IEDI na Imprensa - As perspectivas para o Brasil, na visão de executivos e empresários
Valor Econômico
O Valor fez a 25 empresários e executivos duas perguntas: “Como vê o Brasil pós-recessão e pós-reformas?” e “Quando irão voltar os investimentos e o que falta para isso?”.
Veja abaixo a íntegra dos depoimentos.
Ítalo Freitas, presidente da AES Tietê
“O governo tem feito reformas que já permitem visualizarmos uma melhora e retomada da confiança do consumidor e, consequentemente, da economia. Especificamente para o setor elétrico, acreditamos que este ano será da virada. O setor elétrico é um dos primeiros a sofrer quando há recessão, porque a demanda por energia cai consideravelmente. Em contrapartida, também é um dos primeiros a sentir a melhora. E estamos percebendo uma certa retomada da atividade econômica, ainda que não possamos falar em movimentos relevantes ou crescimento.
Acredito que o país está no caminho certo. Na AES Tietê, continuamos apostando em nossa estratégia de crescimento, por meio da aquisição de ativos. Recentemente, anunciamos a assinatura do contrato de compra e venda do complexo eólico Alto Sertão II, localizado na Bahia, pelo valor de R$ 600 milhões. E estamos analisando outras oportunidades.
O Brasil tem um mercado promissor para o setor elétrico, incluindo a entrada de novas tecnologias que tragam eficiência ao sistema interligado nacional, como, por exemplo, geração distribuída, na forma de plantas solares remotas, cogeração a gás natural, microgrid e resposta à demanda. Agora é a hora de ganharmos mais eficiência no setor, tornando-o mais dinâmico e preparado para o momento da retomada da economia. Até porque a energia é o que impulsiona o desenvolvimento do país. Quando a demanda por energia vier, queremos ter capacidade de resposta.”
Julian Thomas, diretor-superintendente da Aliança Navegação e Logística e Hamburg Süd
“Em quase 30 anos de Brasil, esta foi a crise mais forte e negativa que vivenciei. Apesar disso, sempre fui otimista em relação ao país e, por isso, continuamos investindo em nossas operações locais. Nos últimos dois meses, sentimos uma melhoria no desempenho do setor. O mercado de importação cresceu 14% e o de exportação, 5%. Já a cabotagem, que é transporte de cargas entre portos do país, superou nossa expectativa inicial e cresceu 7%.
Embora tenhamos que ser cautelosos com os números, afinal eles se referem apenas ao primeiro bimestre, percebemos um ânimo maior nos clientes, que estão retomando os investimentos em nossos serviços. Costumo dizer que o ânimo já é metade de uma batalha, com grandes chances de ser bem-sucedida.
Normalmente, as pessoas tendem a ver tudo azul ou negro, quando na verdade não podemos focar em uma única cor, ou avaliar uma situação apenas sob determinado ponto de vista. O equilíbrio continua sendo o melhor caminho.
Por acreditar nessa premissa, compartilho também da opinião de que o Brasil está no bonde certo ao propor uma série de reformas. Não há mais como adiá-las; elas são fundamentais para os ajustes fiscais e para o crescimento econômico. Costumo dizer que sou ‘determinista’ nesta questão: não há nenhuma outra opção senão reformas estruturais, como a política, previdenciária e de infraestrutura.
Com a retomada do crescimento econômico, certamente novas oportunidades irão surgir, não só em nosso setor, mas na indústria em geral. Com o aquecimento da economia, esbarramos em outra questão recorrente e que também precisa ser avaliada com urgência: os gargalos de infraestrutura. Embora muitos terminais portuários tenham se desenvolvido, os acessos a muitos deles continuam praticamente os mesmos nos últimos dez anos.
Há uma trilha a ser percorrida para elucidar essas questões, mas de forma geral vejo uma boa movimentação para que a confiança no Brasil seja retomada.”
Fabio Coelho, presidente do Google Brasil e VP de Google Inc.
“O Brasil é uma potência digital. Já estamos em quinto lugar no mundo em número de usuários conectados, graças à popularização dos smartphones e ao entusiasmo dos brasileiros por novas tecnologias. Essa digitalização crescente traz eficiência e oportunidades que ficam ainda mais evidentes num cenário pós-recessão.
Estou falando de novos produtos, novos negócios e novos consumidores que estão on-line. O digital também oferece uma maneira eficiente e dinâmica de fazer negócios, com métricas claras para medir resultados e corrigir caminhos em tempo real. Isso representa um estímulo extra para continuar crescendo, mesmo em momentos de crise, como comprovam os milhões de empreendedores brasileiros que estão usando a internet para prosperar, da loja de bairro que conseguiu aumentar a clientela ao estilista local, que se tornou um exportador global.
Aliás, quanto mais pudermos fazer para modernizar o país, melhores serão as perspectivas para todas as empresas. A desburocratização também facilitará o empreendedorismo, o surgimento de novos negócios e de produtos inovadores que ajudarão a trazer novos investimentos. Do lado do Google, posso dizer, com orgulho, que nosso compromisso com o país continua e continuará muito forte. Somente nos últimos três anos, investimos mais de meio bilhão de reais aqui e inauguramos diversas operações, como a nova sede do nosso centro de engenharia de Belo Horizonte e o Campus São Paulo, que ajudam na construção de um ecossistema digital pujante e cada vez mais capaz de contribuir com o desenvolvimento do Brasil.”
