IEDI na Imprensa - Indústria decepciona com alta de 0,2%, mas analistas veem recuperação ao longo do ano
O Globo
Produção cresceu 4,3% no primeiro bimestre, melhor resultado desde 2011
Marcello Corrêa
A indústria frustrou as expectativas do mercado em fevereiro, mas segue tendência de recuperação, na avaliação de especialistas. Segundo dados divulgados nesta terça-feira pelo IBGE, o setor avançou 0,2% em relação a janeiro, voltando ao terreno positivo após um recuo de 2,2% no mês anterior (revisado, ante estimativa inicial de queda de 2,4%). Analistas esperavam mais: a mediana das projeções apontava alta de 0,6%. Mesmo assim, a leitura é positiva para o resto do ano. As previsões chegam a apontar crescimento de mais de 5% no ano.
A alta foi sustentada pelo crescimento de 4,4% do segmento de perfumaria, que costuma ser considerado volátil e de difícil análise por economistas que acompanham o setor. Em segundo lugar, veio a alta de 0,9% da fabricação de automóveis, que tem ditado o ritmo da produção industrial nos últimos meses. O resultado frustrou as expectativas principalmente por causa da queda de 5,2% das indústrias extrativas e do tombo de 8,1% do segmento farmacêutico — outro que alterna crescimento com recuo quase mensalmente.
Na avaliação dos analistas consultados pelo GLOBO, o saldo é positivo, sempre com a ressalva de que a retomada da indústria é lenta e gradual — uma analise que tem se repetido nos últimos meses. Os dados comparados ao ano passado ajudam nessa análise. Em relação a fevereiro de 2017, a indústria avançou 2,8%. Uma desaceleração frente a janeiro, quando a alta ultrapassou os 5%, mas a décima taxa positiva seguida. Assim, o bimestre fechou com avanço de 4,3%, o melhor primeiro bimestre desde 2011.
— Veio um pouco mais fraco do que o esperado e o resultado do mês passado foi bastante distorcido. Outro fator atenuante é a queda de indústria extrativa, ligada a questões operacionais, como atraso de extração, menos relacionada à demanda doméstica. Mas quando olhamos a média de três meses, vemos que a indústria está crescendo a 0,2%. Um ritmo anualizado em torno de 2,5%, bom para o primeiro trimestre, embora um pouco mais fraco que o esperado. Esperamos uma aceleração nos próximos meses, conforme a demanda for mais influenciada pela política monetária (queda de juros) — afirma o economista Artur Passos, do Itaú Unibanco, que espera alta de 0,6% em março frente a fevereiro e crescimento de 5,5% da indústria em 2018, bem acima da expectativa do boletim Focus, que vê alta de 3,9%.
resultado tímido de fevereiro também foi suficiente para garantir que a indústria fechará o primeiro trimestre no positivo. A economista Tabi Thuler Santos, coordenadora da Sondagem da Indústria do Ibre/FGV, estima que, mesmo se o setor ficar estável em março, já haverá uma alta de 0,1%. Nas contas de Passos, do Itaú, o trimestre será de alta de 0,7%.
— O número veio um pouco pior que o esperado. Mesmo assim não altera a perspectiva de crescimento ao longo do ano — afirma a especialista.
Alberto Ramos, economista do Goldman Sachs que acompanha América Latina, também esperava resultado mais robusto, mas vê espaço para melhora. "Olhando para frente, esperamos que o setor industrial continue a se beneficiar da recuperação cíclica da economia, queda das taxas de juros reais e melhores condições financeiras, e aumento do investimento liderado pela demanda da Argentina, mercado-chave para as exportações da indústria brasileira", pontua o economista, em relatório.
SETOR ESTÁ 15,1% ABAIXO DO PATAMAR MÁXIMO DE PRODUÇÃO
Se a perspectiva é de melhora na frente, o quadro atual ainda é de atenção. A indústria ainda está 15,1% abaixo do patamar máximo de produção, alcançado pelo setor em maio de 2011. O gerente da coordenação de indústria do IBGE, André Macedo, pontua ainda que os números favoráveis devem ser analisados levando-se em consideração a base fraca do ano passado. A indústria cresce em relação a um ano em que ainda ensaiava uma recuperação.
— É claro que um resultado positivo é melhor do que se tivesse na manutenção do resultado negativo, mas a gente não pode tirar do nosso radar de análise que as bases de comparação são muito depreciadas — apontou André Macedo, gerente da coordenação de indústria do IBGE.
Tabi Thuler, da FGV, chama atenção ainda para o desempenho ainda fraco de setores que costumam indicar o ritmo do restante da indústria: bens de intermediários (insumos) e bens de capital (máquinas e investimentos em geral). A primeira categoria, que engloba a maior parte do setor industrial, recuou 0,7%, após já ter caído 2,2% em janeiro. Já os bens de capital tiveram avanço de apenas 0,1% após queda de 0,5% em janeiro.
— O resultado de intermediários e bens de capital está vindo fraco. A recuperação que está desenhada não muda, mas com certeza é um sinal de atenção — avalia.
Em comunicado, o Instituto de Estudos para o Desenvolvimento da Indústria (IEDI) destacou que a recuperação ainda se mostra frágil. "A recuperação industrial segue, então, igualmente moderada em 2018. Em fevereiro, esta afirmação também foi verdadeira inclusive na comparação interanual, em que baixas bases de comparação ainda ajudam na obtenção de resultados mais robustos. A alta frente a fev/17 foi de apenas 2,8%, muito aquém tanto do ritmo de crescimento de +5% tanto de janeiro como do último trimestre de 2017".