IEDI na Imprensa - 2017 será o ano do estancamento da queda da indústria, dizem economistas
O Globo
Afirmam, no entanto, que ainda não é possível falar em recuperação
Daiane Costa e Lucianne Carneiro
A indústria registrou em 2016 o terceiro ano seguido de retração, com a produção encolhendo 16,9% no período, mas demonstrou ao final do ano uma redução do ritmo de queda, em linha com as expectativas de especialistas, que esperam um estancamento da crise do setor em 2017. Em dezembro, a indústria recuou apenas 0,1% em relação ao mesmo mês do ano passado. É a 34º taxa negativa consecutiva nessa comparação, mas a menos intensa da sequência. Em novembro, já tinha recuado apenas 1,2%, enquanto que, de janeiro a outubro, o ritmo de queda foi bem mais intenso, com a produção caindo, em média, 7,7% ao mês nessa comparação, de acordo com a consultoria Tendências.
- Conseguimos enxergar em novembro e dezembro uma melhora no ritmo dequeda da indústria. Mas é preciso ponderar que essas duas quedas mais brandas se deram sobre uma base de comparação muito depreciada, porque novembro e dezembro de 2015 foram dois meses que os resultados do setor sofreram por conta do desastre da Samarco e da greve dos petroleiros - diz Thiago Xavier, economista da Tendências, que apesar da ponderação projeta um crescimento de 2,2% para a produção industrial do setor em 2017.
Uma melhora que, segundo a Confederação Nacional das Indústrias, deve aparecer no segundo semestre do ano.
- Esses dois resultados menos ruins do fim do ano não indicam uma retomada em curso nesse momento. Mas o ritmo de queda vem reduzindo e o quadro de emprego do setor já apresentou um crescimento em dezembro, mas para qualquer número da indústria que você olhe, está num patamar muito baixo. Nossa expectativa é que a crise seja estancada esse ano, mas isso vai fica mais claro no segundo semestre, quando espera-se que a economia já tenha reagido - avalia Marcelo Azevedo, economista da CNI.
Pelas projeções da CNI, depois de três anos de queda, o PIB do setor deve crescer 1,3% este ano, puxado principalmente por segmentos que não dependem tanto da renda, que encolheu nos últimos dois anos, como alimentos e têxteis.
- Temos a favor do setor as trajetórias de queda da inflação e juros, que podem trazer mais segurança aos consumidores para voltar a comprar e aos empresários para produzirem e fazer investimentos. Mas a possibilidade de novas turbulências políticas, que ajudaram a derrubar a indústrias nos últimos dois anos, são um risco a esse cenário mais positivo - pondera Azevedo.
André Macedo, gerente de Indústria do IBGE, lembra que a base de comparação baixa, a queda de 6,6% registrada pelo setor em 2016, joga a favor do resultado deste ano, mas está longe de defini-lo:
- Quando minha base de comparação é muito baixa, qualquer movimento de melhora vai jogar esse resultado para um lado positivo. Agora, tudo depende da conjuntura econômica, de como a produção industrial vai caminhar ao longo do ano, das soluções das incertezas, seja pelo lado dos empresários ou das famílias.
Considerando as quedas acumuladas nos últimos três anos, os números são bastante negativos e impossíveis de serem revertidos em 2017. Nesse período, as quatro grandes categorias do setor registraram quedas de dois dígitos, sendo que dois deles chegaram a quase 40% (bens de capital caíram 39,8% e bens duráveis 36,8%), enquanto bens intermediários caiu 13,3% e semi e não duráveis 10,3%.
Para o economista do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (IEDI), Rafael Cagnin, ainda há muitas incertezas, tanto no cenário internacional quanto no doméstico:
- 2016 foi o ano de moderação da queda da indústria, embora muito aquém do desejado. 2017 deve ser o ano do estancamento. A taxa deve ser positiva, mas não deve ser grande. Frente a três anos de perdas, teremos um flerte com a estabilidade, com boa chance de taxa positiva. Mas não dá para falar em recuperação, não é nada perto de anular a queda dos últimos anos.
Ele classifica o último triênio como a crise mais grave da indústria, que foi uma combinação de “um derretimento do mercado doméstico” com um “um cenário externo extremamente adverso”. Agora, o processo de redução das taxas de juros da economia deve ajudar nesta reação da indústria, que favorece o desempenho de setores ligados a bens de capital e bens de consumo duráveis.
— Há uma relação estreita entre o dinamismo do setor industrial e a evolução dos juros. Taxas mais baixas favorecem a venda de produtos industriais que exigem algum tipo de financiamento — explica.
Mas ainda há incertezas, segundo ele, especialmente no mercado externo, com medidas do governo Donald Trump, que podem afetar o desempenho do comércio internacional.