Ernesto Zarzur, fundador e presidente do conselho de administração da EZTec
O Brasil deve retomar o crescimento no momento em que atravessar as reformas que estão sendo discutidas no governo, encerrando, assim, a recessão econômica. Somos um país rico, de povo trabalhador, mas que tem muitas necessidades. Os investimentos vão ocorrer, pois o empresário que se dedica sempre tem seu esforço recompensado. As reformas não são poucas. Precisamos de reforma da Previdência, mas também de reformas trabalhista e tributária. Precisamos reformar o Brasil para torná-lo um país de braços abertos ao empreendedorismo, aos investimentos. Hoje, as amarras não são somente burocráticas, há insegurança jurídica em todos os negócios, é um desincentivo ao capital. Um contrato assinado precisa ter valor.
No setor da construção civil, especificamente, há carências de ofertas. O povo brasileiro continua sonhando com a casa própria. O sistema financeiro já está adaptado a um modelo de financiamento que é muito semelhante aos padrões internacionais. No entanto, o poder Judiciário não tem dimensão de como criou um problema sem precedentes referente aos distratos para os incorporadores imobiliários. Enquanto o contrato de compra e venda assinado pelo cliente não voltar a se tornar um instrumento seguro juridicamente, as incorporadoras não voltarão a lançar, a gerar empregos e a movimentar a economia.
A EZTec é uma empresa forte e que tem segurança financeira para suportar toda a crise que o Brasil vem passando. Para retomar os níveis históricos de investimentos precisamos, primeiramente, resolver os desafios que estamos debatendo. Só assim a confiança do povo brasileiro voltará e a economia passará a crescer. Acredito que 2017 pode ser um ano no qual ocorra crescimento de lançamentos em relação a 2016. Mas, retomar níveis históricos, talvez só dentro de dez anos.
Em resumo, a sensação que tenho é que o governo está tão envolvido com os desafios das reformas que não tem tempo para olhar com cuidado o setor da construção civil. O governo esqueceu os incorporadores, o potencial de geração de emprego, renda, tributos que este setor proporciona. Isto nos leva à paralisia. Hoje, estamos lidando com um problema que o próprio governo criou. Venderam a ilusão para o povo de que se podia comprar tudo e pagar ao longo de muitos anos. Hoje, nós, incorporadores, é que temos de resolver o problema, recebendo unidades de volta, sendo obrigados a devolver dinheiro, para especuladores que sempre tiveram a exata noção do que estavam fazendo.
Li Yinsheng, presidente da CTG Brasil
“O ambiente de negócios no Brasil pode ser desafiador no momento, mas nossa decisão de investir no país foi baseada em uma visão positiva de longo prazo. Temos muita confiança no potencial do Brasil e acreditamos que o país tem todos os recursos necessários para, passada a recessão e aprovadas as reformas, se tornar ainda mais relevante na discussão mundial sobre o futuro da energia.
Energia é essencial para o crescimento de qualquer país. Por se tratar de uma atividade regulada, a qualidade e a solidez do marco regulatório são essenciais para o sucesso deste setor. Por isso, é muito importante que os agentes do setor e o governo se unam e criem soluções para uma estabilidade regulatória, como, por exemplo, para o risco hidrológico medido pelo GSF. Isso aumentaria não apenas a nossa confiança, mas a de outros investidores.
Sabemos que o Brasil está passando por um período difícil em termos de investimentos em infraestrutura, mas estamos certos de que o mercado de energia sairá mais forte desta crise e retomará sua trajetória de crescimento. Prova disso é que continuamos investindo no Brasil, na modernização de nossos ativos adquiridos, e continuamos atentos a oportunidades em energia limpa”.
Renato Vale, presidente da CCR
“Noto que a confiança no Brasil já está voltando a crescer. A CCR, que está sempre atenta a novas oportunidades de investimento na prestação de serviços em infraestrutura, acredita que estamos em um ótimo momento para ampliar nosso portfólio de projetos nos setores em que atuamos: rodovias, aeroportos e mobilidade urbana.
Concluímos em fevereiro uma bem-sucedida oferta de ações e, com isso, ampliamos o capital social da companhia em mais de R$ 4 bilhões. Ou seja, estamos muito bem preparados para a retomada de um ciclo positivo da economia brasileira. O investimento em infraestrutura, aliás, é dos principais indutores do crescimento econômico. E a forma mais eficiente de promover esse investimento é realizando parcerias com o setor privado, por meio de concessões e PPPs, para não onerar ainda mais os cofres públicos.
Um dos motivos para meu otimismo é que percebo esse mesmo entendimento nas ideias das principais lideranças do país, independentemente de partido ou tendência ideológica, e em toda a sociedade. Graças aos bons resultados obtidos pelas concessões em funcionamento no Brasil, há uma compreensão já amadurecida de que a promoção de uma nova agenda de leilões de infraestrutura, com regras claras e perenes para atrair o interesse do setor privado, irá favorecer a retomada dos investimentos e o crescimento da economia.
O primeiro passo foi dado, que é a retomada da confiança. Para que os investimentos em infraestrutura voltem com mais força, é preciso garantir um bom ambiente regulatório para o investidor. Os contratos vigentes têm de ser cumpridos integralmente. Caso o poder concedente não cumpra o combinado em relação a financiamento ou obtenção de licenças ambientais, por exemplo, deve estar disposto a preservar os termos dos contratos, mantendo o equilíbrio econômico-financeiro acordado. Em resumo, o que precisamos é de um cenário de previsibilidade, com a manutenção e o aperfeiçoamento do marco regulatório das concessões.”
