IEDI na Imprensa - Ajuda do setor externo deve ser menor em 2017
Valor Econômico
Marta Watanabe
Depois de dois anos contribuindo para amenizar a queda do Produto Interno Bruto (PIB), o setor externo deve manter a ajuda em 2017, mas de forma menos relevante, dizem analistas. A ajuda que os preços das commodities devem dar para os embarques pode não ser suficiente para compensar o impacto da valorização do real frente ao dólar nas exportações e nem as importações, que tendem a aumentar. Para alguns analistas a contribuição projetada hoje fica próxima de zero e tende a migrar para o terreno negativo.
"A contribuição do setor externo em 2017 será menor e tende a ser negativa", diz Livio Ribeiro, pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre/FGV).
Ele destaca que provavelmente o ano terminará com resultados financeiros favoráveis na balança, porque o Brasil é exportador líquido de commodities. Mas a riqueza gerada com os embarques, diz, tende a elevar as importações. A contribuição para o PIB é em termos de volume, explica Ribeiro, e o cenário favorecerá um aumento em volume de importações proporcionalmente maior que o aumento no volume de exportações para este ano.
A evolução do setor externo no último trimestre do ano passado, diz Ribeiro, já aponta para isso. De outubro a dezembro de 2016 as exportações dentro do PIB caíram 1,8%, com resultado pior que a média estimada por economistas do ValorData, de queda de 1,5%. As importações surpreenderam mais ainda, com alta de 3,2% ante o terceiro trimestre, também com ajuste sazonal. O resultado veio bem acima da projeção, que apontava aumento de 0,5%.
Rafael Cagnin, economista do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), é um pouco mais otimista. Ele estima que a contribuição do setor externo para o PIB de 2017 será positiva, porém acompanhando a tendência cadente. Em 2015, lembra ele, o setor contribuiu de forma positiva com 2,6 pontos percentuais para o total da riqueza produzida no país. No ano passado essa ajuda foi positiva ainda, mas caiu para 1,7 ponto percentual.
Além dos termos de troca, Ribeiro destaca outros fatores que devem atuar para mudar o papel do setor externo no PIB. Um deles é o diferencial de crescimento da demanda doméstica e do crescimento mundial. Os dados iniciais, diz Ribeiro, sugerem que o comércio internacional deve continuar andando pouco este ano sendo que a absorção doméstica tende a aumentar. Com isso, explica, naturalmente a contribuição do setor externo entre os componentes da demanda agregada tende a cair.
O outro fator importante é o câmbio real, que vem apreciando bastante por conta da valorização do câmbio nominal e também porque apesar de estar mais baixa este ano, a inflação brasileira é ainda mais alta que a dos grandes parceiros comerciais.
"O diferencial de crescimento entre demanda interna e comércio mundial e também o câmbio real atuam negativamente. E o comportamento dos termos de troca não compensam isso", diz Ribeiro. Por isso, conclui ele, a contribuição do setor externo provavelmente será menor este ano, com tendência a ser negativa, mudando a evolução mostrada em 2016 e 2015, quando o setor ajudou mais o PIB.
Para Cagnin, o ponto positivo no cenário de 2017 são as commodities, caso os preços se mantenham em níveis elevados, não só como fator para puxar volume de embarques como também reflexo de uma maior dinamismo do comércio internacional.
Esse movimento de preço das commodities, porém, diz Cagnin, gera pressão para a valorização do câmbio, que, embora volátil, já começa o ano com tendência de apreciação em relação ao dólar. Essa evolução do câmbio, diz, reduz um fator que poderia contribuir de forma mais positiva para a recuperação de bens industriais. O economista do Iedi ressalta ainda que o movimento de alta de preços de commodities que favorece embarques do setor extrativista e agropecuário não compensa a perda de exportação do setor industrial. "Porque o setor agrícola e o extrativista têm menor efeito de encadeamento para o dinamismo do resto da economia enquanto uma exportação maior da indústria de manufaturados teria capacidade de puxar o restante da economia.
Ao mesmo tempo, diz ele, a expectativa é de que as importações ao menos iniciem uma reação, depois de quedas significativas em 2015 e 2016. A demanda interna, lembra ele, tem grande elasticidade em relação ao crescimento do PIB, o que estimula a importação de bens de consumo e de insumos industriais, já favorecidos pelo câmbio mais valorizado. Nos anos anteriores, explica Cagnin, a forte queda das importações deu mais força para a contribuição do setor externo. Em 2016 as exportações subiram 1,9% e as importações caíram 10,3%. No ano anterior as exportações avançaram 6,3%, mas os desembarques recuaram 14,1%.
O economista Fabio Silveira, sócio da MacroSector Consultores, também acredita numa contribuição positiva do setor externo. Para Silveira, devem favorecer as exportações os preços das commodities, que contribuem para puxar o volume de embarques, a supersafra de grãos como soja e milho e também o câmbio, que embora mais valorizado, ainda possibilita os embarques de alguns setores, como o automotivo. Ao mesmo tempo, diz ele, as importações devem caminhar devagar ainda como reflexo da fraca demanda interna.
A MacroSector projeta para o primeiro trimestre de 2017 crescimento de 0,1% do PIB em relação ao trimestre anterior. No mesmo período, as exportações dentro do PIB devem subir 2,3% e as importações, cair 0,3%.