IEDI na Imprensa - Setor industrial ainda sofre com retração
O Globo
Enquanto a média da economia brasileira apresentou tendência ascendente no resultado do Produto Interno Bruto (PIB), o setor industrial sofreu mais uma retração, completando 13 trimestres consecutivos de números negativos. Frente ao primeiro trimestre, a taxa recuou 0,5%. Na comparação com o mesmo período de 2016, a queda foi de 2,1%, puxada, principalmente, pela indústria de construção civil. Apesar dos números, especialistas avaliam que o cenário industrial ainda tem muitos desafios pela frente, mas já apresenta sinais de estabilização.
A indústria cai sistematicamente desde o segundo trimestre de 2014, com uma pequena alta no último trimestre daquele ano e outra no primeiro trimestre deste. Essa queda não é algo que anime, mas caracteriza quase uma estabilização, o que é alguma coisa - diz Rafael Cagnin, economista-chefe do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), ressaltando ver no recuo de 1,6% da indústria no primeiro semestre algo favorável, dada a retração dos últimos dois anos: - Este ano, esperamos um crescimento próximo de zero para o setor. O que não dá para chamar de recuperação.
Essa estabilização já é percebida pelo empresário André Telles, presidente da Ecosan, que produz equipamentos para saneamento público e industrial. A exemplo do que ocorreu em toda a indústria, o primeiro semestre foi muito ruim para os seus negócios, que sofrem desde 2014 com a retração da economia. Mas ele se declara otimista.
O ano passado ainda foi muito complicado, tivemos 25% do faturamento normal. No primeiro semestre foi ainda pior, com 15% - diz, contando que já há uma reação na área industrial.
Telles conta, ainda, que há uma demanda reprimida quase incalculável e, por isso, espera manter o ritmo atual até o fim do ano. Ele aposta em um incremento de investimentos em concessões ou parcerias público-privadas:
O ano de 2018 vai ser melhor, não pode ser pior.
CONSTRUÇÃO PUXA RECUO
Apesar da estabilização, o setor ainda sofreu fortes quedas, principalmente na construção civil, cujo desempenho foi o pior. A retração frente ao trimestre imediatamente anterior foi de 2%; e em relação ao mesmo período de 2016, de 7%. Para Eduardo Zaidan, vice-presidente de Economia do Sindicato da Indústria da Construção Civil do Estado de São Paulo (SindusCon-SP), esses números dão uma dimensão do quadro dramático vivido pela indústria:
Embora o país já tenha saído do ciclo recessivo, via consumo, os dois motores de crescimento, indústria de transformação e construção civil, ainda patinam - avalia.
O setor de produção e distribuição de eletricidade, gás e água teve retração de 1,3%, devido ao uso da bandeira tarifária vermelha. Já a indústria de transformação manteve-se praticamente estável, com alta de 0,1% em relação ao trimestre anterior - mas, frente ao mesmo período de 2016, apresenta queda de 1%.
A indústria está melhorando graças ao consumo, mas há ainda muita desestocagem, e o patamar do setor permanece baixo. Há muito espaço para crescer, mesmo sem uma retomada do investimento - disse Solange Srour, economista da ARX Investimentos.
O único setor que puxou a produção para cima foi o extrativo-mineral, que cresceu 0,4% frente ao trimestre anterior e 5,9% ante o mesmo período de 2016.