IEDI na Imprensa - Exportação de manufaturados sobe 8% em 2016
Valor Econômico
Marta Watanabe
O volume exportado de industrializados iniciou recuperação em 2016. No ano, a quantidade embarcada em manufaturados cresceu 8% enquanto a de semimanufaturados aumentou em 9,5% contra 2015. Um desempenho importante, que conseguiu amenizar o impacto negativo da queda de 3,1% no quantum exportado de básicos. No total de todos os grandes grupos de produtos, a quantidade embarcada subiu 2,9%.
A queda de preços, porém, tanto em básicos quanto em industrializados, acabou neutralizando boa parte da elevação de volume. Com queda de 6,2% nos preços médios do total embarcado, a receita de exportação total caiu 3,5% no ano passado na comparação com 2015. No grupo dos industrializados, mesmo com queda de preços - 3,9% para semimanufaturados e 5,9% para manufaturados -, o valor exportado cresceu 2,3%, segundo o Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços (Mdic).
Abrão Neto, secretário de Comércio Exterior do Mdic, destaca que, com o desempenho, os industrializados alcançaram fatia de 55% do total exportado no ano passado, melhor resultado desde 2009, quando a participação foi de 57,4%. A venda de manufaturados cresceu em valor e volume para destinos como Estados Unidos, Argentina e para Aliança do Pacífico (México, Chile, Colômbia e Peru).
Para os americanos, a exportação de manufaturados cresceu 2,5% em valor e 5,2% em quantidade em 2016 contra o ano anterior. Entre os destaques nos embarques de manufaturados para os EUA estão os aviões, cuja exportação somou US$ 2,9 bilhões no ano passado, com alta de 4,9% em valor e correspondente a crescimento de 15,6% em quantum.
Para a Argentina, os embarques avançaram 5,1% em valor e 17,4% em quantidade. A exportação de manufaturados foi puxada por automóveis de passageiros - total de US$ 3,36 bilhões -, com expansão de 31,6% em valor e 42,6% em volume. Os veículos de carga também tiveram impacto importante ao somar US$ 1,18 bilhão em embarques para a Argentina e cresceram pouco mais de 50% tanto em valor quanto em quantidade, sempre na comparação com 2015.
Para este ano, diz Abrão Neto, a expectativa é que os manufaturados mantenham a contribuição positiva para a balança. "As exportações devem continuar a ter desempenho positivo por conta do crescimento esperado este ano tanto da economia quanto do comércio mundial", diz o secretário.
Abrão Neto lembra que o PIB mundial, segundo previsão do FMI, deve crescer 3,4% este ano. O comércio internacional, de acordo com a Organização Mundial do Comércio (OMC), deve avançar entre 1,8% e 3,1%. A Argentina, destaca ele, importante destino para os manufaturados, deve crescer entre 2,2% e 2,7%, segundo a OMC.
Rafael Cagnin, economista do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), concorda que os manufaturados deram importante contribuição para a balança em 2016, mas avalia que a recuperação foi pequena. Ele aponta que, mesmo com o crescimento, o valor exportado em manufaturados foi de US$ 73,93 bilhões em 2016, resultado abaixo dos US$ 80,2 bilhões de 2014, ou dos US$ 92,3 bilhões de 2011. "A fatia de manufaturados ficou em 39,9% na exportação do ano passado, mas já chegou a 60%."
Outra questão importante, destaca Cagnin, é a pauta exportadora restrita. Tirando aviões, veículos de passeio ou de carga e equipamentos agrícolas, diz o economista, os demais manufaturados que se sobressaíram nas exportações no ano passado são basicamente produtos intermediários ligados à indústria petrolífera ou de segmentos relacionados a recursos naturais, o que revela ainda a dificuldade brasileira de participar das cadeias de produção global nos elos de maior valor agregado.
Os números mostram, diz Cagnin, que em termos de produção industrial a exportação é um complemento do mercado doméstico. "O bom desempenho do setor automobilístico em alguns destinos mostra o esforço em ocupar a capacidade interna ociosa."
A queda de preços que neutralizou boa parte do esforço no volume de exportação, diz Cagnin, é um reflexo do grau de urgência da indústria em ocupar a capacidade ociosa. "Isso conduziu a uma agressividade estratégica comercial, com descontos nos preços de venda para o mercado externo."
Nesse ponto, porém, a volatilidade do câmbio no ano passado prejudicou o exportador e deve ser um novo desafio em 2017, principalmente, avalia, por fatores externos, como a expectativa em torno da gestão do presidente eleito nos EUA, Donald Trump, o posicionamento da China e as repercussões dos conflitos na Síria, entre outros.
Cagnin chama a atenção para o desempenho ainda fraco da economia europeia e, nos EUA, da dificuldade em romper o comércio intracompanhia das empresas americanas que possuem subsidiárias na China.
José Augusto de Castro, presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), projeta para este ano uma taxa cambial média de R$ 3,30. Com esse nível de câmbio, diz Castro, o impacto sobre a competitividade das exportações de manufaturados este ano será limitado e a América do Sul deve continuar a ser o principal mercado para os manufaturados brasileiros.
Mesmo com perspectivas favoráveis de destinos importantes como Argentina, diz Castro, a projeção da AEB para o valor exportado de manufaturados este ano é de redução de 1,1%. Ele lembra que no, ano passado, a exportação desse grupo de bens contou com a ajuda das plataformas de petróleo, que somaram US$ 3,65 bilhões em 2016, contra US$ 1,9 bilhão no ano anterior.
A perda de ímpeto das exportações, diz ele, ficou evidente também no número de empresas exportadoras, que até agosto do ano passado cresceu em ritmo maior que o de 2015, na comparação mensal.
Embora o número de empresas exportadoras em 2016 (22.204) tenha superado o de 2015 (20.322), a partir de setembro do ano passado o crescimento desacelerou. Nos últimos quatro meses do ano passado. o número de novas exportadoras foi menor na comparação mensal, sempre contra igual período de 2015.