IEDI na Imprensa - Alívio temporário
Valor Grandes Grupos - 2017
Ano de eleições preocupa e grupos buscam respaldo financeiro para enfrentar turbulência
Um sopro de alívio resume o ano de 2017 para a indústria brasileira. Depois de ter visitado a beira do abismo, que dragou milhares de companhias médias e pequenas entre 2015 e 2016, as fábricas e montadoras de bens manufaturados registraram um ponto de recuperação na curva de desempenho, puxado sobretudo pela demanda do resiliente agronegócio, a uma tímida retomada do consumo das famílias e dos itens de maior demanda internacional, como commodities minerais e celulose, beneficiados pela vantagem cambial. O marco de 2017 foi o fim da recessão.
Depois de cravar três anos consecutivos de queda - em 2016-, o recuo foi de 6,6%, a produção industrial brasileira avançou 0,2% na passagem de setembro para outubro de 2017. O acumulado do ano alcançou 1,9% - e, comparado a outubro de 2016, o avanço foi de 5,3%, de acordo com números divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Na conta do orçamento de 2018, para travessia de mais um ano, ou mais, não são esperados grandes anúncios de investimentos novos (greenfield), nem mesmo as inversões de manutenção serão portentosas, porque estarão restritas de forma a onerar minimamente o caixa das indústrias.
Mesmo os grandes grupos industriais, que lideram a oferta de manufaturados do país, estão concluindo grandes inversões dos seus planos plurianuais sem colocar novos projetos de vulto nas suas carteiras de investimentos de longo prazo. A preocupação central para a grande maioria no setor industrial é ter respaldo financeiro para eventuais solavancos e tempestades na economia, cujo epicentro deverá continuar na crise política, especialmente se ela recrudescer com a reverberação da Operação Lava-Jato nos palanques da campanha presidencial.
“Nós projetamos para a indústria um crescimento em 2018 parecido com 2017 e, mesmo que o ano de 2018 venha nos surpreender com alguma expansão a um ritmo acima do que registramos neste ano, haverá muita capacidade ociosa a ser ocupada até voltarmos aos níveis de produção de 2010, por exemplo”, comenta Pedro Wongtschowski, presidente do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (IEDI). A utilização da capacidade instalada estava em 77,7% em outubro. “O maior risco que temos no horizonte é se tivermos que enfrentar um novo governo populista que provoque reversão de expectativas e da confiança empresarial”, acrescenta o executivo.
O desafio fundamental no comando das fábricas é a correta precificação da troca presidencial e sua influência das reformas fundamentais, como a tributária, para o negócio. A calibragem terá que contemplar um período que começa em meados de 2018 e deve se estender até meados de 2019, quando a bússola política poderá apontar novos rumos - ou não - para a economia brasileira. Até lá, principalmente, o câmbio e os embarques de mercadorias seguirão no radar da indústria como variáveis de impacto no desempenho das companhias.
A Confederação Nacional da Indústria (CNI) projeta uma expansão de 2% a 3% para o Produto Interno Bruto (PIB) em 2018, mas seus indicadores também mostram que uma parcela significativa do setor industrial continua em situação precária de caixa após três anos de recessão, e a recuperação prevista é insuficiente para reverter este quadro.
Para José Augusto Fernandes, diretor de políticas estratégicas da CNI, é fundamental que os ajustes na questão fiscal, especialmente a reforma da Previdência, se aprofundem junto com os efeitos da nova lei trabalhista para melhoria da competitividade do parque industrial brasileiro. “Acredito que, após as reformas trabalhista e da previdência, há espaço e momento político, mesmo em um ano eleitoral, para avanço também na reforma tributária, com foco na simplificação e ganhos de competitividade. Nosso atual sistema é muito oneroso às empresas e gera grandes custos e contenciosos”, afirma Fernandes.
A expectativa da CNI é que a modernização de marcos regulatórios, como o do petróleo e gás, assim como a necessidade de adoção de rotas e tecnologias mais inovadoras no parque industrial, venha a se refletir em maior disposição para investirem 2018. Os leilões do pré-sal e outras áreas de energia, além dos projetos de parcerias público-privadas (PPPs), poderão criar janelas de oportunidades, antes do resultado das urnas, crê o diretor da CNI.
A questão é que o setor privado estará sozinho na eventual retomada dos investimentos em 2018, uma vez que o setor público, especialmente nos Estados brasileiros, mal consegue pagar salários e aposentadorias em dia.
“O BNDES deverá retomar seu papel no desenvolvimento, uma vez que se tornou uma das raras fontes decapitai para indústrias de médio e pequeno portes em 2018”, lembra Wongtschowski, do IEDI. Depois que o banco de fomento nacional deixou de lado seu propósito de criar “campeãs nacionais” com investimentos pesados em empresas que poderiam ser grandes multinacionais, como os “chaebols” coreanos, deve sobrar mais recursos para indústrias de porte médio darem seu salto tecnológico, principalmente aquelas que querem entrar na era da Indústria 4.0, com a digitalização de seus processos e operações.
Os empréstimos do BNDES caíram da casa dos RS 180 bilhões de 2013-14 para os R$ 88 bilhões no ano passado, praticamente pela metade. Já os investimentos diretos (IED), que atingiram o montante da ordem de USS 97 bilhões em 2014, devem fechar o ano de 2017 entre USS 77 bilhões e USS 80 bilhões.
Além disso, com a crise local, as empresas brasileiras tornaram-se ativos com preços mais atrativos dentro de um mercado de 205 milhões de consumidores, o que poderá voltar a aguçar o apetite de empresas asiáticas por participação direta no mercado sul-americano e trazer seus investimentos para o país. Em 2018 poderá ser aferido o tamanho desse interesse, uma vez que as contratações de empresas de consultoria no Brasil por grupos estrangeiros para realização de “due diligence” e avaliação de ativos não para de crescer desde meados de 2016.
O fato é que a importância da indústria brasileira no ranking mundial vem caindo nos últimos anos, tanto em termos de valor da produção como de seus volumes de embarques. Os dados da Organização Mundial do Comércio (OMC) mostram que a fatia das exportações brasileiras de manufaturados (de maior valor agregado que commodities) caiu 0,24 ponto percentual, para 0,58% de todo o comércio global entre 2005 e 2015, enquanto a China, por exemplo, subiu 8,83% e a Coreia do Sul cresceu 0,55%.
Ao mesmo tempo, em uma década, a participação da indústria brasileira na produção mundial de manufaturados caiu 0,9%, recuando de 2,4% em 2006 para 1,84% em 2016, e a da China cresceu 11,8% e a da Coreia do Sul subiu 0,56%, mostrando claramente a perda de competitividade do país no mundo.
Segundo levantamento sobre o desempenho da indústria brasileira no mundo feito pela CNI, o parque produtivo nacional perde também para o México e deixou de ser o líder da América Latina como nos anos 1980 e 1990. E foi justamente a partir de 2012, quando a crise começou a ganhar força no Brasil, que o México avançou. Entre 2005 e 2015, a participação da indústria mexicana nas exportações globais de manufaturados aumentou 0,45 ponto percentual, enquanto a do Brasil recuou 0,24 ponto.
A expansão do México só não foi maior porque a fatia da produção da indústria mexicana no total da produção global de manufaturados também diminuiu 0,2 ponto percentual entre 2006 e 2016, enquanto a brasileira recuou 0,9 ponto percentual. Portanto, o caminho da recuperação promete ser longo.