Abilio Diniz, presidente do conselho de administração da BRF
“Eu acredito que voltaremos a crescer. Já vemos sinais de retomada. O Brasil tem enorme potencial e planos muito bons que precisam sair do papel. Neste momento sensível, é imprescindível acelerar os bons projetos. Sempre que há reformas que atingem diretamente a vida das pessoas, é natural certo receio e resistência. Todos devem ser ouvidos, faz parte da democracia. Mas precisamos avançar, pensando sempre na retomada do crescimento brasileiro e na melhora da qualidade de vida da população, principalmente a mais carente.
Tenho contato com investidores do mundo inteiro e sei que há grande interesse em relação ao Brasil. O país está destravando projetos de infraestrutura, o que vai contribuir muito para que tenhamos mais investidores e possamos realmente deslanchar. O capital externo quer vir para o Brasil, e é nossa obrigação deixar a casa em ordem para atrair a atenção dos investidores estrangeiros. Com grandes projetos de infraestrutura em curso, os investimentos internos voltarão a crescer no Brasil.”
Luiz Carlos Trabuco, presidente do Bradesco
“Um Brasil com expectativas renovadas, vivenciando um ciclo de crescimento e de emprego, inflação controlada. É um Brasil de sonho, que nossa geração de empresários, executivos, trabalhadores e políticos não conheceu. Temos potencial de atingir este estado de plenitude.
A crise multidisciplinar pela qual estamos passando, e superando, é prova da capacidade de resiliência da economia e da solidez das instituições. Em meio às dificuldades e mazelas de toda ordem, estamos vendo propostas de reformas que, se aprovadas, serão vitais para mudar o jeito de fazer negócio no Brasil.
As questões previdenciária, trabalhista, tributária e política estão, há décadas, esperando sua vez na agenda do país. Nunca passaram de possibilidades utópicas.
Governo e Congresso, desta vez, estão trabalhando para construir algo novo, que nos traga esperanças de modernizar o Brasil, tornar a economia mais flexível, aberta, ágil e desburocratizada.
Vivemos um tempo de esperança, em meio à perplexidade.
Conquistada a estabilidade econômica, seria natural e desejável o aumento da renda e do consumo. Esse cenário, associado à uma maior integração do Brasil ao comércio internacional e um programa robusto de privatizações e concessões, com respeito às regras de mercado, podem atrair de volta o interesse dos investidores, principalmente externos. Há muita liquidez financeira no mundo.
Mas, sem o avanço das reformas, os caminhos voltarão a ser tortuosos, difíceis. Podemos trancar o processo de retomada do crescimento. A frustração será perdermos o rumo, de novo.
Já conquistamos a inflação na meta, o câmbio flutuante e o setor externo se recuperou de forma extraordinária.
Assim estamos. Vivemos um momento de decisões definitivas sobre o que queremos para o Brasil. Não podemos ceder a tentações populistas. Ou saímos, ou continuamos no jogo.
Roberto Setubal, copresidente do conselho de administração do Itaú Unibanco
As reformas vão na direção de modernizar a nossa economia, criando condições de aumentar os ganhos de produtividade e, com isso, a médio prazo, teremos aumento do nosso PIB potencial. Por outro lado, a frustração pela sua não aprovação pode afetar negativamente o crescimento deste e do próximo ano, pela perspectiva ruim e incertezas que cria para nossa economia.
Quanto ao retorno dos investimentos, noto que os investimentos estrangeiros, a rigor, nunca cessaram, como comprova o forte comportamento do IED nos últimos anos, a despeito da recessão. Os investimentos em ampliação da capacidade se beneficiam de preços de exportações estáveis, mas só vão deslanchar quando ficar claro que a dinâmica da dívida pública foi controlada, o que, de novo, requer a aprovação da Reforma da Previdência e a efetiva implementação da PEC do teto dos gastos públicos.
Pedro Passos, empresário e conselheiro da Natura
“Caso não tenhamos percalços no andamento das reformas, penso que o Brasil construirá um horizonte para a economia capaz de afiançar a volta do crescimento e resgatar os retrocessos que foram se acumulando nos três últimos anos de recessão, especialmente no que diz respeito ao desemprego e ao desajuste fiscal. Cabe enfatizar que assegurar a saúde das contas públicas constitui condição fundamental para esse processo. Minha preocupação com relação a esse quadro é que as reformas, especialmente a previdenciária, fiquem desfiguradas após a negociação no Congresso, não gerando os efeitos planejados sobre as contas públicas e sobre o ambiente de negócios privados. Neste caso, o risco que se corre é de uma estagnação econômica que poderá se estender até as próximas eleições presidenciais. Aprovar as reformas é decisivo para o país também no que diz respeito à volta do investimento, já que investir é consequência de uma boa e segura perspectiva da economia ao longo do tempo.
Tenho, na minha atividade empresarial, constatado que desde os meses finais do ano passado o interesse de investidores estrangeiros no Brasil tem sido crescente. Também a nível doméstico, nossos empresários já estão agindo para retomar iniciativas até então paralisadas e para prospectar novas possibilidades. A impressão que se tem é de um ensaio da volta dos investimentos. Contudo, me parece que é necessário mais para que o investimento retorne em toda a sua plenitude.
