IEDI na Imprensa - Recuo da indústria não freia retomada, afirmam analistas
O Estado de São Paulo
Dados do IBGE mostram queda de 0,8% na produção industrial em agosto, mas consultorias apontam para queda apenas pontual
Daniela Amorim
A produção industrial brasileira recuou 0,8% na passagem de julho para agosto, após quatro meses consecutivos de avanços, segundo os dados da Pesquisa Industrial Mensal divulgados ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Em meio ao cenário de retomada do setor, o resultado decepcionou até as expectativas mais pessimistas de analistas do mercado financeiro ouvidos pelo Projeções Broadcast, que esperavam, na média, uma estabilidade. A avaliação de especialistas, porém, é de que não houve interrupção na trajetória de recuperação da indústria.
“Houve uma pausa. Uma vez dada essa pausa depois de uma expansão robusta, acreditamos que há condições de voltar a crescer. Continuamos avaliando que o ambiente é propício para a retomada da indústria”, afirmou o economista Rodrigo Soares de Abreu, da Caixa Asset Management.
A Tendências Consultoria Integrada também espera que a produção volte a apresentar resultados positivos nas próximas leituras. Apenas a perda de 5,5% da indústria alimentícia teve uma influência negativa de 0,08 ponto porcentual no resultado do mês, calculou o economista Thiago Xavier, analista da Tendências. “Se retirada a parte de alimentos, a indústria ficaria estável”, afirmou Xavier.
Entre as 24 atividades pesquisadas, 16 mostraram crescimento na passagem de julho para agosto. As quedas ficaram res- tritas a algumas atividades, ressaltou André Macedo, gerente na Coordenação de Indústria do IBGE. “É fato que tem algum ritmo de melhora da produção mesmo com essa queda em relação a julho”, disse Macedo.
Equilíbrio. A produção de açúcar encolheu em agosto, derrubando o desempenho da indústria alimentícia após três meses seguidos de crescimento. Por outro lado, o avanço de 6,2% na produção de automóveis e caminhões ajudou a amenizar o resultado negativo na média geral da indústria. “O mercado externo está de alguma forma influenciando esse comportamento positivo de veículos automotores como um todo. Os estoques estão próximos da normalidade. É nítida a melhora do ritmo de produção dessa atividade, especialmente quando a gente compara com anos anteriores”, disse Macedo.
Nas demais comparações, a pesquisa do IBGE trouxe boas notícias, como o avanço disseminado na produção ante agosto do ano passado, que resultou num crescimento de 4% da indústria no período. O índice de difusão, que mostra o porcentual de produtos com aumento na produção, cresceu para 55,7%. No ano, a indústria acumula um ganho de 1,5%.
De acordo com Xavier, da Tendências, há um quadro prospectivo mais favorável que pode fazer a produção industrial terminar 2017 com crescimento de 2,4%, contribuindo para um avanço de 0,7% do Produto Interno Bruto (PIB). “Outros indicadores industriais, como Otimismo “Houve uma pausa. Uma vez dada essa pausa depois de uma expansão robusta, acreditamos que há condições de voltar a crescer. Continuamos avaliando que o ambiente é propício para a retomada.” Rodrigo Soares do mercado de trabalho e nível de estoques, estão com tendência de melhora. Até mesmo a confiança industrial já está se recuperando”, lembrou o analista da Tendências.
Cautela. O Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi) confirma que a pesquisa de agosto não reverte o quadro mais favorável para a indústria em 2017 do que nos dois anos anteriores, mas alerta para a ausência de sinais de aceleração no ritmo de produção. “Vejo com preocupação que se aceite tranquilamente que a recuperação será lenta, gradual, com alguns percalços, porque o resto do mundo não está de braços cruzados. Essa demora na recuperação da indústria pode prejudicar mais a nossa competitividade. Não devemos olhar com passividade essa ausência de aceleração, porque pode ter um custo estrutural grande lá na frente”, avaliou Rafael Cagnin, economista-chefe do Iedi.