IEDI na Imprensa - Para IEDI, reação das importações pode indicar retomada
Valor Econômico
Marta Watanabe
Com quedas ininterruptas e cada vez mais profundas desde o início de 2014, as importações totais brasileiras voltaram a crescer em 2017 sob grande influência da indústria de transformação. Os desembarques desse setor cresceram 9% no terceiro trimestre contra igual período de 2016. De janeiro a março e de abril a junho as importações da indústria subiram, respectivamente, 13,2% e 2,4%.
A evolução das importações em alguns segmentos industriais pode indicar nível maior de atividade da economia doméstica, segundo aponta o Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (IEDI). A importação de material de escritório e informática cresceu, por exemplo, 41,4% de julho a setembro, após altas de 18,1% e de 24,3% nos dois primeiros trimestres, sempre na comparação interanual. Importações de equipamentos de rádio, TV e comunicação subiram 3,3% no terceiro trimestre. Nos dois trimestres anteriores avançaram 17,1% e 7,3%, respectivamente. Os dados constam de levantamento do Iedi da balança da indústria de transformação, segundo setores classificados por intensidade tecnológica.
Esses segmentos, explica Rafael Cagnin, economista do Iedi, possuem maior aderência ao ritmo de atividade da economia como um todo. São bens duráveis, diz ele, que seguem um ciclo tecnológico e são elásticos ao dinamismo econômico, respondendo rapidamente à melhora de condições, como liberação de recursos de FGTS e maior disponibilidade de renda por conta da queda da inflação. São ramos da indústria de alta tecnologia nos quais a importação sobe, diz ele, por conta dos insumos para a produção nacional ou pela importação direta de bens finais.
Na indústria de média-alta tecnologia, a importação de veículos automotores é outro indicador que pode refletir a reação do mercado doméstico, em consonância com os dados do comércio varejista. Os desembarques de veículos cresceram 11,5% de julho a setembro, após altas de 12,2% e de 7,6% nos dois primeiros trimestres do ano, respectivamente.
Outro setor importante que pode indicar recuperação, destaca Cagnin, é o de produtos químicos, exceto farmacêuticos, também na indústria de média-alta tecnologia. Essas importações apresentam desempenho muito vinculado ao do PIB, por tratar-se de um ramo destacado da indústria de bens intermediários. Ele ressalva que o setor contempla também insumos agrícolas, como adubos e fertilizantes, mas as taxas expressivas de crescimento de importação sugerem também maior demanda por intermediários da indústria de transformação.
As compras externas desses produtos cresceram 13,2% no terceiro trimestre. De janeiro a março e de abril a junho avançaram 13,4% e 7,2%, respectivamente. As indústrias de alta e média-alta tecnologia responderam por US$ 25,18 bilhões em importações no terceiro trimestre, o que corresponde a praticamente 70% do total dos desembarques da indústria de transformação no período.
Entre os segmentos de baixa intensidade tecnológica Cagnin destaca o ramo de têxteis, couros e calçados, cujas importações também reagiram fortemente em 2017. No terceiro trimestre, as compras externas do setor avançaram 17,7%, depois de crescer 25,3% de abril a junho. São segmentos produtores de bens semiduráveis, diz o economista, que reagem rapidamente à retomada da economia, mas que são vulneráveis à concorrência. Por isso parte do dinamismo da atividade pode escapar para produtos importados. "É um setor importante para se acompanhar porque é altamente empregador e disseminado pelo país."
Do lado das exportações o Iedi destaca o crescimento total, inclusive na indústria de transformação, com alta de 9,4% no terceiro trimestre, mantendo a comparação interanual. De julho a setembro as exportações do setor somaram US$ 35,47 bilhões e as importações, US$ 36,29 bilhões, com déficit de US$ 818 milhões.