Citaria três itens que poderiam acelerar as inversões. Primeiro, tão logo aprovarmos as reformas previdenciária e trabalhista, devemos nos debruçar sobre a reforma tributária e outras reformas microeconômicas. Segundo, esforços ainda maiores seriam benvindos para deslanchar os investimentos privados em infraestrutura no âmbito do programa de concessões do governo. Terceiro, incentivos adicionais ao investimento também viriam de uma maior abertura da economia e aproximação com os fluxos de comércio e de investimentos externos”.
Pedro Wongtschowski, presidente do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi)
“A grave recessão que vivemos em 2015/2016 ainda nos acompanha neste início de 2017, mas já há sinais de que os índices de queda da produção industrial e do PIB estão cada vez menos adversos. Desta forma, é possível que dentro em breve voltemos a ter crescimento na indústria, no comércio e nos serviços, acompanhando a evolução que já acontece na agropecuária. Por enquanto, a recuperação parece ser lenta, de modo que levará um certo tempo para reavermos no todo ou pelo menos em parte expressiva o que se perdeu no emprego e na produção durante a crise.
Fator importante, para acelerar a recuperação, será o desenvolvimento das reformas que o governo está promovendo. As reformas são necessárias para reequilibrar as contas públicas, afiançar a estabilidade inflacionária e pavimentar a confiança com que consumidores e empresários internos e externos veem a economia a médio e longo prazo. A queda dos investimentos não é mais tão intensa como foi no passado recente, mas a desejada retomada vigorosa das inversões ainda está por vir. Alguns fatores concorrem para isso. Primeiro, a reconstituição da confiança empresarial no crescimento de longo prazo da economia está apenas no início. Segundo, há ainda grande capacidade ociosa na economia, o que limita a necessidade de novos investimentos. Um terceiro motivo é que embora em queda, as taxas de juros ainda se situam em níveis elevados devido à rápida desaceleração da inflação. Penso que se a economia não for afetada por nova crise política e se as reformas não forem paralisadas, os investimentos entrarão em terreno positivo no decorrer deste ano e poderão voltar a crescer de forma expressiva no ano que vem.”
Ronaldo Iabrudi, CEO do Grupo Pão de Açúcar GPA
“Em situações de instabilidade econômica e incertezas, é natural que todos aproveitem para fazer coisas que, em outros momentos menos turbulentos, não seriam realizadas. Neste cenário é esperado que as empresas se voltem aos fundamentos básicos de suas atividades e promovam ajustes internos para melhorar seu desempenho. A situação pede que se repensem processos e que se busque ainda mais eficiência com o mesmo recurso de antes, ou até menos. O mesmo acontece com o país. Essa mesma lógica pode ser aplicada na esfera macroeconômica. Decisões difíceis têm sido tomadas, mas tenho certeza que, com as reformas propostas e a retomada nos níveis de emprego e da economia, o país ficará melhor.
Em linhas gerais, não acho que os investimentos cessaram, eles só foram adaptados ao atual cenário, como um reflexo natural do ambiente político e macroeconômico que vivemos nos últimos três anos, em setores como a indústria ou varejo, por exemplo. O agribusiness, pelo contrário, tem seus investimentos crescendo gradativamente. Este ano, por exemplo, teremos uma safra recorde de grãos. Mas é fato que, via de regra, todos estão mais criteriosos com seus gastos. O GPA é exemplo disso: adequamos nossos investimentos ao tamanho do mercado, focando nos formatos mais adequados às demandas dos clientes, como o atacarejo com o Assaí. Hoje, a base está comprimida, mas percebo que a volta mais vigorosa dos investimentos esteja cada vez mais próxima.”
Rubens Menin, fundador da MRV Engenharia e presidente do conselho de administração
“Estamos tentando escapar de uma paralisia econômica sem precedentes, causada por um ambiente muito desfavorável aos negócios e pelo consequente desarranjo das atividades produtivas. Caímos nessa arapuca pela adoção de um modelo populista e pela sucessão de más escolhas políticas e doutrinárias. Aliás, armadilha que tragou ou ainda vem tragando todos os demais países que fizeram a mesma opção política geral, conforme demonstram as análises feitas a partir de dados reunidos em fontes globais, como o reconhecido “Doing Business – 2017”, divulgado pelo Banco Mundial. As características nefastas dessa armadilha ficam bem visíveis nesse estágio e já são amplamente reconhecidas pela sociedade e pela comunidade empreendedora: insegurança jurídica, excessiva judicialização, enorme burocracia, carga tributária exagerada, desperdício financeiro e baixa produtividade, entre outras.
Mesmo com um retardo caríssimo, parece que conseguimos enxergar essa armadilha paralisante e passamos a adotar algumas providências estratégicas e essenciais para escapar de seus efeitos perversos. E estamos ativando as reformas necessárias à reversão do quadro adverso. Pessoalmente, acredito no sucesso desse movimento, que será tão mais rápido quanto mais persistentes e objetivos formos no caminho das reformas e da reestruturação administrativa e econômica.
