IEDI na Imprensa - Setor de bens de capital reage e dá sinal melhor para o investimento
Valor Econômico
Thais Carrança e Marta Watanabe
Com cinco meses consecutivos em alta, o desempenho da produção física de bens de capital é visto por alguns economistas como um sinal do início de uma recuperação dos investimentos. Diante dos dados mais recentes, há quem já vislumbre a possibilidade de uma contribuição positiva da formação bruta de capital fixo (FBCF) - medida do que se investe em construção, máquinas, equipamentos e inovação - para o PIB do terceiro trimestre, tanto na comparação trimestral, como anual.
No comércio exterior, os dados também apontam para um início de reação. Em setembro, as importações de bens de capital subiram pelo segundo mês consecutivo. Depois de aumento de 6,6% em agosto, o avanço foi de 34,5% no mês passado, na comparação com setembro de 2016. No ano ainda há queda de 18,6%.
"Está havendo uma melhora importante no balanço das empresas, os juros estão num patamar estimulativo e houve uma alta no consumo já no segundo trimestre", afirma Artur Manoel Passos, economista do Itaú Unibanco. "Para frente, nós trabalhamos com uma retomada do investimento, ganhando força e consistência em 2018, puxada por esses três fundamentos."
Segundo Passos, a elevada ociosidade da economia não necessariamente afeta a perspectiva de retomada do investimento, segundo modelos econométricos que analisam a experiência passada. "Uma hipótese que poderia justificar isso é que, quando se deixa de utilizar capacidade, para voltar a usá-la é preciso investir também", afirma.
O Itaú Unibanco espera que a formação bruta de capital fixo tenha resultado positivo já no terceiro trimestre, em relação aos três meses anteriores. A previsão se baseia no crescimento da produção de bens de capital, de 0,5% em agosto e 1,5% em julho, na base mensal ajustada. A construção civil, com alta de 0,5% em agosto, deve manter a tendência de avanço em setembro.
"Quando saiu o resultado do PIB do segundo trimestre, houve uma preocupação, porque a formação bruta de capital fixo seguiu negativa [em -0,7% em relação ao segundo trimestre]. No terceiro trimestre, podemos ter uma reversão, dando sinais de que a retomada está ficando mais disseminada", diz Passos.
Ainda mais otimista, o Banco Pine já acredita na possibilidade de resultado positivo para o investimento no PIB também na comparação anual - o que reverteria queda de 6,5% no segundo trimestre em relação a igual período de 2016. "Antes achávamos que o investimento voltaria para o campo positivo na comparação anual mais para o quarto trimestre, mas considerando os números de bens de capital e duráveis em agosto, mais o desempenho da construção, vejo um ano contra ano próximo de zero no terceiro trimestre", diz Marco Caruso, economista do Pine. "Não descartaria um terceiro trimestre já com número positivo, antes do que o mercado tinha na conta", completa.
Embora reconheça que os dados de produção e importação de bens de capital indiquem reação dos investimentos, Rafael Cagnin, economista do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (IEDI), pondera que os aportes predominantes ainda são aqueles destinados à manutenção da competitividade e da posição de mercado. Investimentos em capacidade de produção, que levariam a uma necessária mudança de padrão tecnológico, demandam recuperação mais vigorosa da economia e melhores condições de crédito, diz Cagnin "As empresas passaram por um período longo de engavetamento de projetos de investimento e muitas ainda tentam gerenciar um alto nível de endividamento", afirma.
Cagnin também destaca que, apesar da produção de bens de capital ter se mantido no azul em agosto, na comparação mensal, há uma desaceleração em relação aos meses anteriores. Em maio, por exemplo, a produção desse tipo de bem cresceu 4,1% na margem, ainda sob influência do safra agrícola recorde.
O economista defende ainda que o avanço de 34,5% no valor importado de bens de capital em setembro não deve se sustentar. "Provavelmente fatores pontuais influenciaram essa alta. A despeito disso, uma possível reversão de quadro será favorável, se essa importação não vier a substituir a produção doméstica", diz.
Segundo dados do Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços (Mdic), em setembro, os bens de capital cujas importações mais cresceram foram veículos de carga, laminadores, motores elétricos, aparelhos mecânicos, guindastes, máquinas para elevação de carga e itens como caldeiras aquatubulares e máquinas para fabricação de papel.
Desmembrando os bens de capital, são os equipamentos de transporte industrial que puxam o crescimento da importação, com avanço de 67% em setembro. Esse item específico chegou a ficar com crescimento de 11,1% no ano. Os bens de capital, exceto os equipamentos de transporte, subiram 28,8% em setembro, mas ainda acumulam recuo de 22,5% no ano.
José Augusto de Castro, presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil, pondera que a baixa base de comparação contribui para magnitude da alta na importação em setembro. Ele destaca que, dentre os bens intermediários, a importação de bens e acessórios para bens de capital, que já reagia nos meses anteriores, cresceu 23,8% em setembro. "A primeira reação para quem começa a elevar produção vem com as peças. E a alta que agora chega às máquinas, mesmo que apenas em dois meses, é uma boa notícia", afirma.
Carlos Antonio Rocca, diretor do Centro de Estudos do Mercado de Capitais (Cemec) do Instituto Ibmec, acredita que várias tendências sinalizam para uma retomada do investimento, mas que ela virá só mais adiante, em meados de 2018. Entre as variáveis favoráveis Rocca cita o custo de capital em queda, alguma recuperação na taxa de retorno dos investimentos e a expectativa de melhora da demanda. Por outro lado, as eleições de 2018 e a questão fiscal não resolvida são fatores de incerteza para a reação.
Dados compilados pelo Cemec, a partir dos resultados das companhias de capital aberto no segundo trimestre, apontam para uma melhora de conjuntura. A alavancagem dessas companhias (excluídas Petrobras, Eletrobras e Vale da amostra), que chegou a um pico de 1,11 em 2016, caiu a 1,09 no segundo trimestre. Já o investimento dessas empresas, que chegou a 0,2% do PIB no ano passado, subiu a 1,7% de março a junho. São melhoras modestas, ainda longe dos tempos áureos, mas que tendem a ganhar força nos próximos meses, acredita Rocca.
Para o economista Nelson Rocha Augusto, presidente do Banco Ribeirão Preto (BRP), de fato há sinais positivos no segmento de bens de capital, mas o setor de construção ainda deve segurar a formação bruta de capital fixo no campo negativo até o fim deste ano. "O investimento está contratado para o primeiro trimestre do ano que vem, neste ano ainda não por causa da construção civil, que ainda sofre muito, principalmente no segmento residencial", afirma o executivo do BRP.
No setor de bens de capital, os sinais são melhores para o investimento. "Ainda são projetos menores, a empresa ainda não está construindo uma fábrica nova, mas está comprando máquina para repor. Houve um adiamento enorme disso desde 2014, então agora pode ter um catch-up importante", conclui Augusto. (Colaborou Catherine Vieira, de São Paulo)