicador [supermercados e combustíveis] apresentaram retração e derrubou o indicador como um todo”, diz Gardezani.
O acadêmico ressalta ainda que entre os supermercados a situação está mais sob controle, uma vez que a queda na receita está diretamente atrelada à deflação no preço dos alimentos, que se acentuou no último trimestre do ano passado em função do valor das commodities.
“No entanto há um cenário internacional positivo para que os preços voltem a reagir no curto prazo”, completa ele. O setor mais problemático, explica, se dá entre os combustíveis, já que o consumo está atrelado a dois fatores:
“A variação semanal no preço da gasolina da bomba [modelo adotado pela Petrobras ano passado] teve um efeito negativo para o consumidor, que entende que o valor do litro sobe toda semana. Além disso, muita gente vendeu, ou diminuiu o uso de carros na crise e ainda não voltou com os hábitos anteriores”, diz.
Quando analisado o varejo ampliado, que inclui as atividades de material de construção e de veículos, as vendas caíram 0,1% em fevereiro ante janeiro (veja mais no gráfico), na série com ajuste sazonal.