Arrumada a casa, poderemos voltar a usufruir das condições favoráveis apresentadas pelo Brasil, incluindo um mercado interno superior a 200 milhões de consumidores. Na minha visão, todo esse processo de recuperação pode ser favoravelmente acelerado com a redução dos juros básicos da economia, além dos patamares já alcançados nos últimos meses. Esse estímulo pode fazer toda a diferença na antecipação dos nossos horizontes de recuperação. É como eu vejo, resumidamente, as perspectivas imediatas para o ambiente nacional de negócios.
Rodrigo Galindo, CEO da Kroton
“Estamos no meio do processo. Apesar de medidas importantes terem sido implementadas, por exemplo, a PEC dos gastos públicos, há reformas estruturais que ainda não foram aprovadas, como a da Previdência e a política. Os primeiros sinais são positivos, mas ainda é cedo para falarmos de uma recuperação consistente. Os índices de confiança do consumidor e do empresariado melhoraram, mas só continuarão positivos por meio de resultados concretos, como a redução do desemprego, o aumento da renda e a retomada do crescimento.
As reformas são condição para a mudança, mas sozinhas não resolverão todos os problemas. Enquanto não tivermos educação de qualidade que permita o aumento de produtividade para o Brasil teremos sempre um gap em relação aos demais países que já enfrentaram esse problema. Creio que o ajuste fiscal responsável, uma agenda de reformas consistente e executada com transparência, estabilidade política aliada a investimentos em áreas críticas para o aumento da produtividade do país, como educação, são os elementos fundamentais para um caminho vigoroso de crescimento.
Inflação controlada e juros em patamares razoáveis são condições fundamentais para a retomada dos investimentos e esse é o cenário de 2017. Estabilidade política, previsibilidade no ambiente de negócios e expectativas futuras são essenciais na tomada de decisão. Se as perspectivas de recuperação da economia se confirmarem nos primeiros trimestres de 2017 é possível vermos uma retomada gradual de investimentos já a partir deste ano.
Benjamin Baptista, presidente da ArcelorMittal Brasil
“Estou com visão relativamente otimista em relação à recuperação da economia e, apesar das reformas e medidas fiscais do governo seguirem em ritmo bastante lento, talvez seja possível crescer mais rapidamente a partir de 2018. Em relação ao Programa de Parceria de Investimentos (PPI), sou otimista, mas é necessário discutir o marco regulatório e as fontes de financiamento. No entanto, se esses pontos ficarem claros e for criada uma base de confiança, o programa tem potencial de alavancar investimentos em infraestrutura, o que beneficiará a construção civil e a siderurgia, a começar pelo segmento de aços longos.
Para se voltar a investir, o Brasil busca recuperar sua credibilidade e fazer a lição de casa para reduzir o endividamento público e estimular a roda da economia a girar. É nítido que a instabilidade do cenário político afasta os investimentos. Existem problemas estruturais que continuam a afetar os resultados dos negócios nos mais diversos setores. Há anos a produção está sendo onerada pelo chamado Custo Brasil e, até hoje, seus principais componentes, como a elevada carga tributária, o custo de energia elétrica, questões trabalhistas, de logística e de infraestrutura, ainda não foram equacionados. Portanto, é um longo caminho a ser percorrido neste sentido.”
Sérgio Rial, presidente do Santander Brasil
“A recessão já ficou para trás. Mas o que está em jogo para o Brasil não é só promover um novo ciclo de crescimento, é construir as bases de uma nova economia, mais competitiva e aberta ao mercado internacional. Com a aprovação das reformas e o amadurecimento da política econômica que vem sendo implementada, estamos justamente nesse caminho, de estabelecer uma economia mais previsível, estável, com maior segurança jurídica e geradora de empregos, que é o grande desafio do Brasil.
A formação bruta de capital fixo, que é um importante indicador do nível de investimento, deve crescer 3,5% neste ano e acelerar para 6% em 2018, sendo um dos principais motores da retomada da atividade econômica. Depois de alguns anos de desequilíbrio, a economia volta a mostrar indicadores saudáveis, que permitem uma retomada sustentável da atividade.
A inflação está dentro da meta, os juros seguem em trajetória de baixa, o mercado de capitais voltou a ser uma opção e a confiança dos investidores e empresários aumenta gradativamente. Essa combinação aponta para um caminho muito claro, que é o retorno do capital produtivo ao país.
O Estado tem um papel fundamental, pois não só deve ser capaz de aumentar seus investimentos, mas, principalmente, ser um indutor para que a iniciativa privada assuma o protagonismo que deveria ter.”
Marco Stefanini, CEO global e fundador da Stefanini
“Após o pico da crise, talvez uma das mais intensas dos últimos anos, percebemos que há uma movimentação do mercado no sentido de reagir ao pessimismo e construir um Brasil pós-reformas, que verse sobre a retomada da confiança na capacidade produtiva do país.
A maioria das reformas apresentadas pelo governo faz parte de uma agenda positiva que trará o Brasil para um patamar melhor de investimento e, consequentemente, de crescimento. A Lei da Terceirização, por exemplo, regulamenta a relação do prestador de serviço com seu cliente, retirando incertezas jurídicas que pairam sobre esta relação. Ao desburocratizar, eliminando algumas amarras das empresas, a economia começa a fluir melhor.
Se de um lado existem perspectivas positivas, de outro é preciso que o governo avalie com mais cautela algumas decisões que poderão comprometer a geração de empregos no país. Publicada no dia 30 de março, a Medida Provisória que exclui as empresas de TI da chamada desoneração da folha de pagamento pode representar um duro golpe para o setor.
