IEDI na Imprensa - Apenas 1,6% das empresas adotam conceito de Indústria 4.0, revela CNI
DCI
Consequências da recessão econômica elevam os desafios para a implantação de avanços tecnológicos, já que grande parte das companhias reduziu seus investimentos durante a crise
Rodrigo Petry
Uma produção conectada e integrada com as mais avançadas tecnologias fabris e da informação ainda é uma realidade restrita a um pequeno número de empresas no Brasil, mas essa configuração deve se alterar em dez anos.
Atualmente, apenas 1,6% das fábricas brasileiras se inserem na chamada Indústria 4.0, número que deverá saltar para 21,8% até 2027, segundo estudo obtido em primeira mão pelo DCI e elaborado pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) e o Instituto Euvaldo Lodi (IEL), em parceria com a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e Estadual de Campinas (Unicamp).
Conhecida como a quarta revolução industrial, o conceito remonta ao processo de aumento do uso das tecnologias para o processamento de informações e de dados, conectando os equipamentos e produtos das fábricas, em meio à expansão da internet das coisas, da inteligência artificial, do armazenamento em nuvem e de big data.
O termo surgiu a partir de uma política pública do governo da Alemanha, que inseriu a informatização na manufatura, porém, iniciativas semelhantes foram introduzidas nos Estados Unidos, na França e na China.
“Basicamente, três quartos das empresas no Brasil ainda usam as formas mais simples de produção e, pouco mais de 1%, o que há de mais inovador”, afirma o superintendente nacional do IEL, Paulo Mól. Segundo ele, o mundo está passando por um processo de transformação fabril acelerado, que requer das empresas brasileiras rápida adaptação, sob o risco de perder competitividade e fatias de mercado tanto internamente quanto externamente para indústrias instaladas fora do País.
Dentro do objetivo de identificar como as inovações disruptivas vão impactar a competitividade do setor produtivo brasileiro, o levantamento apurou que 38,7% das indústrias do Brasil, atualmente, contam com uso pontual de Tecnologia da Informação e Comunicação (TIC), automação rígida e isolada. Ou seja, o nível mais rudimentar de integração entre as inovações tecnológicas e o chão da fábrica. Conforme a pesquisa, essa fatia deverá recuar para 14,6% em dez anos. “Observamos um esforço muito grande por parte das empresas para se adequar às tecnologias que estão no mundo. Ninguém investe por investir, mas para melhorar seus processos e ampliar seus níveis de competitividade”, diz. “As empresas brasileiras não têm outra opção: precisam se modernizar para operar em nível de igualdade globalmente”, acrescenta ele.
Segundo Mól, o processo de modernização em direção à Indústria 4.0 deverá se acentuar pela esfera da tecnologia para a gestão dos negócios, seguida pelo relacionamento com clientes e o mercado. “O que percebemos é um ritmo mais lento no caso da atualização tecnológica na linha de montagem e desenvolvimento de produtos” complementa.
Crise
Um fator que amplia os desafios é a recente crise econômica, que gerou uma retração da atividade industrial ao longo dos últimos três anos. “A recessão atrasou a discussão da Indústria 4.0, assim como de toda a incorporação de tecnologias mais avançadas na produção”, ressalta o economista-chefe do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (IEDI), Rafael Cagnin. “Todas essas mudanças precisam acontecer a partir de uma mudança radical na linha de produção e investimentos em modernização”, completa.
Enquanto o Brasil se insere lentamente na discussão da Indústria 4.0, outros países já caminham a passos largos na modernização dos parques fabris. “A corrida é para ver quem sai na frente e consegue absorver de forma mais rápida e com mais amplitude. Isso vai redefinir as trocas comerciais globais no futuro”, reforça.
Para o superintendente do IEL, um fator limitante é a falta de incentivos para o financiamento por parte de instituições públicas e de uma política industrial mais clara. “As empresas não se endividam, usando o caixa próprio para modernização”, diz Mól.
A pesquisa ouviu, de junho a novembro, 759 empresas.