IEDI na Imprensa - Cenário instável ameaça sequência da indústria
Valor Econômico
Estevão Taiar e Camilla Veras Mota
O crescimento de 0,9% da indústria na comparação com o quarto trimestre de 2016 na série com ajuste sazonal do IBGE foi comemorado, mas a sustentação mais firme da recuperação do setor ainda é incerta. A equação ficou ainda mais complicada com a crise política deflagrada no mês passado - fator que deve segurar ainda mais o desempenho do setor. No acumulado de quatro trimestres, a queda foi de 2,4%.
Para analistas, a recuperação do setor está ameaçada pela falta de perspectivas de que o crescimento da indústria no primeiro trimestre se repita ao longo do ano inteiro. No trimestre inicial, fatores pontuais, como a recomposição de estoques e o "transbordamento" do boom agropecuário foram os responsáveis pelo número positivo. Dificilmente as condições serão tão favoráveis daqui para frente.
"Fica a necessidade de corroborar esse resultado positivo [do primeiro trimestre]", diz Rafael Cagnin, economista do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi). Ele calcula que este será um ano de baixo crescimento ou até estabilidade para o setor.
Nos últimos nove trimestres, o PIB industrial apresentou sete quedas e apenas duas altas - a de 0,3% no segundo trimestre de 2016 e a divulgada ontem.
Cagnin destaca a alta de 36,2% da produção de bens de capital agrícola em março na comparação com o mesmo mês do ano passado. O resultado impulsionou o crescimento de 4,5% dos bens de capital em geral no mesmo tipo de comparação. O problema é que as chances de o PIB agropecuário repetir a alta de 13,4% do primeiro trimestre são mínimas, diminuindo os impactos positivos sobre a indústria.
Com alta de 1,7% a indústria extrativa mineral foi uma das atividades que mais contribuíram para o aumento de 1% no Produto Interno Bruto (PIB) do primeiro trimestre deste ano ante o quarto trimestre de ano passado, na avaliação da coordenadora de Contas Nacionais do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) Rebeca Palis. O aumento dos preços do petróleo e do minério de ferro beneficiou o segmento.
Rafael Leão, economista-chefe da Parallaxis, também chama a atenção para o efeito da recomposição dos estoques sobre a produção industrial no primeiro trimestre. "Foram quase dois anos com a indústria recuando a sua produção, consumido seus estoques", afirma. Mas a fraca demanda doméstica e as incertezas políticas ainda impedem a expansão mais consistente da produção industrial, situação semelhante ao que acontece com os investimentos do lado da demanda.
"É preciso ver se o setor externo será capaz de puxar esse crescimento da indústria de transformação, como vestuário, calçados, ou se [a recuperação será] uma coisa mais ligada à indústria extrativa", diz Leão, que calcula alta de 0,4% do PIB industrial em 2017.
Os resultados esperados para abril também corroboram a tese de que a recuperação do setor ainda não é uma certeza. A média de 23 estimativas colhidas entre consultorias e instituições financeiras pelo Valor Data sinaliza que o indicador da Pesquisa Industrial Mensal - Produção Física (PIM-PF) ficará estável em abril, na comparação com o mês imediatamente anterior, na série com ajuste sazonal.
As projeções para o número que o IBGE divulga hoje variam de queda de 0,6% a aumento de 0,8%. No confronto com o mesmo intervalo do ano passado, a expectativa é de retração de 5,5%, após recuo de 1,1% em março.
No primeiro trimestre, a produção não registrou resultados mensais positivos - queda de 0,4% em janeiro, estabilidade em fevereiro e contração de 1,8% em março, em relação ao mês imediatamente anterior -, mas apurou alta de 0,6% em relação ao período imediatamente anterior graças à herança estatística de dezembro, quando o indicador avançou 2,4%.
O economista da Azimut Wealth Management Paulo Gomes, que espera estabilidade para o indicador em abril, pondera que a crise política que se abriu no mês passado com a delação da JBS pode afetar a produção em maio. "Só depois do TSE [do julgamento da chapa Dilma-Temer pelo Tribunal Superior Eleitoral] a indústria deve respirar melhor", avalia. (colaboraram Alessandra Saraiva e Robson Sales, do Rio)