Ao substituir a alíquota de 4,5% sobre a receita patronal bruta pela tributação de 20% sobre a folha de pagamento, a medida provocará uma onda de desemprego — a estimativa é de que mais de 100 mil postos de trabalho de alto nível sejam eliminados nos próximos três anos, o que representa quase 15% do total de trabalhadores na área, segundo a Associação Brasileira das Empresas de Tecnologia da Informação e Comunicação (Brasscom).
Se a intenção original das reformas é trazer mais eficiência e gerar desenvolvimento econômico — e eu acredito que este seja o caminho certo — é preciso que as autoridades repensem a decisão para não colocar em risco um dos segmentos de maior valor agregado da cadeia produtiva. Se a meta é trazer mais investimentos para o Brasil, o momento é de impulsionar a produtividade e não de colocar um dos diferenciais competitivos do país em risco. ”
João Miranda, presidente da Votorantim S.A.
“Temos vários indícios de que estamos próximos a um ponto de inflexão, do início da recuperação da economia.
A aprovação da PEC que limitou os gastos públicos foi uma boa sinalização inicial do novo governo para o mercado. Mas ainda são necessárias outras reformas estruturais, como a da Previdência, para que se solidifique a crença na tendência de sustentabilidade fiscal do país, e a trabalhista, que pode contribuir significativamente para a melhoria nas relações de trabalho.
Os índices de confiança vêm se elevando, tanto do consumidor como dos empresários, mas ainda não observamos uma retomada dos investimentos, e com isso o crescimento em 2017 deve ser modesto. Com a confirmação das reformas, poderemos dar mais crédito à retomada econômica com volta de crescimento mais significativo a partir de 2018.
O Brasil segue sendo um país de enormes oportunidades para o desenvolvimento de negócios. O caminho da austeridade fiscal criará expectativa positiva pelos agentes econômicos. Além disso, será necessário perseverar na construção de um melhor ambiente de negócios, combatendo a corrupção, reduzindo drasticamente a complexidade tributária, fomentando a inovação e competitividade de nossas empresas. Uma economia real fortalecida e em crescimento, com líderes responsáveis, poderá também alavancar os legítimos e tão necessários avanços sociais nas áreas de saúde, saneamento básico, segurança e educação. Temos mais uma oportunidade histórica para reiniciar um ciclo virtuoso de prosperidade.
Considerando que enfrentamos a maior recessão da história do Brasil, o desempenho das empresas nos últimos dois anos foi fortemente afetado, com elevação da capacidade ociosa e redução dos investimentos. Na Votorantim, a despeito da crise, mantivemos o mesmo volume de investimentos dos últimos três anos, cerca de R$ 3 bilhões por ano, mas com muito foco na disciplina financeira, assim mantendo nosso endividamento em patamar saudável.
Quando as reformas propostas pelo governo se efetivarem, a economia deve retomar seu curso e os investimentos retornarão. No nosso caso, uma parte significativa dos investimentos previstos para 2017 serão voltados para a modernização e inovação, visando tornar nossas empresas mais eficientes e competitivas. Quando a economia reagir, estaremos preparados para responder a esse novo ciclo.
A retomada dos investimentos deve se dar pelos setores de infraestrutura, apoiando a criação de empregos a partir de 2018. A intensificação dos investimentos dependerá da manutenção da confiança dos investidores na saúde fiscal do Brasil, assim como de uma transição democrática nas eleições majoritárias de 2018 que assegure regras de jogo transparentes e em prol de um sadio ambiente de negócios.”
David Laloum, presidente da Y&R
As reformas são um primeiro passo para o país se fortalecer, assim como os ajustes das contas públicas e o controle do endividamento público. Esta trajetória de busca pelo reequilíbrio ainda levará alguns anos e a mudança deverá se estender para outros temas, como o sistema tributário por exemplo. O Brasil está aprendendo que não existem fórmulas mágicas para recuperação da economia, para políticas distributivas de renda ou para o resgate da confiança dos investidores se estas não estiverem alicerçadas em bases concretas.
Ainda é cedo para afirmar, mas o crescimento do Brasil tem tudo para se sustentar, se não colidirmos, é claro, com o agravamento da crise política nacional ou uma crise internacional. Obviamente, que teremos padrões de crescimento mais razoáveis, se comparados aos índices alcançados nos anos anteriores a crise. Mas, estou muito otimista com a possibilidade de o país, pós-recessão e reformas, ter um governo com condições mais adequadas para exercer suas funções, investindo em infraestrutura e produtividade. E sobretudo se distanciar dos temores relativos à nossa solvência, voltando a atrair investidores, a gerar emprego e a estimular o consumo.
Os investimentos já estão voltando, pelo que temos acompanhado em alguns setores da economia como a importação de bens intermediários, a venda de papelão, a produção da indústria nacional e das empresas estrangeiras, por exemplo. Certamente que o crescimento está em um ritmo muito lento, mas, o importante é que já se tornou visível. Uma balança comercial com superávit, previsão da taxa básica de juros menores e, até o fim do ano, queda da inflação no centro da meta, para quem estava enfrentando a pior recessão da sua história, são boas notícias. Os consumidores também estão mais confiantes, e há boas razões para se acreditar em uma clara retomada do crescimento sustentável. Mas, para isso temos ainda temos que superar grandes desafios como sobreviver à crise política e conseguir finalizar a aprovação das reformas que estão em curso.”
João Carlos Brega, CEO da Whirlpool S.A.
“Vivemos uma fase de transição, na política e na economia, com impacto direto na vida de todos os brasileiros. Vejo que a economia tocou o chão e agora a situação está ‘se acomodando’ e a melhoria virá em diferentes velocidades para cada setor. Mas para isto, estamos confiantes na aprovação das reformas e no resultado que irão trazer. Sem elas poríamos a perder o esforço destes últimos anos. A reforma da Previdência é fundamental para assegurar a viabilidade financeira do país e não apenas a do governo. Já a reforma trabalhista tem que trazer a modernidade necessária para uma legislação com mais de 70 anos, assim como segurança jurídica para ambos os lados.
A recuperação será resultado de ações conjuntas, concretas, ágeis e corajosas.
Em paralelo ainda há grandes oportunidades para eliminar entraves burocráticos, tributários e portuários. Temos condições plenas de simplificar as exportações, principalmente o que pode gerar mais demandas e melhorias para as indústrias no curto prazo.
O grande desafio está em como fazer todos os ajustes imprescindíveis — o que inclui apertar o cinto das contas públicas, simplificar as relações e retomar os investimentos públicos — para atender às demandas de um Brasil mais competitivo, unindo governo, empresariado e trabalhadores por um cenário mais seguro e confiante.
A situação já exigiu que as empresas direcionassem atenção para o aumento na produtividade interna, na excelência operacional e no investimento em novos processos e tecnologias. Diante disso, continuamos com o mesmo investimento em produtos e marcas, 3% a 4% do nosso faturamento, e temos certeza que o pior já passou.”
Tania Cosentino, presidente da Schneider Electric na América do Sul
“Estou no mercado elétrico há 30 anos, e já vi muitas crises econômicas ao longo desses anos. Realmente, acredito que chegamos no fundo do poço e que existe, sim, uma expectativa de melhora. Já percebemos alguns sinais que confirmam isso. É importante frisar que a Schneider Electric está no Brasil há 70 anos e temos um projeto de longo prazo no país, o que nos confere certa resiliência, independentemente de turbulências internas. Adaptamos a estratégia do negócio à realidade econômica e política do país onde estamos presentes. Vejo, portanto, o mercado brasileiro com certo otimismo devido ao tamanho da população, sua demografia, pela necessidade de melhoria na infraestrutura, sua eficiência na agroindústria, pela necessidade de fazermos a transição para uma economia de baixo carbono.
Fico entristecida e envergonhada com essa crise que enfrentamos hoje, falo da crise moral, mas realmente espero que esse escândalo de corrupção permita o resgate dos valores de nossa sociedade, para a construção de um novo país sobre uma base mais sólida. Quero fazer parte dessa reconstrução! Não podemos desperdiçar todo o aprendizado que esta crise está nos oferecendo. Vejo que o governo está tentando fazer o melhor possível, dentro de um ambiente muito conturbado.
Sou a favor das reformas, o governo precisa equalizar suas contas e reforçar a gestão, da mesma forma como nós, executivos, fazemos com nossas empresas. A corrupção e a má gestão pública estão destruindo nossa capacidade de gerar riqueza, empobrecendo a população, desviando investimentos para outros países e corroendo todo ganho de produtividade que temos em diversos setores. Temos também que levar em conta que, o mundo se transforma em uma velocidade brutal e estamos atrelados a leis jurássicas. Reformas que tragam flexibilidade, simplicidade, reduzam a burocracia, equilibrem nossas contas são mais do que bem vindas. Como resultado, o país voltaria a crescer e com isso aumentaria a arrecadação do próprio governo. A palavra de ordem no governo deveria ser ‘eficiência’ para garantir o desenvolvimento sustentável do nosso país.”
José Galló, presidente da Renner
“Iniciamos o ano com três grandes objetivos no país: a PEC do controle de gastos, a flexibilização da legislação trabalhista (não chamo de reforma) e a questão da Previdência. A velocidade com que foi aprovada a PEC dos gastos e a força que o governo demonstrou naquele momento deu um grande ânimo, tanto para empresários e investidores no Brasil quanto para o pessoal lá de fora. Não é por outro motivo que estão entrando recursos no país, o mercado acionário está respondendo positivamente. É verdade que os prazos imaginados [para aprovação dessas medidas] se estenderam, mas mesmo assim ainda permanece uma razoável confiança de que as coisas vão acontecer.
A economia, de uma forma geral, parou de cair, e já há setores que começam a ver uma retomada. A máquina começa a girar. Com as medidas aprovadas, haverá ânimo para mais investimentos, depois vem a retomada do nível de emprego, o aumento da massa salarial e a coisa anda. Nós temos tudo para ter um final de ano feliz a partir da aprovação dessas reformas. Uma delas já foi. Me parece que a flexibilização das leis do trabalho está andando mais rápido que a reforma da Previdência. Se essa flexibilização for aprovada, já será um ganho importante.
Por outro lado, outro motor da economia é o investimento em infraestrutura. Estamos em estado semi-lamentável nesse quesito e sabemos que a maior parte das empresas que poderia investir nisso está envolvida na Lava-Jato. Leva um certo tempo para recompor, para que sejam formados consórcios de empresas menores para tocarem obras. O investimento em infra-estrutura seria o grande caminho para acelerar a retomada do crescimento do país.
A gente precisa passar pela Lava-Jato, é uma depuração. Sou totalmente favorável à operação, mas seria bom que as coisas se acelerassem. Acho que há uma boa consciência do Judiciário nesse sentido. Com a solução dessa questão — que eu sei que é complexa — e a aprovação das reformas, ninguém segura o Brasil.
Claudia Sender, presidente da Latam Brasil
“2016 foi o primeiro ano em que vimos, após muito tempo, uma retração contundente da demanda no setor aéreo brasileiro. Já em 2017, ainda não estamos observando uma retomada consistente desta demanda. Nossa expectativa para o ano era que conseguiríamos fazer os ajustes de custos necessários para retomar a sustentabilidade da aviação. Parte do ajuste viria da cobrança de bagagem. Isto traria ajuste na demanda, porque permitiria segmentar preços e atrair mais consumidores que podem viajar de avião se for possível pagar menos.
As reformas são importantes para solucionar problemas estruturais do Brasil, mas, para retomar uma agenda de infraestrutura e competitividade, é preciso uma mudança de pensamento do país. Precisamos desenvolver projetos com regras claras e robustas, segurança jurídica, retorno atraente aos investidores de forma a competir em pé de igualdade com projetos em outros países com maior estabilidade.
O que pode atrair novamente o investimento estrangeiro para o Brasil e gerar um novo ciclo de desenvolvimento do país é a segurança jurídica e a geração de reais ganhos de produtividade e competitividade. Sem regras claras, ninguém vai se arriscar a investir a fundo perdido.
Além disso, precisamos que as reformas em curso, como a trabalhista por exemplo, propiciem oportunidades para que o Brasil alcance níveis de produtividade comparáveis a outros países. Não está sendo praticado no transporte aéreo brasileiro o mesmo patamar de custos e de regras do resto do mundo, onde as empresas teriam custos mais parametrizados. Essas distorções e a falta de clareza nas regras dificultam no Brasil o desenvolvimento do setor aéreo que, por natureza, necessita de capital intensivo para evoluir.
Meyer Nigri, diretor presidente da Tecnisa
“O Brasil ainda precisa de muitas reformas. O processo começa pela Previdência, depois temos a trabalhista, a fiscal e a tributária. À medida que cada uma é aprovada, vai melhorando o cenário, mas uma questão que considero muito importante é a da taxa de juros. Os juros estão caindo, mas a queda precisa ser maior do que vem ocorrendo. O desemprego está gigantesco; os investidores só voltarão ao mercado e a economia irá andar quando a taxa de juros cair.
Para vendermos imóveis, o cliente precisa ter emprego e financiamento. Existe financiamento, mas ele precisa ter emprego, pois então paga a prestação e compra o imóvel. À medida que a taxa de juros cai, diminui o valor da prestação, fica mais fácil adquirir um imóvel, e mais gente compra. Diminuindo a taxa de juros, a economia melhora, voltam as contratações, diminui o desemprego e melhora o mercado. Acho que estamos indo na direção certa, o problema é a velocidade. Na economia, já há um pouquinho de investimento, mas será com juros caindo que investimentos ficarão mais pesados.
O mercado imobiliário vai melhorar bem com a queda dos juros, mas a insegurança jurídica continua. Enquanto não houver regulamentação dos distratos que proteja um pouquinho mais o incorporador, existirá muita restrição, principalmente, por parte do investidor externo.
No mundo inteiro, o cliente perde tudo em caso de distratos e, na maioria dos países, ainda precisa indenizar o vendedor do prejuízo que provoca. Na minha opinião, um contrato fechado entre as partes deveria ser irrevogável e irretratável. Não deveria haver essa opção de um lado só, o do comprador, de ter o distrato. Se fosse para ter essa opção, deveria haver para os dois lados para ficar equilibrada, com o vendedor tendo o mesmo direito.
Artur Grynbaum – presidente do grupo O Boticário
Acredito que sairemos da recessão de uma maneira ou de outra, porque não existem ciclos negativos tão longos no país. Espero ares melhores pela frente. Acredito que as reformas da Previdência e a trabalhista são essenciais e com elas ganharemos muitos pontos em competitividade. Após as reformas eu acredito que alcançaremos uma recuperação mais rápida, porque vamos tratar do que é primordial para o país, que é a geração de emprego e de oportunidade para as pessoas poderem ter uma vida melhor. A maneira que eu vejo de solucionar o atual momento é por meio de oportunidades de emprego, devolvendo não só um salário, mas dignidade às pessoas e às famílias. É essa a receita em que eu acredito.
No caso do grupo O Boticário, os investimentos nunca pararam. Em 2008, auge da crise mundial, tivemos o maior investimento da história da empresa até então, o que mostra que temos um olhar um pouco diferente. De modo geral, os investimentos voltarão assim que as empresas tiverem uma sinalização de que as reformas serão feitas e de que a forma de gerir o país está mudando. O Brasil é visto como mercado extremamente interessante do ponto de vista de negócios e consumo, porém as regras precisam ser um pouco melhor definidas e essas passagens que precisamos fazer, essas pontes que são as reformas, têm de sair, para que o empresariado tenha confiança de fazer apostas de longo prazo. Investimentos são pensados para o longo prazo e, para isso, é necessário ter as condições adequadas para não apenas ter o retorno, mas manter o crescimento das operações no país.